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Tiroteio de Québec, um despertar brutal para o multiculturalismo canadense

<p>Polícia inspeciona material suspeito no Parlamento do Canadá um dia depois da invasão do local por um atirador em 23 de outubro</p>

Agências de Notícias - publicado em 02/02/17

"A diversidade é nossa força como canadenses. A tolerância religiosa é um valor que apreciamos"

O tiroteio de domingo (29) em uma mesquita de Québec significa um despertar brutal para o Canadá multicultural, aberto e tolerante elogiado esta semana pelo primeiro-ministro Justin Trudeau e expõe as divisões da sociedade canadense.

Embora as motivações do suposto autor do ataque, que deixou seis mortos, não tenham sido claramente estabelecidas, não se trata de um “ato isolado”, considera o teólogo André Gagné, da Universidade Concordia, em Montreal.

O tiroteio aconteceu um dia depois de uma mensagem de Trudeau, grande defensor do multiculturalismo, na qual prometeu receber refugiados “independentemente de sua fé”.

Essas palavras foram pronunciadas um dia depois da decisão do presidente Donald Trump de proibir a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países muçulmanos.

Esse drama lançou uma sombra sobre a imagem de um Canadá inclusivo, alimentada pela aceitação de cerca de 40.000 refugiados sírios em 2016. Dos 36 milhões de habitantes de Canadá, pelo menos 1,1 milhão são muçulmanos.

“Há no mundo um clima de intolerância e retórica extremista que nutre o islamismo extremista e os grupos de extrema direita”, garante André Gagné.

O suposto autor do ataque, Alexandre Bissonnette, é um quebequense de 27 anos próximo a movimentos nacionalistas.

– Uma questão de identidade

“Vários analistas dizem que é uma surpresa total, mas é preciso abrir os olhos. Antes de tudo isso, já era possível se dar conta de que havia problemas”, explica o professor de Ciência Política Martin Papillon, da Universidade de Montreal.

“É revelador de um problema mais amplo do que uma simples questão de integração”, com “sinais de intolerância em relação à comunidade muçulmana” – tanto em Québec, quanto no Canadá em geral, acrescenta.

Paradoxalmente, “as pessoas dessa mesquita estavam bem integradas em Québec”, todos falavam francês, alguns viviam ali há mais de 30 anos, e uma delas até dava aulas na Universidade Laval, lembra Gagné.

“Essas linhas de ruptura sempre estiveram ali e estão cada vez mais presentes em Québec, no Canadá e em outras partes do mundo”, destaca Papillon.

O primeiro-ministro de Québec, Philippe Couillard, nega que a tragédia seja uma prova do fracasso de viver juntos, o fundamento do multiculturalismo.

“Todas as sociedades têm de viver com demônios” como “a islamofobia, o racismo e a exclusão” e, “se nossa sociedade não é perfeita, nenhuma sociedade é”, pontuou Couillard.

Québec também pratica a convivência, mas nessa província o multiculturalismo é mais “questionado” do que no restante do Canadá, segundo Papillon.

Apesar de majoritários em sua província, os francófonos de Québec são minoria no Canadá, e alguns veem no multiculturalismo uma ideologia que dilui a especificidade da identidade coletiva como povo fundador do país.

Para outros, o premiê Justin Trudeau proclama o caráter “pós-nacional” do Canadá, um país que oficialmente não teria identidade e no qual o Estado celebra – antes de mais nada – as liberdades individuais e os valores universais que unem os cidadãos.

“A diversidade é nossa força como canadenses. A tolerância religiosa é um valor que apreciamos”, lembrou Trudeau, após a tragédia na mesquita de Québec.

(AFP)

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