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A resposta católica para quem diz “Sou eu que decido quando morrer”

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© Tyler Olson / Shutterstock

Gelsomino Del Guercio - Aleteia Brasil - publicado em 13/09/16

O alívio do sofrimento com a medicina paliativa é lícito e necessário – mas a eutanásia nunca

Matar diretamente alguém, ainda que seja no fim do seu curso natural da vida, sempre vai contra o quinto mandamento: “Não matarás” (Êxodo 20,13). Este mandamento diz respeito também à minha vida. Só Deus é Senhor da vida e da morte.

A clara posição da Igreja quanto à eutanásia é reforçada no recente livro “Docat – Doutrina Social da Igreja“, organizado pela Conferência Episcopal da Áustria.

Para a doutrina da Igreja, acompanhar quem está prestes a morrer e oferecer a eles todas as ajudas humanas lícitas e boas é praticar concretamente o amor ao próximo. Os cuidados paliativos prestam, neste sentido, um enorme serviço, e a sua diretriz deve ser a de ajudar no momento de morrer, mas não a de ajudar a morrer.

Sem obstinação terapêutica

Não se trata de impedir a morte a todo custo. Longe disso: o Catecismo da Igreja Católica (cf. 2276-2279) observa que, do ponto de vista médico e moral, não se pode forçar arbitrariamente o prolongamento doentio da vida, postura essa que é chamada de “obstinação terapêutica”. Ou seja: se, por um lado, não se pode tirar a vida, por outro lado tampouco se pode forçar a sua continuidade artificial quando a morte é inevitável. Trata-se de preservar sempre a dignidade humana respeitando o curso natural da vida e da morte: por isso é necessário abster-se de tratamentos que não ofereçam qualquer perspectiva de melhora. Nesses casos, o que se deve é empregar fármacos que tragam alívio, ainda que, como consequência involuntária, eles encurtem um pouco mais a vida do paciente quando a morte já é de qualquer forma inevitável.

Deve ficar bem claro que não se trata de apelar para recursos que provoquem deliberadamente a morte: trata-se de aliviar o sofrimento do paciente quando não há mais alternativas viáveis que garantam a sua sobrevivência, mas sem “acelerar” propositalmente o falecimento como objetivo em si mesmo.

A decisão livre do paciente

Além disso, em todo este processo, deve-se levar sempre em conta a permissão do paciente, ainda que manifestada por uma pessoa autorizada nos casos em que o doente não é mais capaz de expressá-la por si.

Mas isto não equivale a determinar a hora da própria morte?

Não. Equivale apenas a ter o bom senso de aceitar a morte quando ela se torna inevitável. É muito diferente de provocá-la ou acelerá-la de propósito. O “Docat” explica que, para os cristãos, a vida não é uma propriedade pessoal com a qual se possa fazer o que bem se entender. A vida é um dom de Deus e não existe liberdade absoluta quanto à sua administração. O mandamento “Não matarás” vale também para a nossa própria vida.

Desejo de viver x Desejo de morrer

O desejo de viver é o mais profundo do ser humano (cf. Catecismo 2277-2279) e o suposto “desejo de morrer” é, na verdade, uma forma de querer a vida mesmo quando se pensa que ela não é mais possível. Os próprios médicos costumam observar que os pedidos para morrer, causados por sofrimentos insuportáveis, são uma espécie de “último grito desesperado por ajuda”. Nesses contextos, é sempre necessário perguntar-se até que ponto o paciente está mesmo exercendo a liberdade ao solicitar a eutanásia ativa. Até que ponto a visão que ele tem sobre o sentido da vida e da morte é superficial ou profunda? Muitas vezes, a falta de um entendimento mais profundo sobre o sentido da vida e da morte induz ao suposto “desejo de morrer” – e um bom “remédio” para esta situação é ajudar o paciente a se abrir para uma visão mais ampla, em vez de decidir com base em ideias parciais.

É muito comum, além disso, que aqueles que solicitam a eutanásia o façam porque não querem continuar sendo um “fardo” para os outros: o suposto “direito à própria morte”, portanto, acaba se confundindo com um suposto “dever para com os familiares” – um dever extremo que simplesmente não existe.

Comércio da morte

Quanto a pagar pela eutanásia, trata-se de algo absolutamente grave e deplorável. A vida humana não tem preço e a morte não pode se tornar um modelo comercial. Não podem ser eticamente defendidas de forma alguma as associações e empresas que “vendem” a eutanásia como “serviço”.

Também deve ser rejeitado o suicídio assistido por um médico, pois o médico não pode se tornar a ferramenta de um desejo subjetivo de morte.

Os cuidados paliativos

A sólida crítica à eutanásia não exclui, é claro, o reconhecimento do sofrimento, que, sem dúvida, está muito presente nesses casos. E é aí que entra a importância gigantesca da medicina paliativa e do acompanhamento digno daqueles que estão no final da vida. A vida deve ser celebrada e protegida sempre; quando a morte for inevitável, a vida deve ser honrada mediante os recursos lícitos que aliviem o sofrimento. Mas a morte não pode ser, jamais, procurada como fim. Seria uma derrota ainda mais dolorosa numa batalha já tão difícil.

O caso da atleta Marieke Vervoort

A atleta paralímpica belga Marieke Vervoort, de 37 anos, anunciou que pretende pedir a eutanásia após os Jogos Paralímpicos Rio 2016. Saiba mais clicando AQUI e veja como podemos ajudá-la a pensar melhor e mudar de ideia!

Tags:
CatecismoEutanásiaMorteSaúdeSuicídio
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