“O caminho da Cruz não é sadomasoquista, o caminho da Cruz é o único que vence o pecado, o mal e a morte”Por Andrea Tornielli
“Onde está Deus? Onde está Deus, se no mundo existe o mal, se há pessoas famintas, sedentas, sem abrigo, deslocadas, refugiadas? Onde está Deus, quando morrem pessoas inocentes por causa da violência, do terrorismo, das guerras? Onde está Deus, quando doenças cruéis rompem laços de vida e de afeto? Ou quando as crianças são exploradas, humilhadas, e sofrem – também elas– por causa de graves patologias?” A meditação do Papa Francisco ao final da Via Sacra na explanada do Parque Blonia começa com uma série de perguntas “para as quais não há resposta humana”.
Bergoglio reuniu-se com os jovens que há cerca de três horas esperavam por ele, escutando testemunhos, assistindo a filmes, entre cantos e orações. A Via Sacra – Via da Misericórdia – prevê a exibição de vídeos ao vivo de outras partes do mundo. Em cada estação, a cruz é levada por um grupo diferente de jovens que pertencem a diferentes associações do mundo.
Em sua intervenção, o Papa Francisco, após um dia de contato com a memória dolorosa do passado e com os sofrimentos dos mais pequeninos, explicou que diante da falta de resposta para a dor inocente “só podemos olhar para Jesus e perguntar Ele. E a resposta de Jesus é esta: ‘Deus está neles’, Jesus está neles, sofre neles, profundamente identificado com cada um”.
O próprio Jesus “escolheu identificar-se com estes irmãos e irmãs que sofrem por causa da dor e da angústia, aceitando percorrer a via dolorosa que leva ao calvário”.
“Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a fome, a sede e a solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de todos os tempos. Nesta noite, Jesus – e nós com ele – abraça com amor especial os nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Saudamo-los e acolhemo-los com fraterno afeto e simpatia”.
Em seguida, o Papa recordou as 14 obras de misericórdia: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, visitar os enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos; dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo, rezar a Deus por vivos e defuntos.
“Somos chamados a servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua carne bendita em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente, desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita, encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao explicar o ‘protocolo’ com base no qual seremos julgados: sempre que fizermos isto a um dos nossos irmãos mais pequeninos, fazemo-lo a Ele”. “A credibilidade dos cristãos é posta em jogo no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida no corpo, e no acolhimento do pecador que está ferido na alma. Não nas ideias: aí”.
“O caminho da Cruz não é sadomasoquista, o caminho da Cruz é o único que vence o pecado, o mal e a morte”, é o “caminho da esperança, e eu gostaria que vocês fossem semeadores de esperança”, convidou o Papa.
Hoje, afirmou Francisco, “a humanidade necessita de homens e mulheres, particularmente jovens como vocês, que não queiram viver a sua existência ‘pela metade’, jovens dispostos a entregar suas vidas para servir generosamente os irmãos mais pobres e fracos”. Percorrendo a via da cruz, do compromisso pessoal e “do sacrifício de vocês mesmos”.
“Queridos jovens – concluiu Bergoglio –, naquela Sexta-Feira Santa, muitos discípulos voltaram tristes para suas casas, outros preferiram ir para a casa da aldeia a fim de esquecer a cruz. Pergunto-vos: nesta noite, como vocês querem voltar às suas casas, aos seus locais de alojamento? Nesta noite, como querem voltar a encontrar-se com vocês mesmos? O mundo olha para nós, cabe a cada um de vocês responder ao desafio desta pergunta”.