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Papa Francisco: sou um homem comum

Pope Francis kisses and blessing a little girl

© Antoine Mekary / ALETEIA

Vatican News - publicado em 09/03/17

Uma entrevista que revela toda a humildade de Francisco

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O Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornal Die Zeit de Hamburgo, na Alemanha.

A entrevista foi realizada em italiano pelo editor-chefe do jornal, Giovanni di Lorenzo. Abaixo alguns trechos, selecionados via Rádio Vaticano.

Die Zeit: O número de sacerdotes diminuiu. Cada vez menos fiéis, e cada vez menos padres e muita coisa para fazer.

Papa Francisco: “É um grande problema. Na Suíça é pior, não? Muitas paróquias estão nas mãos de mulheres dedicadas que nos domingos conduzem as orações. É um problema a falta de vocações. É um problema que a Igreja deve resolver, procurar como resolver isso”.

Die Zeit: Como?

Papa Francisco: “Acredito que em primeiro lugar esteja o pedido que Senhor nos faz para rezar. A oração. Depois, o trabalho com os jovens que são os grandes descartados na sociedade moderna, pois  não têm trabalho em vários países. Para as vocações também tem um problema.”

Die Zeit: Qual?

Papa Francisco: “O problema da natalidade”.

Die Zeit: Na Alemanha é baixa, mas não mais do que, por exemplo, na Itália.

Papa Francisco: “Se não há crianças, não haverá sacerdotes. Acredito que este é um problema grave que devemos enfrentar no próximo Sínodo sobre os jovens, mas não é um problema de proselitismo, não. Não se obtém vocações com o proselitismo”.

O Papa destacou que em relação à vocação, é importante fazer uma seleção. “Hoje, temos muitos jovens que depois arruínam a Igreja, porque não são sacerdotes por vocação. O problema das vocações é um problema grave”, destacou.

Sobre a crise de fé, o Papa respondeu que não é possível crescer sem crises. “Na vida humana acontece o mesmo. O crescimento biológico sempre é uma crise, não? A crise de uma criança que se torna adulta. Com a fé é o mesmo. Quando Jesus sente aquela segurança de Pedro que me faz pensar a muitos fundamentalistas católicos, quando Jesus sente isso, o que lhe diz? Você irá me renegar três vezes! E Pedro renegou Jesus. A crise faz parte da vida de fé. Uma fé que não entra em crise para crescer, permanece  infantil.”

Die Zeit: Como se volta à fé?

Papa Francisco: “A fé é um dom. É doada”.

Die Zeit: Volta sozinha?

Papa Francisco: “Eu peço e Ele responde. Às vezes temos de esperar numa crise. A fé não se compra”.

Die Zeit: O senhor acredita que o ser humano por natureza seja bom, ou é bom e mal?

Papa Francisco: “O homem é imagem de Deus. O homem é bom, mas também o homem é fraco, foi tentado e se feriu. É uma bondade ferida”.

Die Zeit: Mas pode tornar-se mau?

Papa Francisco: “A maldade é outra coisa, mais feia, mais feia. Na Bíblia, a narração mítica do Gênesis. Adão não foi mau: foi fraco, foi tentado pelo diabo. Ao invés disto, a primeira maldade é a do filho, de Caim: não é por fraqueza ou por… É por ciúmes, por inveja, por desejo de poder… é a maldade das guerras. É a maldade que hoje encontramos na pessoa que mata: mata o outro. Para mim esta é a maldade, porque é quem fabrica as armas”.

Die Zeit: Mas quais são os limites da oração?

Papa Francisco:  “Rezar pelas coisas boas. Por exemplo: “Ajuda-me a ter o dinheiro necessário para acabar o mês com minha família, que não me falte…”: isto é justo. Mas “ajuda-me a ter muito dinheiro para ter muito poder”, isto não é correto. Pode-se pedir, mas…. Porque se está pedindo algo que vai pelo caminho da mundanidade, o poder do mundo. Jesus falou tanto, no final da Ceia, com os discípulos e disse que rezou por eles ao Pai. E o que pediu ao Pai? Não para tirá-los do mundo, mas para protegê-los do espírito do mundo. O espírito do mundo é aquilo que não devemos pedir; as coisas que são do espírito do mundo: o espírito da soberba, do poder para dominar… isto não é… Se deve pedir coisas que constroem o mundo, que criam fraternidade e que tragam a paz, que deem coisas boas; mas “ajuda-me a matar a minha mulher”, não pode”.

Die Zeit: O mafioso faz o sinal da cruz antes de matar…

Papa Francisco: “Sim, sim. Isto é uma doença. É uma doença religiosa, sim, e usa a religião, também fazem isto os mafiosos da América Latina. Se dizem cristãos e para resolver os problemas pagam um matador de aluguel, e depois vão à Igreja”.

Die Zeit: Ao ouvir estas coisas o senhor se embrabece?

Papa Francisco:  “Sim, um pouco. Mas fico brabo quando a Igreja, a Santa Madre Igreja, minha mãe, a minha Esposa, não dá um testemunho de fidelidade ao Evangelho. Isto me faz mal”.

Die Zeit: Ainda faz mal para o senhor? Neste momento, em todo o mundo, existe esta enorme preocupação que a coesão da sociedade não funcione mais. Temos uma onda de populismo, no geral de direita; temos fortes movimentos que ameaçam a democracia… Neste contexto, qual deve ser o  comportamento de um cristão?

Papa Francisco: “Sim… Para mim, a palavra populismo é equivocada, porque na América Latina tem um outro significado. Fiquei confuso, porque não entendia bem. Mas pense o senhor que no ano 1933, após a queda da República de Weimar: a Alemanha estava desesperada, a crise econômica de 30 era… e um jovem disse “eu posso, eu posso, eu posso!”, mas… e se chamava Adolf, e isto acabou assim, não?  Conseguiu convencer o povo de que ele podia. Por trás dos populismos sempre existe um messianismo, sempre. É também uma justificativa: preservamos a identidade do povo”.

Die Zeit: Um messianismo na falta de outro verdadeiro testemunho…

Papa Francisco:  “…de um verdadeiro testemunho. Talvez, não?”.

Die Zeit: Por que faltam os grandes modelos políticos?

Papa Francisco: “Quando os grandes do pós-guerra imaginaram a unidade europeia – pense em Schuman, Adenauer – imaginaram uma coisa não populista: imaginaram uma fraternidade de toda a Europa, do Atlântico aos Urais. E estes são os grandes líderes – os grandes líderes – que são capazes de levar em frente o bem do país em estarem eles no centro. Sem serem messias. O populismo é ruim, e no final acaba mal, como nos mostra o século passado”.

Die Zeit: O senhor vê a situação de hoje semelhante aos anos 30, do século passado? Pois  o senhor usa até mesmo a palavra da terceira guerra mundial que estamos vivendo…

Papa Francisco: “Sim, sim. Isto é óbvio. Porque realmente está assim”.

Die Zeit: Em que sentido?

Papa Francisco:  “Mas…todo o mundo está em guerra, mas, pense na África”.

Die Zeit: Mas são conflitos menores…

Papa Francisco: “Por isto digo: a terceira guerra mundial em pedaços. Pense na Ucrânia, que está na Europa; pense na Ásia, pense no drama de Sindshar no Iraque, na pobre gente que foi expulsa… Mas por que falo em guerra? Isto se faz com as armas modernas e existe toda uma estrutura de fabricantes de armas que ajuda isto. É uma guerra. Mas – isto o sublinho – não quero dizer que esta situação seja a mesma de 33, não! Este é um exemplo que dei para explicar o populismo”.

Die Zeit: Mas o senhor está preocupado, neste momento, com a onda de populismo em todo o mundo?

Papa Francisco: “Ao menos na Europa sim. Um pouco. E o que penso sobre a Europa é isto que não quero dizer a mais e nem a menos do que eu disse nos três discursos (sobre) a Europa: os dois discursos em Estrasburgo e o terceiro quando recebi o Karlspreis, em Aachen, sim, que o recebi aqui, e havia tantos Chefes de governo, alguns de Estado, que vieram. Não gosto de receber honorificências: esta é a única que recebi porque insistiram. Disseram: “A Europa tem necessidade que o senhor nos diga alguma coisa”, e eu aceitei; mas os três antes de mim – Juncker, Martin Schutz e também o Prefeito de Aachen – disseram coisas mais duras do que eu, mais fortes, mas enérgicas”.

Die Zeit:  O senhor não se sente pressionado pelas expectativas que as pessoas de hoje tem por “homens-exemplo”, como é o seu caso?

Papa Francisco:  “Mas, eu não me sinto um homem excepcional.  Eu sinto que exageram com as expectativas, não fazendo justiça.  Eu não digo que sou um pobre, não; mas sou um homem comum que faz aquilo que pode, mas comum. Assim me sinto. E quando alguém diz: “Não, o senhor, o senhor é…”, isto não me faz bem”.

Die Zeit: O senhor diz isto, mesmo com o risco de desiludir muitos na Cúria que têm necessidade de um pai impecável?

Papa Francisco:  “Não existe um pai, existe somente um… Todos os pais são pecadores – graças a Deus – porque isto também nos encoraja a ir em frente e dar a vida, nesta época de orfandade, onde existe necessidade de paternidade. E eu sou um pecador, sou limitado. Mas não se esqueça que a idealização de uma pessoa é uma forma sutil de agressão, é um caminho para agredir sutilmente uma pessoa. E quando me idealizam, me sinto agredido”.

Die Zeit: Os ataque contra o senhor que provêm do Vaticano, lhe fazem mal pessoalmente?

Papa Francisco: “Não. Sobre isto eu farei uma confissão sincera. Desde o momento que fui eleito Papa não perdi a paz. Entendo que meu modo de agir não agrada a alguns, também justifico isto: existem tantos modos de pensar; é também lícito, é também humano e também uma riqueza”.

Die Zeit: É uma riqueza os cartazes que apareceram em Roma, acusando o senhor de não ser misericordioso? O L’Osservatore Romano falso onde o senhor responde “sim e não”, é uma riqueza, na sua opinião?

Papa Francisco: “O L’Osservatore Romano falso, não; mas o ‘romanaccio’ que havia naqueles cartazes, era belíssimo! Era um ‘romanaccio’, culto. Aquilo não foi escrito por alguém da rua!”.

Die Zeit: Mas foi escrito por alguém daqui?

Papa Francisco: “Não: alguém culto (risos). Mas aquele ‘romanaccio’ era belíssimo!”.

Die Zeit: É interessante que o senhor consiga rir a respeito disto…

Papa Francisco: “Mas sim! Eu, uma das coisas que rezo todos os dias com a oração de São Thomas Morus (Tomás More): peço o senso de humor. E o Senhor não me tirou a paz e me dá muito senso de humor. Não cheguei ainda a rir como o maravilhoso Padre Peter Hans Kolvenbach, por 25 anos Geral dos Jesuítas. Ele tinha um senso de humor, mas sempre construtivo e positivo, não?!”.

Papa Francisco: “Reze por mim”.

(Via Rádio Vaticano)

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