Aleteia logoAleteia logoAleteia
Sábado 20 Abril |
Aleteia logo
Atualidade
separateurCreated with Sketch.

Tipo de fumigação preocupa tanto que a ação do vírus zika em Miami

Agricultural land in Paraguay – pt

© DR

Agências de Notícias - publicado em 16/08/16

Os habitantes de Miami, na Flórida, se perguntam se o remédio não será pior que a doença quando avistam o pequeno avião que fumiga a zona afetada pelo vírus zika com um pesticida que é proibido na Europa.

Desde a descoberta, há duas semanas, do primeiro surto de zika autóctone nos Estados Unidos, ocasionalmente uma aeronave sobrevoa o norte de Miami pulverizando um produto químico chamado naled, que mata o mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus.

Na maioria dos casos o zika provoca apenas sintomas leves, mas pode causar malformações congênitas em fetos de mães infectadas, como a microcefalia.

A esta preocupação agora se soma o receio ao pesticida usado pelas autoridades para tentar evitar uma epidemia.

“Não sabemos em que consiste nem o que faz, e não confiamos no governo”, diz à AFP Fermín González, um designer de 38 anos. “Saudável não acredito que seja”.

Alguns comerciantes de Wynwood, o bairro turístico de Miami epicentro do surto de zika, já começam a se organizar, e no fim de semana um grupo protestou contra os borrifos aéreos.

O naled é considerado por cientistas e ativistas como um neurotóxico que afeta também o sistema respiratório e pode estar vinculado à leucemia infantil.

Seu uso foi proibido na União Europeia em 2012 porque o produto representa “um risco potencial inaceitável” para a saúde humana e o meio ambiente.

Deste lado do Atlântico, o condado de Miami-Dade conduz as fumigações de naled com a autorização dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e da Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA), segundo as quais este pesticida é seguro se utilizado comedidamente.

“Se não é seguro para a Europa, por que seria seguro para Miami?”, questiona Michelle Harriott, diretora científica da ONG Beyond Pesticides, sediada em Washington.

Nada em excesso é bomTom Frieden, diretor dos CDC, garantiu em inúmeras coletivas de imprensa que este pesticida, usado nos Estados Unidos desde 1959 para controlar os mosquitos, não é prejudicial nas baixas quantidades que são fumigadas.

A página da EPA na internet explica que “é improvável que as pessoas respirem ou toquem em algo que tenha inseticida suficiente para causar danos” e que “a exposição direta não deve ocorrer”.

Mas também aconselha as pessoas sensíveis aos químicos a se manterem dentro de casa com as janelas fechadas durante as fumigações.

As autoridades “usam pequenas doses de cada vez, mas ao longo de vários meses isso vai se acumulando”, diz Harriott. “Tudo depende de quanto tempo estarão fumigando. Se continuam fazendo isso durante o resto do ano, deveríamos nos preocupar”.

“Experimentos com animais mostram que a exposição ao naled em concentrações altas pode causar náusea, vômito, (…) fraqueza, paralisia, convulsões, entre outros sintomas que podem incluir parada respiratória e inclusive morte”, diz à AFP a ecóloga Elvia Meléndez Ackerman, professora de ciências ambientais na Universidade de Porto Rico, no distrito de Río Piedras.

Além disso, o naled gera um resíduo chamado diclorvós (organofosforado), que a Organização Mundial da Saúde (OMS) qualificou em 1991 como “possivelmente cancerígeno para os humanos”.

O trabalho da agência de pesquisa do câncer da OMS determinou então que a evidência em humanos era escassa, mas era suficiente em animais.

Outro estudo, publicado em 2013 na revista da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA), analisou 600 pesquisas e concluiu que os organofosforados estão vinculados à leucemia em crianças e ao mal de Parkinson.

O naled pertence à família dos inseticidas organofosforados.

Além de matar os mosquitos, este produto químico é tóxico para as abelhas, borboletas, peixes e outros organismos aquáticos.

Emergência em Porto RicoA ecóloga Meléndez foi muito ativa no movimento contra a fumigação com naled em Porto Rico, que finalmente foi bloqueada em julho pelo governador Alejandro García Padilla.

A ilha está sendo fumigada só com BTI, um larvicida natural que também é usado em Miami.

Na sexta-feira passada, a Secretaria de Saúde dos Estados Unidos declarou estado de “emergência de importância nacional” em Porto Rico, depois da ilha reportar o contágio de 10.690 pessoas, entre elas 1.035 grávidas.

Nos Estados Unidos continental foram registrados cerca de 2.000 casos, quase todos de pessoas que contraíram o vírus no exterior. A Flórida é o estado mais afetado, com quase 500 infecções vinculadas a viagens e 30 transmitidas localmente.

(AFP)

Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia