A produção visual é muito bonita, mas… De que Jesus ela fala?No fim de novembro, coincidindo com o início do Advento, foi lançado nas redes sociais um vídeo breve, em espanhol, com o título “Sigue el ejemplo de Jesucristo. Comparte su luz”. Ele fala do verdadeiro sentido do Natal, que é o Nascimento de Jesus, e, por isso, foi bastante compartilhado por católicos – só que sem a parte final.
E por que tiraram o final?
Porque, depois de mostrar a tag #iluminaelmundo, aparece claramente a mensagem publicitária “visita mormon.org para comenzar”, juntamente com os responsáveis pela produção: a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. É um vídeo mórmon, e, conforme alerta divulgado por Vicente Jara, membro da Rede Iberoamericana de Estudo das Seitas (RIES), “parece cristão, mas não é. É dos mórmons, que são uma seita que se passa por cristã”.
A campanha natalina vai além deste vídeo e abrange outros materiais, como um calendário de Advento com propostas concretas para cada dia, cartões de presente que convidam a participar, cartazes dos centros mórmons e até um grande anúncio na Times Square, em Nova Iorque. É uma campanha, em suma, com clara finalidade proselitista, como se nota em uma das recomendações dos membros da seita: “Apresente a iniciativa aos seus familiares, amigos e vizinhos e convide-os a receber os missionários em casa”. O material, portanto, é um chamado a conhecer os mórmons.
Alguns católicos consideram que, suprimindo-se o anúncio final, o vídeo ainda vale como evangelização porque apresenta a figura de Jesus Cristo. Mas as coisas não são tão simples.
O Jesus pregado pelos mórmons não é o mesmo a Quem os cristãos seguem, por mais que os próprios mórmons neguem as diferenças.
Segundo um de seus sites de divulgação, os mórmons acreditam “na divindade de Jesus Cristo e por isso se unem ao mundo para celebrar o Natal, mas não concordam que Jesus Cristo tenha nascido no dia 25 de dezembro”. Segundo o seu livro Doutrina e Convênios, 20:1, Jesus teria nascido “no sexto dia do mês que é chamado abril”. Em que eles se baseiam? Na revelação divina que teria sido feita ao seu fundador, o “profeta” Joseph Smith.
Além disso, para os mórmons, Cristo não nasceu em Belém, embora isto seja explicitamente afirmado nos Evangelhos. Seu livro afirma: “E nascerá de Maria, em Jerusalém, que é a terra dos nossos antepassados, e, sendo ela virgem, um vaso precioso e eleito, conceberá pelo poder do Espírito Santo e dará à luz um filho, o Filho de Deus” (cf. 7:10).
Vale destacar, também, que, segundo os mórmons, uma colônia de israelitas da tribo de José saiu de Jerusalém antes do exílio na Babilônia e chegou à América do Norte, onde foi destinatária de profecias e predições sobre a vinda do Messias. Na noite em que Jesus nasceu, apareceram também na América uma estrela e outros prodígios.
Quem é o Jesus Cristo dos mórmons?
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias se declara a verdadeira igreja cristã, restaurada por Joseph Smith depois de séculos de grande apostasia. Eles dizem crer na Trindade e na divindade de Cristo, mas, ao nos aprofundarmos em seus textos, encontramos outras coisas.
Os mórmons afirmam a preexistência de Jesus, o Filho de Deus, junto com o Pai, mas também que ambos são de carne e osso. Jesus seria “um deus, como o Pai”; criou diversos mundos e “é maior que o Espírito Santo, que está submetido a Ele”. A doutrina mórmon contém ainda referências à preexistência de todos os homens antes de virem ao mundo e diz que “todos os homens glorificados chegam a ser deuses”, começando por Adão.
Para os mórmons, Jesus Cristo é um deus muito importante, mas “um” dentre outros. Assim, embora se apresentem como cristãos, os mórmons professam um politeísmo no qual muitos homens podem chegar a ser deuses na vida celestial (em que também serão polígamos). Tudo dependeria da “evolução de cada ser na vida gloriosa”: não há diferença, no fundo, entre Deus e nós quanto à natureza, mas apenas quanto ao grau de perfeição espiritual.
Compartilhar ou não o vídeo?
Esse vídeo não fala do Jesus em que os cristãos acreditam, mas sim de uma versão pregada por uma seita que não é cristã. Compartilhá-lo é divulgar uma entidade que não ensina a verdade sobre Cristo e que, além disso, tenta confundir com sua estratégia proselitista.
Eu me absteria de publicá-lo e compartilhá-lo.