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Existem três tipos de amizade. Quais são as suas?

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Daniel R. Esparza - publicado em 27/12/16
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As relações humanas de amizade podem se basear em valores profundos ou transitórios; entenda 

Se Platão é o autor de um dos tratados mais conhecidos sobre o amor (basta ler, entre seus diálogos, o “Fedro” ou o “Banquete”), Aristóteles é, sem dúvida, um dos autores clássicos que mais e melhor se expressou sobre a natureza da amizade. Em “Ética a Nicômaco”, talvez a mais conhecida de suas obras sobre o assunto, o filósofo diz que existem basicamente três qualidades geralmente amáveis – isto é, que se podem amar – que servem como motivos para a amizade: a utilidade, o prazer e a virtude. Mas isso não significa que as amizades decorrentes de qualquer uma destas três razões são necessariamente amizades “reais”.

Para que uma amizade possa ser considerada autêntica, segundo Aristóteles, é necessário: “aos amigos, devemos desejar-lhes o bem no interesse deles próprios. Mas aos que desejam bem dessa forma só atribuímos benevolência, se o desejo não é recíproco; a benevolência, quando recíproca, torna-se amizade. Pois muita gente deseja bem a pessoas que nunca viu, e as julga boas e úteis; e uma delas poderia retribuir-lhe esse sentimento. Tais pessoas parecem desejar bem umas às outras; mas como chamá-las de amigos se ignoram os seus mútuos sentimentos? A fim de serem amigas, pois, devem conhecer uma à outra como desejando-se bem reciprocamente por uma das razões mencionadas acima” (pg. 140).

Ou seja, o desejo de boa vontade deve ser mútuo e conhecido: Aristóteles diz que um homem não pode ser amigo de um objeto inanimado, porque seria “ridículo se desejássemos bem ao vinho” (pg. 140), porque um objeto não pode fazer o mesmo por nós: não é uma boa vontade mútua. Assim, se entende que se uma pessoa deseja o bem para outra, mas esse desejo não é recíproco, não podemos falar que entre essas duas pessoas realmente exista uma amizade. Por isso, Aristóteles define a amizade como “uma boa vontade mútua entre as pessoas conhecidas para uma das qualidades amáveis: isto é, por utilidade, por prazer ou por virtude”.

  1. Amigos por utilidade

Aristóteles ensina que “os que se amam por causa de sua utilidade não se amam por si mesmos, mas em virtude de algum bem que recebem um do outro” (pg. 141). Isto significa que em uma amizade por utilidade “a pessoa amada não é amada por ser quem é, mas porque proporciona algum bem ou prazer” (pag. 141).

Ou seja, “os que amam por causa da utilidade, amam pelo que é bom para eles mesmos” (pg. 141). Isso não é necessariamente prejudicial, de acordo com Aristóteles, mas ele alega que essas amizades não são permanentes, porque se o benefício da utilidade acaba, a amizade também acaba. É o caso clássico, por exemplo, dos parceiros de negócios ou colegas de classe.

  1. Amigos por prazer

Aristóteles observa que algo semelhante acontece neste tipo de amizade e na anterior. Este tipo de amizade acontece entre pessoas que amam seu amigo(a) não pelo bem do amigo(a), mas pelo prazer que podem receber dessa pessoa. Como na amizade por utilidade, amizades por prazer são relativamente frágeis, porque podem alterar ou terminar tão rapidamente como o prazer recebido.

Aristóteles afirma que este é o tipo mais comum de amizade na juventude. “A amizade dos jovens, por outro lado, parece visar ao prazer, pois eles são guiados pela emoção e buscam acima de tudo o que lhes é agradável e o que têm imediatamente diante dos olhos; mas com o correr dos anos os seus prazeres tornam-se diferentes. E por isso que fazem e desfazem amizades rapidamente: sua amizade muda com o objeto que lhes parece agradável, e tal prazer se altera bem depressa” (pg. 141-142). Geralmente, de acordo com Aristóteles, uma amizade baseada no prazer é a que acontece entre amigos que compartilham os mesmos passatempos: companheiros de uma equipe de esportes ou de uma banda, por exemplo.

  1. Amigos por virtude

Aristóteles escreve que a amizade perfeita é a das pessoas que são boas e afins na virtude, pois essas desejam igualmente bem uma à outra e são boas em si mesmas. Ora, os que desejam bem aos seus amigos por eles mesmos são os mais verdadeiramente amigos, porque o fazem em razão da sua própria natureza e não acidentalmente. Por isso sua amizade dura enquanto são bons — e a bondade é uma coisa muito durável. E cada um é bom em si mesmo e para o seu amigo, pois os bons são bons em absoluto e úteis um ao outro. E da mesma forma são agradáveis, porquanto os bons o são tanto em si mesmos como um para o outro, visto que a cada um agradam as suas próprias atividades e outras que lhes sejam semelhantes, e as ações dos bons são as mesmas ou semelhantes (pg. 142).

O filósofo segue afirmando que “tal amizade é, como seria de esperar, permanente, já que eles encontram um no outro todas as qualidades que os amigos devem possuir” (pg. 142). Com isso, Aristóteles quer dizer que uma pessoa que é boa é também agradável, e sua companhia é prazerosa e útil. Assim, a amizade por virtude contém em si mesma os mesmos prazeres que as outras duas amizades, mas em grau mais elevado, tornando esta amizade uma amizade melhor e mais plena.

No entanto, Aristóteles é realista: “Mas é natural que tais amizades não sejam muito frequentes, pois que tais homens são raros. Acresce que uma amizade dessa espécie exige tempo e familiaridade. Como diz o provérbio, os homens não podem conhecer-se mutuamente enquanto não houverem “provado sal juntos”; e tampouco podem aceitar um ao outro como amigos enquanto cada um não parecer estimável ao outro e este não depositar confiança nele. Os que não tardam a mostrar mutuamente sinais de amizade desejam ser amigos, mas não o são a menos que ambos sejam estimáveis e o saibam; porque o desejo da amizade pode surgir depressa, mas a amizade não” (pg. 142-143).

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