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Pare de dizer que você está velho demais para fazer isso

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Aleteia Brasil - publicado em 03/07/16

Tentaram te ensinar uma obsessão pela juventude? Então, que tal voltar a perceber o quão longa e interessante a vida realmente é?

Por Nicole Pajer*

Como uma mulher na casa dos 30 anos, eu já cansei de ouvir pessoas com a mesma idade usarem a expressão “estou velha(o) demais”. Eu tenho um amigo em particular que é “velho demais” para ir a um concerto, “velho demais” para ver um filme depois das 21h e “velho demais” para vestir certas roupas. Aparentemente esta mentalidade tem se infiltrado nessa geração do milênio. Um refrão comum entre as pessoas de vinte e poucos anos em festas de aniversário ou enquanto relembram o ensino médio ou os anos de faculdade é: “sstamos tão velhos”.

Claro, muitas destas frases são ditas com um pouco de ironia ou humor, mas a verdadeira ironia é que essas frases estão se tornando moda numa época em que os seres humanos estão vivendo mais tempo do que nunca. Alguém poderia argumentar que também significa que estamos todos mais jovens do que nunca: se você vive até os 100, a faixa etária entre 30 e 40 anos já não é realmente “meia-idade”. Portanto, se você tem vinte e poucos e já está reclamando que é “velho”, o que pensará sobre seus 70 ou mesmo 80 e poucos anos restantes?

Não é a sua idade, é a sua “perspectiva de tempo de vida”

De acordo com Galit Nimrod, professora associada do Department of Communication Studies e pesquisadora no Center for Multidisciplinary Research in Aging na Ben-Gurion University, Israel, esta tendência tem menos a ver com a idade real de alguém e mais a ver com o que ela chama de ‘perspectiva de tempo de vida’. “A sensação de que ‘eu sou velho demais para isso’ geralmente não tem nada a ver com a condição física de uma pessoa, mas com sua fase de vida e suas percepções do que é esperado dela nessa fase”, explica ela.

Por exemplo, em alguns países, frequentar boates é somente para jovens e solteiros. Por isso muitos indivíduos casados param esta atividade, embora eles ainda sejam muito capazes de dançar e se divertir. “Eles podem dizer ‘eu sou velho demais para isso’, mas o que eles realmente querem dizer é que eles ‘mudaram’”, acrescenta Nimrod.

Felizmente para aqueles irritados com este lamento, isso é uma mentalidade (e desculpa) que os especialistas sobre o envelhecimento acreditam que seja infundada. Nos últimos anos, várias mudanças culturais e tecnológicas começaram a agitar as coisas. Muitas pessoas ainda estão namorando depois dos 40 ou ficam solteiras em idade mais avançada. “Consequentemente, a vida das pessoas é muito mais diversificada e cada vez menos vemos indivíduos fazendo o que eles estariam ‘programados’ a fazer na sua idade”, diz Nimrod, que acrescenta que idade e estágio de vida são fatores que não restringem as pessoas a participar de várias atividades. “Nós agora vemos pessoas com quarenta anos em parques e indivíduos com 60 ou mais viajando para o Himalaia”, explica ela.

Mas, mesmo que alguns tenham o prazer irônico de anunciar que  são “velhos demais”, este conceito de envelhecimento precoce, por sorte, não parece estar barrando muitos de nós de assumir riscos e nos reinventar mais tarde na vida. Na verdade, falei com várias mulheres que estão vivendo a prova de que, mesmo se você não fez isso em seus 20 anos, você ainda tem tempo de sobra.

Aos 50 anos, Lynn Tejada sofreu uma oscilação no seu negócio de 22 anos e teve que mudar. “Eu pensei, ‘por que não?’”, explica. “Essa experiência me ensinou muitas coisas, e eu recomendo experimentar perspectivas diferentes, não importa a idade”, diz ela.

Aos 46 anos, Eaddy Sutton, que assumiu muitos hobbies nos últimos anos, considera a idade realmente apenas um número. “O segredo [ninguém fala] é que a maioria das pessoas continua seguindo novas paixões por toda a vida – nós somos apenas uma cultura obcecada pela juventude e deixamos de notar quão longa e interessante a vida realmente é”.

Quando tinha 30 anos, Liane Yvkoff, agora com 39, deixou sua carreira em tecnologia para seguir a paixão de se tornar escritora. “Eu não fui para a escola de jornalismo, não tive contatos e tenho pouca experiência”, explica ela. “É difícil competir com escritores melhores e mais jovens, mas eu ainda quero fazer disso uma carreira”.

Aos 48 anos, Bernadette Murphy aprendeu a andar de moto, fez uma viagem de bicicleta, mudou-se por três meses para a Polinésia Francesa, aprendeu a mergulhar e escalou no gelo. “Eu estou vivendo mais completamente hoje do que quando eu tinha meus 20 e 30 anos, porque eu aprendi a assumir riscos e tenho menos medo”, ela explica. “Eu já tinha experiência suficiente para saber que posso lidar com o que vem – e isso é o real benefício da idade”.

“Eu comecei a tecer há dois anos, em uma classe cheia de outras mulheres tecelãs”, diz a escritora de 59 anos, Molly Moynahan. “Foi uma das melhores coisas que aconteceu, aprender uma nova habilidade e tirar o foco da escrita”.

Há oito anos, Naomi Eisenberger, que se descreve como “muito jovem aos 70”, fundou o Good People Fund, uma “micro” organização sem fins lucrativos que ajuda os outros a fazer o bem em suas próprias comunidades. Até hoje ela levantou e concedeu mais de US$ 7 milhões para a organização.

Claire Handscombe começou a fazer balé aos 30 anos; Jill Morley, 50, começou no boxe quando tinha 40 e ganhou Luvas de Ouro Nacional na Master’s Division; Joan Anderman se tornou uma cantora de punk rock com 50 anos, e B. Lynn Goodwin esperou até os 62 para se casar pela primeira vez!

À medida que mais e mais pessoas assumem novos hobbies, carreiras e interesses mais tarde na vida, só podemos esperar que a desculpa de ser velho demais para participar de uma atividade específica irá desaparecer.

“Eu acredito que com o tempo vamos testemunhar mais desses fenômenos e veremos uma maior aceitação dos comportamentos com relação à idade”, explica Nimrod. Portanto, se uma mulher de 70 anos está ajudando a vida de milhares de pessoas através de sua organização sem fins lucrativos e uma mulher com quase 50 anos aprendeu a andar de moto, por que você está dizendo que você é velho demais para ir a um concerto musical na sexta à noite?

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*Nicole Pajer é escritora freelancer do The New York Times, Woman’s Day, Men’s Journal, Hemispheres e Rolling Stone. Ela vive em Los Angeles com o marido.

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