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A fé e a alegria primordial

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Rômulo Cyríaco - publicado em 21/06/16

"A fé não é criada pelo homem" (Papa Bento XVI)

Não raras vezes, seres humanos pensam erroneamente sobre a fé – a fé que querem inventar como homens, sem perceber que “a fé não é criada pelo homem” (Papa Bento XVI), isto é, que a fé vem de fora, vem de Deus… Então, concebem como se o movimento da fé fosse desejar algo específico, um bem, um acontecimento, algo de material, e obter exatamente isso.

No momento em que pensam assim, confundem a fé com ideias como o “poder da mente”, “leis da atração”, ou similares… Como se a fé fosse uma questão de vontade, de forçar energia voluntária sobre alguma coisa, para atrair essa coisa a partir de alguma força obscura que, então, acreditam poder manipular… Pensam em Deus como sendo um provedor de seus desejos materiais, com quem dialogam apenas quando querem alguma coisa específica…

Mas não é este o nosso Criador: Deus não responde às manipulações do homem, mesmo as que são aparentemente “espirituais”, pois Deus conhece toda a profundidade do espírito. Ignora, este homem que se confunde sobre a fé, que o senso de ser apascentado como ovelha do rebanho divino, de aceitar o Senhor como o Pastor e segui-Lo, é o de entregar-se aos Seus desejos sobre nós, e não aos nossos desejos sobre Ele. Nesse sentido, é deixar-se manipular por Ele, conhecendo então a grande sorte espiritual (a segurança vital) de que Deus não conhece a manipulação maliciosa do mundo humano regido pelo pecado, pela separação e pela distorção: Deus nos manipula apenas de acordo com a Verdade, pois Deus é a Verdade.

Deus nos conduz ao reencontro com a vida verdadeira que se escondia em nós, quando, anteriormente, tomados pela mentira, ainda a manipulávamos. Seguindo o caminho de Deus, reconhecemos que parar de manipular a vida, com mentira e malícia, é entregar a vida à verdade, pois é à Verdade que Deus, o Pastor, conduz suas ovelhas, e a fé é o que liga as ovelhas ao Pastor, que reencaminha os homens a Deus.

Sem a fé, o caminho se obscurece, nos perdemos, nos desviamos, nos separamos da vida, ou seguimos rotas de engano, rotas fadadas ao fracasso, pois são as rotas daqueles que esqueceram – que não sabem mais ver o caminho onde está – o Pastor, o Criador que é a fonte da água da vida, e então se dedicam à manutenção de cisternas quebradas que não seguram nenhuma água, como anunciou o profeta Jeremias.

A verdadeira fé, portanto, é uma disposição integral de espírito, um modo de viver e de doar-se à vida; uma fé que vem de Deus, e que entra caso você queira ser preenchido por ela, e o principal fruto que ela traz e gera é… mais fé.

Ainda mais fé!

É como a vida, que gera mais vida, que se multiplica enquanto Vida.

A fé se multiplica enquanto fé…

E o que ela traz, também, quando se multiplica em nós como fé, é uma indescritível e profunda alegria espiritual, uma alegria que não tem objeto – que não é por ter conseguido essa ou aquela conquista material, mesmo que conquistas materiais possam haver e sejam bem-vindas – mas a alegria por ter encontrado, reconhecido e sentido a Presença da única fonte de todas as genuínas alegrias: Deus, a fonte das águas da vida.

Viver é também se alegrar por estar vivo: este alegrar-se faz parte da própria existência da vida e de seus movimentos intrínsecos, da fonte divina. A alegria por sentir-se vivo, e por sentir-se purificado pela própria vida, este é o sentido da vida. Sentir a vida, em sua presença integral, preenchida do Santo Espírito, dispensa qualquer interrogação intelectual e filosófica sobre o sentido da vida. A vida só não tem mais sentido, esvazia-se dele, e demanda uma investigação sobre isso, quando não pode mais ser sentida em si mesma. Mas quando é sentida como vida viva, não separada de si mesma, nos faz conhecer Deus diretamente, Aquele de quem a Vida é um dom, e somos de novo preenchidos por sua Alegria primordial. Quão alegre Deus deve ter sentido a Si Mesmo quando criou a Vida! Tentem imaginar essa Alegria, a Alegria da Criação!

Quando recebemos a bênção de acessar um pedaço sequer dessa Alegria, que aparece e nos visita quando temos proximidade com Deus, O obedecemos e reconhecemos a nossa criaturalidade; que nos chega com a genuína fé, e a fé então se multiplica em nós como mais fé – como uma nascente aberta, fazendo fluir o dom inesgotável do Deus Vivo – podemos entender as fortíssimas emoções que sentia o Rei Davi, quando dançava, compunha e cantava seus Salmos em adoração ao seu Senhor.

“Ó, Senhor, como são grandes os seus trabalhos, e seus pensamentos são muito profundos” (Salmo 92,5).

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