O governo e a oposição da Venezuela se comprometeram, neste sábado (12), a adotar uma convivência pacífica para resolver a profunda crise política e econômica no país, no encerramento da segunda rodada de diálogo mediada pelo Vaticano.
“Nos comprometemos de forma solene a que nossas diferenças políticas tenham uma resposta apenas no estrito marco constitucional, um caminho democrático, pacífico e eleitoral”, segundo uma declaração conjunta, lida por representantes de ambas as partes.
Como prioridade na mesa de diálogo, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) exige uma antecipação das eleições, ou a reativação do referendo revogatório contra Maduro – suspenso em 20 de outubro. O acordo não menciona, porém, qualquer uma dessas possibilidades.
Um comunicado posterior divulgado pela MUD, lido pelo negociador Carlos Ocariz, afirma que a oposição continuará “até obter o mais importante: as eleições nacionais e o referendo revogatório”.
Ambos os lados – governo e oposição – prometeram “estabelecer uma relação política respeitosa”.
“Expressamos nosso firme compromisso com uma convivência pacífica, respeitosa e construtiva, porque não há política, nem convivência, na violência”, acrescenta um outro ponto do acordo “Conviver em paz”.
As partes envolvidas se comprometeram a “liderar uma grande mobilização nacional em favor da harmonia, do reconhecimento mútuo e da paz”.
“Não há política, nem convivência no ódio, nem no insulto. Que se erradique o ódio, a violência, a intolerância, o escárnio e o insulto”, manifestou um dos negociadores do governo, Jorge Rodríguez.
O presidente Nicolás Maduro comemorou.
“A paz vai triunfando… Felicitações à Mesa de Diálogo pela paz e pela soberania, que conseguiu bons acordos”, tuitou.
Maduro celebrou ainda que “passo a passo, o diálogo que convoquei vai dando resultados” e agradeceu “aos acompanhantes internacionais por todo o esforço”, referindo-se à mediação do Vaticano e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
“Obrigado, Venezuela”, acrescentou o presidente.
O trabalho continuará em mesas temáticas, e a próxima reunião plenária entre os delegados e os mediadores será em 6 de dezembro.
Acordos sobre a mesaOs acordos foram anunciados após dois dias de discussões, sexta e sábado. Um deles pede ao governo que permita a entrada de alimentos e de remédios no país para amenizar a dura escassez que aflige a população.
Como relatou o enviado do papa, María Celli, os delegados acertaram “priorizar no curto prazo a adoção de medidas orientadas para o abastecimento de medicamentos e de alimentos”, promovendo sua produção e importação.
Além disso, os acordos tratam da nomeação de dois reitores do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), detalhou o enviado do papa Francisco, monsenhor Claudio María Celli.
O negociador da MUD, Carlos Ocariz, explicou que a indicação desses funcionários busca ter um poder eleitoral “neutro”.
Concordou-se também – segundo Ocariz – em avançar para uma nova eleição das vagas dos três deputados opositores pelo estado do Amazonas (sul), suspensos pela Justiça.
O enviado do Papa garantiu que governo e oposição decidiram tratar “a situação de desacato” em que foi declarada a Assembleia Nacional, por parte do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), depois de dar posse ao trio de deputados, apesar de sua suspensão judicial.
Segundo um outro documento lido por María Celli, as partes aceitaram “uma mapa de rota que permita normalizar a relação constitucional entre os Poderes do Estado” e atender à crise.
Governo e oposição também prometeram defender a soberania nacional e ampliar a mesa de negociação.
(AFP)