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O que é o populismo?

Pluralismo politico – pt

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Agências de Notícias - publicado em 02/12/16

Usada em referência à campanha pelo Brexit e à de Donald Trump, a palavra “populismo” aparece cada vez mais nas análises políticas antes de eleições e referendos, como é o caso, neste fim de semana, da Áustria e da Itália.

Mas o emprego deste termo rico em história e significados contraditórios, porém, não é algo trivial.

Qual é a definição de populismo? “A palavra aparece por todos os lados, mas sua definição, em nenhum lugar”, escreveu em 2012 o diretor da revista francesa de análises sociais e políticas Critique, Philippe Roger.

“Ainda hoje o termo continua sendo difícil de definir”, porque é uma palavra “polêmica” e que “se refere a fenômenos muito diferentes”, disse Roger à AFP.

Para Olivier Ihl, especialista da escola de Ciência Política de Grenoble, a dificuldade em definir o populismo se deve a que a “palavra não é um conceito”, mas “uma categoria moralista”.

Trata-se de uma palavra que pode ser substituída, conforme o caso, por “nacionalismo”, “protecionismo”, “patriotismo” ou “xenofobia”, acrescenta.

O dicionário Aurélio oferece duas definições para o populismo: “ação política que toma como referência e fonte de legitimidade o cidadão comum, cujos interesses pretende representar”, e “política fundada no aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo”.

A Real Academia Espanhola o define apenas como “tendência política que pretende atrair as classes populares”.

O dicionário francês Petit Robert avança um pouco mais e explica: “Discurso político direcionado às classes populares, fundado sobre a crítica do sistema e de seus representantes”.

Mas na opinião de Olivier Ihl, esta última definição é “vaga e imprecisa”, porque “como vimos na Áustria, a classe média é tão afetada por este fenômeno quanto as classes populares”.

O pesquisador americano Marc Fleurbaey, da Universidade de Princeton, define o populismo como “a busca, por parte de políticos carismáticos, de um apoio popular direto, com um discurso geral que desafia as instituições democráticas tradicionais”.

Esta definição parece adequada para se referir a vários governos que surgiram em países latino-americanos nos últimos anos, como o chavismo na Venezuela e o kirchnerismo na Argentina.

Onde e quando nasceu o populismo?O fenômeno nasceu na Rússia e nos Estados Unidos no final do século XIX.

Originalmente, o “populismo” se refere a um movimento agrário, de inspiração socialista, pela emancipação do campesinato russo em 1870.

Na mesma época, se aplica a um movimento de protesto de populações rurais nos Estados Unidos contra bancos e empresas ferroviárias.

A palavra adquire novos matizes em meados do século XX na América Latina, com o líder argentino Juan Perón e o brasileiro Getúlio Vargas, simbolizando os movimentos populares com tendências nacionalistas, com preocupação social e sem qualquer referência à luta de classes marxista ou à ideologia fascista.

O populismo é só de direita?”Não”, responde sem hesitar Marc Fleurbaey. “O populismo também pode aparecer na esquerda. Basta olhar o exemplo do ex-líder venezuelano Hugo Chávez”.

“Na América Latina o termo se refere principalmente a movimentos de esquerda”, afirma Olivier Ihl.

Na Europa, o populismo geralmente designa movimentos de direita ou de extrema direita, um uso que “corresponde a uma tradição”, segundo Philippe Roger.

“‘Popular’ é um adjetivo de esquerda, como no caso da Frente Popular, na França. ‘Populista’ nunca foi um termo de esquerda. Na França, é populista quem manipula a ideia de povo com fins políticos”, explica.

No discurso da esquerda radical europeia, como no caso do Podemos, na Espanha, há elementos de populismo, como a oposição entre os de “baixo” e os de “cima”, “mas sem recorrer à xenofobia e ao racismo em seus argumentos”, o que lhes separa dos “populismos de direita”, de acordo com Philippe Roger.

O populismo avança na Europa?Em um livro de 2003, Olivier Ihl alertou sobre “a ascensão dessas formas de expressão política”.

Mas o que era então “um espectro que assustava a Europa, é hoje uma força política e social perfeitamente instalada, e inclusive às portas do poder”.

E devido “ao peso que tomou conta da União Europeia sobre as políticas públicas e as preocupações sociais geradas pelos fluxos migratórios, a crítica das patologias da democracia foi absorvida principalmente pelos movimentos de extrema direita”.

Donald Trump é populista?”Sim”, afirma o americano Marc Fleurbaey. “Ele quer seduzir os homens e mulheres esquecidos e critica o sistema manipulado dos meios de comunicação, das eleições e do establishment”.

“Não”, responde o francês Philippe Roger, argumentando que a campanha do presidente eleito foi “acima de tudo, a de uma direita dura”, revestida com uma “retórica populista”.

(AFP)

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