Trasmoz tem apenas 62 habitantes. Em outros tempos eram quase dez mil, mas esses dias ficaram para trás, no século XIII. Localizado na província de Saragoça, nas encostas de Moncayo e perto do Mosteiro Cisterciense de Veruela, o povoado foi oficialmente excomungado quando o castelo de Trasmoz foi acusado de ser cenário de reuniões e lar de bruxas e feiticeiros.
A história, na verdade, é um pouco mais complexa. Alguns dizem que, naquela época, o castelo fazia uma grande operação de falsificação de moeda e que os responsáveis, para manter os curiosos distantes, forjaram essas lendas sobre bruxas que faziam poções à meia-noite, fazendo barulhos com correntes e acendendo fogo no castelo.
Funcionou tão bem que, desde então, Trasmoz tem sido praticamente sinônimo de bruxaria. Inclusive Gustavo Adolfo Bécquer (poeta e escritor castelhano) dedicou algumas linhas sobre a cidade: a Tía Casca aparece, precisamente, na ponta de uma das torres do castelo.
Outras fontes tornam o caso um complexo assunto político. Trasmoz era, no século XIII, um importante reservatório de minas de prata, com valiosas fontes de água e madeira. Também era um território laico: por decreto real, suas terras não eram propriedade da Igreja e estava isento de pagar impostos ao Mosteiro de Veruela.
As histórias sobre a prática de bruxaria no castelo apenas agravou a tensão entre o mosteiro e o povoado vizinho. Certa vez, o arcebispo de Tarazona – a sede arcebispal da região – excomungou toda a população. No entanto, longe de ser um ponto final na disputa, isso só significou que as tensões cresceram ainda mais.
Após a excomunhão, o mosteiro começou a usar as águas de Trasmoz. Obviamente, isso não foi aceito pelo senhorio de Trasmoz, Pedro Manuel Ximénez de Urrea, que decidiu entrar em guerra contra o mosteiro. Antes que começasse uma batalha, Fernando II deu razão a Trasmoz, o que, é claro, não agradou ao arcebispado.
Assim, com a permissão do Papa Júlio II, ele também começou a amaldiçoar o povoado de Trasmoz (recitando o Salmo 109 contra o povo). Era o ano 1511. Como a maldição tinha a aprovação papal, apenas o Papa pode suspendê-la. Até agora, nenhum Papa fez isso.
Desde 1520, curiosamente, as coisas não vão bem em Trasmoz. O castelo foi queimado, ficando quase totalmente arruinado e, após a expulsão dos judeus da Espanha, a população que era de aproximadamente dez mil habitantes passou a apenas 70 e poucos. Atualmente Trasmoz não tem escolas, não tem lojas e tem apenas um bar-restaurante.
No entanto, o que se reconstruiu do castelo é um “museu de bruxaria”.