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O marido tem amnésia; o filho, paralisia cerebral; o pai é doente. E ela sorri e cuida de todos!

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Alfa y Omega - publicado em 09/12/16
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“Lá fora há verdadeiras cruzes. Não a minha. Você pede ajuda de Deus e Ele devolve tarefas. Mas são recompensadoras”No dia 24 de agosto, o coração de Agustín parou. Quando voltou a bombear o sangue, ele era “um homem novo”… mas sem lembranças da própria vida.

Maria Ángeles é sua esposa e sua apóstola: todos os dias, ela volta a lhe apresentar Jesus, o Jesus que o tinha conquistado várias décadas antes, num Cursilho de Cristandade, realidade eclesial em que o casal era coordenador, na Espanha.

Ángeles zela também pela fé dos seus filhos –o mais velho, que também se chama Agustín, tem paralisa cerebral. E ainda cuida do pai enfermo, que vive com eles.

Ela agora tem mais tempo, porque, em julho, ficou desempregada…

Ángeles lê a própria vida à luz da esperança: “Agora eu posso ir aos médicos com tempo”. Nas impactantes palavras dela, ressoam as de São Paulo: “Para os que amam o Senhor, tudo é para o bem”.

Estar com Maria Ángeles é conhecer a mulher forte da Escritura. Ela fala em ritmo pausado. Enquanto sorri –e ela não para de sorrir–, as lágrimas escapam com suavidade. Intui-se que são suas companheiras de caminho – e, pelo menos em parte, as responsáveis por seus olhos grandes e profundos lerem a vida com tanta clareza.

No dia 24 de agosto, seus amigos receberam esta mensagem:

Agustín pai sofreu um infarto muito severo. Por favor, rezem para que a vontade de Deus seja cumprida e, se for possível, para que possamos continuar nos alegrando com a presença dele”.

Ela mesma nos conta um pouco da sua história nesta conversa:

Ángeles, como aconteceu esse instante de luta entre a vida e a morte?

Nós estávamos viajando de trem para Barcelona quando ele sofreu a parada. Ficaram 40 minutos tentando reanimá-lo. No começo ninguém conseguia nos ajudar e, por isso, eu liguei para a minha cunhada que é médica. Um estudante de medicina foi nos auxiliando. Depois chegou a equipe de socorro e tentaram duas vezes, mas sem resultado. Eles diziam: “Não vale a pena. Se ele acordar, como é que vai ficar?”. Eu respondi: “Por favor, eu tenho um filho com paralisia cerebral, sei bem como ela é, ela não me assusta. Tentem! Nós somos uma família, precisamos dele! Tentem!”.

E eles conseguiram?

Conseguiram. Eu rezava: “Ele está meio morto, mas, Senhor, será que Tu podes querer o que eu quero?”. E… Bom, nosso Senhor é fiel!

Você diz que pensa na cananeia do Evangelho, quando ela pediu piedade a Jesus porque a filha sofria…

Me disseram que ele não chegaria vivo ao hospital. Por isso, toda a minha atenção foi para preparar a minha filha. Eu disse a ela: “Maria, estamos chegando de uns dias de férias muito especiais, em que o papai e eu conversamos muito sobre vocês. Ele me falou do quanto está orgulhoso de vocês! Sempre achamos que o melhor da nossa vida são vocês. Que presente! Quando Deus o chamar, o papai vai ir direto para o céu”. O nosso filho mais velho, que tem paralisia cerebral, é muito unido ao pai. Ele agora está sofrendo mais ainda e sem entender muito. Para nós, tudo isso não é uma cruz, é um presente, no fim das contas, porque vai obter o melhor de nós. Eu sei que tudo isso vai obter o melhor da Maria, que tem que servir às pessoas. E o Agustinillo… é uma vida partida, e com ela não há problema, porque ele vai para o céu direto.

Como foram esses dias?

Nas orações com o Agustín, eu colocava o crucifixo na mão dele e dizia: “Cristo conta com você, mas nós também, Agus. Se você puder, aguente!”. Nós também contamos com os nossos amigos e com a comunidade. Celebramos a Eucaristia no hospital. O sacerdote colocou nos lábios dele uma gotinha do Sangue de Cristo. Foi impressionante contemplar toda a vida de Deus no meu marido em coma.

E agora?

O Agustín tem amnésia. Ele não se lembra de quem é, da sua história. Ele é um advogado brilhante, com uma cultura extraordinária, muitas habilidades sociais e uma fé profunda! E não sabe quem é. Nem se lembra da sua experiência de Deus… Como somos pouca coisa! E, mesmo assim, toda uma vida! Eu fico tremendo quando penso: “Senhor, como é que eu faço para que ele volte a saber de Ti?”.

Em que você se agarra quando ele olha para você e não a vê?

É uma cruz. É muito duro que ele não me reconheça. É um sofrimento ele perguntar à nossa filha quem ela é. Mas Cristo está aqui. Eu peço consolação e Ele responde. É uma oportunidade para voltar a construir o que não estava sólido. Eu uno a minha cruz à de Cristo para a salvação do mundo. Lá fora há verdadeiras cruzes. Não a minha. Você pede a ajuda de Deus e Ele devolve tarefas. Mas são recompensadoras. O nosso preço é esse.

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Rocío Solís, em Alfa y Omega