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Como é possível que 2 cérebros e 2 corações sejam “uma só carne”?

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Syrotkin/Shutterstock

Juan Ávila Estrada - publicado em 07/03/17

O amor não é um processo de aniquilamento do próprio ser, como muitos apaixonados pensam, nem uma anulação da individualidade ou da identidade

Como construir um projeto comum entre esposos com 4 olhos, 2 corações, 2 cérebros, mas “uma só alma e uma só carne”? Pode parecer que estamos diante de um impossível ou que, pelo menos, o que o Senhor propõe na Sagrada Escritura é somente utopia, como costuma parecer, para muitos, tudo o vem dele.

E não é fácil entender isso, sobretudo quando ignoramos que o amor não é um processo de aniquilamento do próprio ser, como muitos apaixonados pensam, nem uma anulação da individualidade ou da identidade para cair em uma perigosa fusão de pessoas que, muitas vezes, como nos elementos da química, costuma ocasionar uma reação explosiva na qual acabam se destruindo.

Dessa maneira, o que começou como uma fusão inapropriada de almas acaba como uma cisão de caracteres à qual posteriormente darão o nome de “incompatibilidade”.

É possível, então, ser “uma só alma e uma só carne” com 4 olhos e 2 cérebros? Sem dúvida que sim. Aqui é necessário reconhecer que Deus nunca propõe coisas impossíveis para o ser humano. O “tornar-se um” bíblico não é um convite à amalgamação, que despoja o ser humano da sua própria identidade, nem da sua capacidade de pensar, decidir, optar, fazer; e menos ainda a que cada um se torne um fantoche nas mãos da outra pessoa.

“Tornar-se um” não pretende desconhecer o que cada pessoa é, fazendo-a perder sua essência, com a premissa de construir uma nova, porque se corre o enorme perigo de acabar sem saber quem se é.

A unidade querida por Deus não anula, mas permite entender de uma nova maneira a vida, a liberdade, a identidade; é um ato de oblação pessoal de doação total do próprio ser, sobre o qual se tem consciência, para poder compartilhá-lo com a pessoa a quem se ama.

Não podemos negar que isso exige certas similitudes, certa empatia espiritual, temperamental, de caráter. Não podemos continuar nos enganando com a famosa frase “os opostos se atraem”; ela vale para os ímãs, mas não para os humanos.

O fato de que exista certa química fisiológica não garante que dois temperamentos extremamente opostos consigam conviver. Este é precisamente um dos temas debatidos nos tribunais na hora de pedir um divórcio: incompatibilidade de caracteres.

Mas, além disso, é necessário saber que um projeto de dois cérebros e uma só carne só pode ser realizado quando se entende e se aceita o plano de Deus, que é a felicidade do ser humano, e que leva a pedir compromissos no tempo e no espaço, com algo e com alguém.

Tal projeto não desconhece o que cada um é, mas leva – e isso é totalmente diferente – a renunciar (atenção: é diferente de anular) a tudo aquilo que se torna um obstáculo para o alcance de uma meta que deixa de ser personalizada para tornar-se comum.

Também é necessário que cada um compartilhe com o outro sua própria riqueza humana, não com sentimentos competitivos, mas para complementar-se mutuamente, para aprender a olhar com maior amplitude o que se quer, o que se busca.

Dois cérebros, quatro olhos, dois corações, “uma só carne” ajudam a somar, não dividir. E a unidade requerida para o sucesso no amor exige que os cérebros não se confrontem, mas se complementem; que os olhares não se dirijam a lados diferentes, mas que aprendam juntos a mirar o mesmo fim; que os corações não busquem somente seu próprio bem-estar, mas o bem-estar de todos.

Deus é infinitamente sábio; Ele sabe por que fez esta proposta de unidade a pessoas que se deixam levar fortemente pelos seus próprios desejos; Ele sabe que, na medida em que alcancem esta meta, poderão realizar juntos o que é mais difícil alcançar sozinhos.

Há projetos que uma pessoa nunca poderá realizar sem a ajuda do seu cônjuge; é por isso que Deus colocou o humano como ajuda do humano. E só o amor permite a unidade indissolúvel de dois corações egoístas.

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