Breve anedota sobre os malabarismos e astúcias da oratória - até hoje tão utilizados para atropelar a ética...
Protágoras havia combinado com Euatlo ensinar-lhe oratória, mediante certa quantia, que seria paga da seguinte maneira: metade ao terminar a última lição e a metade restante quando o discípulo tivesse ganho a primeira causa nos tribunais.
Como trabalho para advogado iniciante não é coisa fácil, o reajuste da dívida ia-se prolongando.
Protágoras começou a recear não mais receber a quantia que lhe era devida. Resolveu, por isso, levar o discípulo às barras do Tribunal. Sua argumentação se pode resumir no seguinte:
– De qualquer maneira terá que pagar, pois se perder a causa, a decisão do Tribunal, é claro, obrigá-lo-á a me pagar. Se, porém, ele ganhar a causa, terá que me pagar do mesmo modo por força do acordo que tem comigo. Em qualquer dos casos, portanto, Euatlo terá que me saldar a dívida.
O velho sofista grego, porém, não contava com o aproveitamento didático do ex-discípulo, que, diante do dilema do mestre, assim se defendeu:
– Se ganhar este processo, nada terei que pagar, porque é essa a decisão do juiz. Se perder, nada terei também que pagar, porque assim ficou estipulado no meu contrato com Protágoras. Em qualquer caso, nada ficarei devendo.
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Do livro “Introdução ao estudo de filosofia”, de Antonio Xavier Teles, via blog Almas Castelos