Nomofobia, cibercondria e tecnoferência são algumas dos males modernos causados pelo uso excessivo da tecnologia digitalSe você parar para pensar, a Revolução Digital não aconteceu há muito tempo. Há cerca de 30 anos, quem trabalhava em escritórios ainda usava telefones fixos, máquinas de escrever e máquinas de fax. Sem falar naqueles de fora que, quando precisavam entrar em contato com alguém, tinham que procurar um telefone público. O mais demorado de tudo era ter de esperar para ver as fotos de férias, pois os filmes precisavam ser mandados para a revelação. E as crianças tinham que ir à biblioteca para fazer seus trabalhos.
Agora, muitas crianças não saberão do que você está falando se você descrever a maneira como as coisas funcionavam antes delas nascerem. E uma pergunta preocupante se apresenta: crianças, ou adultos conseguem viver sem smartphones hoje em dia?
A resposta parece estar ficando cada vez mais difícil. Mas também parece ser verdade que está ficando mais difícil viver com a nova tecnologia. Um artigo recente da revista The Week apresentou um panorama do que, aparentemente, são os novos distúrbios cerebrais que vieram junto com a Revolução Digital.
“É difícil lembrar o que era a vida antes de termos a internet na ponta dos dedos, smartphones nos bolsos e um laptop em cada mesa”, escreveu a escritora Tammy Kennon. “Hoje, nosso cérebro está competindo para se adaptar à era digital. Neurocientistas cognitivos dizem que todo o tempo que passamos na frente de telas mudou a maneira como lemos e compreendemos. A navegação na internet encurtou tanto a nossa atenção quanto a nossa paciência.”
No topo da lista de novos distúrbios cerebrais descritos por Kennon está algo chamado Nomofobia, uma abreviatura em estilo digital do termo em inglês “No Mobile”, ou seja, o medo de ficar sem comunicação via telefone móvel. Fobia, na verdade, pode ser um eufemismo.
“Em uma pesquisa feita no Reino Unido, 73 por cento dos entrevistados sentiram pânico quando perderam seu telefone”, informou Kennon. “E para outros 14%, esse pânico se transformou em puro desespero”.
Depois, vem a “tecnoferência.” Esse é o nome que eles estão dando para o fenômeno da interferência da tecnologia digital e das mídias sociais em nossas relações pessoais. Às vezes ficamos um pouco aborrecidos quando estamos tentando manter uma conversa com alguém que parece mais interessado no que ele está aprendendo com seu telefone, respondendo de forma vaga e distante às nossas perguntas ou comentários.
Mas o que é realmente triste é que este aspecto de “tecnoferência” aparece em momentos de intimidade com nossos cônjuges.
“Outro estudo descobriu que os smartphones estão ficando no caminho de nossas vidas sexuais”, escreveu Kennon. “40 por cento dos participantes disseram que adiaram o sexo por causa do uso de smartphones”. Alguns admitiram apressar-se no sexo apenas para atender um telefonema ou ler uma mensagem. “Eu fico no Facebook e ele em um aplicativo esportivo enquanto estamos ambos na cama”, admitiu uma participante, “então percebemos que estamos literalmente sentados juntos na cama, mas vivendo em mundos diferentes”.
Outros distúrbios descritos no artigo incluem a “chamada fantasma”, em que a pessoa sente seu telefone tocando ou vibrando em seu bolso, quando na verdade ela não está com o aparelho naquele momento. Há também a “cibercondria”- a prática crescente de usar a internet para se autodiagnosticar em relação a doenças e aflições imaginárias – e a “Ilusão de Truman Show”, ou seja, a falsa impressão de que sua vida está sendo assistida ou transmitida.
E aí? Os smartphones estão nos incomodando, interferindo em nossas vidas sociais ou nos tornando paranoicos? Pode não haver tanta diferença entre a tecnoferência de hoje e a imagem da esposa dos anos 50 tentando desesperadamente chamar a atenção do marido enquanto ele lê o jornal na mesa do café, por exemplo. Ou o medo que algumas pessoas tiveram na década de 1970 de que A CIA estivesse manipulando nossos pensamentos, implantando secretamente microchips em nossos cérebros.
Mas pode valer a pena colocar nossa tecnologia de lado de vez em quando, apenas para ter certeza de que ainda somos capazes de viver sem ela.
Assim como perguntou o padre dominicano Ezra Sullivan -que recentemente terminou um doutorado no Angelicum em Roma sobre o conceito de hábito de Santo Tomás de Aquino à luz da neurociência moderna – devemos perguntar: “Por que estamos tão desesperados pelos prazeres rasos que a tecnologia traz? Por que queremos fugir da realidade de nossas vidas para uma realidade virtual? Somente confrontando seriamente estas indagações poderemos usar bem a tecnologia e avaliar sua influência sobre nós.