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Se você gritar com Deus, tudo bem! Ele entende…

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Bre Pettis CC

Anna O'Neil - publicado em 06/03/17

Talvez ele até prefira, se isso for algo autêntico

Eu não tinha a menor ideia se aquela bebida orgânica, cara, chamada Kombucha, que eu comprei outro dia, cumpriria o que havia prometido no rótulo de sua garrafa de vidro cintilante, ou seja, se ela me faria “despertar, renascer, repor, redefinir”. Honestamente, isso parece uma espécie de pedido difícil. Ainda assim, você deveria ter me visto andando por aquele supermercado, bebendo, sentindo-me como a mais saudável, mais bonita, a mais socialmente consciente.

Eu sei perfeitamente bem que eu não comprei a bebida porque achava que seria bom para mim. Comprei porque sabia que me faria sentir saudável. Durante o tempo que levei fazendo compras, me senti uma pessoa totalmente diferente, cheia de boa saúde e confiança, e com um cabelo brilhante.

Bem, eu estou percebendo que eu tenho feito exatamente esse tipo de coisa com a minha vida de oração também. Tentando fazer da oração um hábito por causa da imagem que eu associo a isso – porque a oração me faz sentir mais como o tipo de pessoa que eu queria ser – mais santa, mais humilde, mais inteligente, mais dedicada, mais zelosa.

Suponho que Deus tenha dado aquela ligeira olhada para mim agora. Deus pode lidar com um pouco de inautenticidade de minha parte – eu acho. Deus sabe que não é nada de novo. Mas essa atitude não pode ser sua preferência.

Muitos de nós estamos constantemente conscientes de como estamos atravessando, mesmo quando já entramos “em nosso quarto interior [e] fechamos [a porta] (Mt 6,6)”, como Cristo disse para fazer. Mesmo quando estou sozinho com Deus, eu ainda penso em como eu estou me aproximando dele. Esta atitude deve ser exatamente o que Cristo queria que evitássemos quando ele nos disse que não deixássemos nossa “mão esquerda saber o que a direita está fazendo” (Mt 6,3).

Ontem eu estava de pé na frente do meu crucifixo, com as mãos nos meus quadris e realmente gritando com Cristo, enquanto ele estava pendurado lá. Eu estava dizendo a ele que ele tinha que fazer algo. Ele não via como eu estava me machucando? Ele não via como eu era incapaz de resolver esse problema? Eu disse a ele que ele não tinha permissão para ficar mais lá à margem das coisas. Eu esperava mais dele.

Uma grande parte de mim estava totalmente apavorada comigo mesma, e eu quase me sentei e fiquei calada. Mas eu tive a sensação de ouvir uma voz pequena e calma na minha cabeça dizendo: “Ei, está tudo bem. Eu entendo.” Então eu continuei. E você não sabe: foi muito melhor do que o resto de minhas orações ultimamente, mesmo que não tenha havido muito delas. Quando eu estava gritando, eu percebi algo. Pela primeira vez em não sei quanto tempo, eu não tinha pensado em como eu estava olhando para Deus. Eu estava realmente interessada em falar com ele. Eu não pensei duas vezes em que tipo de oração era aquela, se era algo chocante e engraçado o fato de eu estar ali de pé, dando aulas ao meu Senhor.

Talvez, pela graça de Deus, aprenderei a fazer mais esse tipo de oração nesta Quaresma – esquecendo de tudo, menos de Deus – esquecendo da minha dignidade, da minha imagem e das minhas palavras cuidadosamente escolhidas. Deus pode entender tudo isso. Na verdade, ele até prefere isso.

A oração tem de ser a busca de Deus, não a busca de nós. Eu poderia rezar uma centena de terços, mas se eu fiz isso foi porque essa é a maneira que me faz sentir mais santa, mais dedicada, ou mais merecedora do amor de Deus. Não tenho certeza se eu rezaria o terço muito bem. Deus entenderia, pacientemente como sempre faz, e traria algum benefício, tenho certeza. Afinal, Deus pode fazer algo do nada. Mas isso é exatamente o que eu estaria dando a ele com esse tipo de oração egoísta: nada. Talvez Deus ficasse mais satisfeito com a minha oração se ela fosse uma verdadeira conversa com ele, mesmo que isso signifique que ele tenha que ouvir menos frases polidas e muito mais gritos.

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