O sociólogo e filósofo polonês fala sobre a crise dos refugiados na Europa, o fim das estabilidades e o consumismo contemporâneoBauman, nascido em Poznan em 1925, teve que emigrar com sua família para a então União Soviética quando era apenas uma criança, fugindo da perseguição nazista. Novamente, em 1968, teve que fugir do que então era seu país, escapando de um expurgo marcado pelo antissemitismo após a guerra árabe-israelense. Ele temporariamente estabeleceu-se em Tel Aviv, e depois foi para a Inglaterra, onde fez carreira na Universidade de Leeds.
Em uma recente entrevista com Gonzalo Suárez, do El Mundo da Espanha, o intelectual polonês – que acaba de publicar um novo ensaio intitulado “Estranhos batendo na porta”, referindo-se às sucessivas ondas de refugiados que procuram asilo na Europa – explica, com um lúcido realismo, a passagem do mundo relativamente estável de algumas décadas ao que temos hoje.
“Os europeus”, explica Bauman na entrevista, “se deparam com a chegada repentina de milhões de pessoas que, até recentemente, tinham vidas muito semelhantes às nossas: empregos de qualidade, casas próprias, ambições profissionais… E, de repente, são refugiados que perderam tudo por causa da guerra. Sua aparição em massa nos torna conscientes de quão frágil, instável e temporária é a segurança de nossas vidas. A imigração nos causa tanta ansiedade por causa do medo de perder tudo o que conquistamos, pelo aumento da precariedade da vida ocidental. E quando vemos milhares de refugiados acampados em uma estação de trem europeia, percebemos que já não são simples pesadelos, mas realidades que podemos ver e tocar”.
Segundo Bauman:
Estas pessoas que estão vindo agora são refugiados que não são miseráveis, sem pão ou água. São pessoas que, ontem, tinham orgulho de seus lares, de suas posições na sociedade, que, frequentemente, tinham um alto grau de educação e assim por diante. Mas, agora eles são refugiados. E eles vêm para cá. Quem eles encontram aqui? A precariedade. O precário vive na ansiedade. No medo. Nós temos pesadelos. Tenho uma ótima posição social e quero mantê-la.
Essa precariedade – segundo Bauman – traz a ideia de andar em areia movediça. Agora, surgem estas pessoas da Síria e da Líbia. Elas trazem esta ameaça de países distantes para nossas casas. De repente, elas aparecem ao nosso lado. Não conseguimos omitir suas presenças.
Os refugiados simbolizam, personificam nossos medos. Ontem, eram pessoas poderosas em seus países. Felizes. Como nós somos aqui, hoje. Mas veja o que aconteceu hoje. Eles perderam suas casas, perderam seus trabalhos.
O choque está apenas começando. Não existem atalhos para solucionar o problema. Não existem soluções rápidas. Então, precisamos nos preparar para um tempo muito difícil que está chegando. Esta onda de imigração que aconteceu no ano passado não foi a última. Há mais e mais pessoas esperando. Precisamos aceitar que esta é a situação. Vamos nos unir e encontrar uma solução.
Para ler a entrevista completa (em espanhol) em El Mundo de Espanha, clique aqui.