O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, foi premiado nesta sexta-feira com o Nobel da Paz por promover um acordo de paz histórico assinado com a guerrilha das Farc, distinção que dedicou ao povo colombiano e às vítimas do conflito armado.
“Esperamos que isso encoraje todas as boas iniciativas e todos os atores que poderiam ter um papel decisivo no processo de paz e leve finalmente a paz à Colômbia depois de décadas de guerra”, declarou a presidente do Comitê Nobel norueguês, Kaci Kullmann Five, ao anunciar o vencedor.
Após o anúncio, o presidente, de 65 anos, disse que dedicava este prestigioso prêmio ao povo colombiano. “Recebo este prêmio em seu nome: o povo colombiano que sofreu tanto com esta guerra”, afirmou em uma entrevista à Fundação Nobel, acrescentando que “estamos muito, muito próximos de alcançar a paz”.
Antigos ‘falcões’ que decidiram apostar no diálogo, Santos e o comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, assinaram no dia 26 de setembro um acordo histórico para colocar fim a um conflito que durava mais de meio século.
Contra todas as previsões, o povo colombiano rejeitou o acordo em um referendo no último domingo, exigindo, entre outras medidas, que os guerrilheiros desmobilizados não possam participar na vida política e que sejam levados à prisão, em vez de se beneficiar de penas alternativas.
Por sua vez, Timochenko declarou após o anúncio que a guerrilha busca apenas um “único prêmio, o de paz com justiça social e sem paramilitarismo para a Colômbia”, através de sua conta no Twitter a partir de Havana, sede das negociações de paz.
“Felicito o presidente Juan Manuel Santos, aos avalistas Cuba e Noruega, e acompanhantes Venezuela e Chile sem os quais a paz seria impossível”, escreveu.
Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano e grande vencedor do referendo de domingo, também felicitou seu sucessor e adversário e desejou a ele “que conduza a mudanças nos acordos nocivos para a democracia”.
Além disso, os máximos representantes da União Europeia (UE) parabenizaram em bloco nesta sexta-feira seu “amigo” Juan Manuel Santos por um prêmio que “encoraja a seguir buscando a paz” na Colômbia.
– Apoio às negociações –
Segundo o texto do Comitê Nobel, “existe um risco real de que o processo de paz seja interrompido e que a guerra civil seja retomada”, o que “torna ainda mais urgente o respeito ao cessar-fogo pelas partes, lideradas pelo presidente Santos e pelo chefe da guerrilha das Farc, Rodrigo Londoño”.
O fracasso do referendo obrigou Bogotá e a guerrilha a retomar suas negociações, às quais o Comitê Nobel concede um apoio nesta sexta-feira com o peso simbólico do prêmio.
“O fato de a maioria dos eleitores ter dito não ao acordo de paz não significa necessariamente que o processo de paz está morto”, argumentou. “O referendo não era uma votação a favor ou contra a paz”, acrescentou o Comitê.
Santos reiterou na entrevista que o prêmio “será um grande incentivo para chegar ao fim e começar a construção da paz na Colômbia”.
Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, este prêmio chega num “momento crucial” e “traz esperança e alento necessários para a população colombiana”.
De acordo com a tradição, o Comitê não quis explicar por que este prêmio não era compartilhado com as Farc.
Perguntada sobre esta questão, Kullman Five não quis responder e alegou: “Nunca fazemos comentários sobre outros candidatos ou outras possibilidades”.
A ex-senadora e ex-refém da guerrilha Ingrid Bettancourt opinou, por sua vez, que o grupo armado “também merecia ter recebido o Nobel da Paz”, em uma entrevista ao canal de notícias francês I-Télé.
“Um prêmio às Farc teria provavelmente sido mal encarado pelos que são céticos sobre o acordo de paz”, explicou o diretor do Instituto de Pesquisa sobre a Paz de Oslo (Prio), Kristian Berg Harpviken.
– ‘Até o último minuto’ -Santos, que quando foi ministro da Defesa – durante a presidência de Uribe – lançou a maior ofensiva contra a guerrilha marxista, decidiu seguir a via das negociações depois de ter sido eleito presidente, há seis anos.
“Seguirei buscando a paz até o último minuto do meu mandato porque este é o caminho para deixar um país melhor aos nossos filhos”, prometeu recentemente.
Embora há apenas alguns dias dissesse não buscar o Nobel, a recompensa fortalece o presidente em sua busca de uma reconciliação na Colômbia, atingida por décadas de violência de guerrilhas, paramilitares e forças estatais que deixaram 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
O prêmio, que consiste em uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de oito milhões de coroas suecas (950.000 dólares), será entregue em Oslo no dia 10 de dezembro, data do aniversário da morte de seu fundador, o inventor e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896).
No ano passado, o Nobel da Paz foi para o Quarteto para o Diálogo Nacional Tunisiano, atores da sociedade civil que permitiram salvar a transição democrática na Tunísia.
Neste ano o instituto Nobel norueguês havia recebido 376 candidaturas para o prêmio Nobel da Paz, quase uma centena a mais em relação ao recorde anterior (278).
(AFP)