Vontades antecipadas, cuidados paliativos, tratamento paliativo, morte digna, eutanásia passiva, eutanásia ativa, suicídio assistido… Quando nos encontramos em situações de fim da vida (nossa e de amigos e familiares) devemos tomar decisões que se confundem com sentimentos de caridade e de culpa, dúvidas existenciais e espirituais, e todos os conceitos que se mesclam, tornando ainda mais complicada a situação.
À tristeza de uma morte próxima e ao medo da dor se une a ansiedade de ter que tomar decisões difíceis.
Nunca será fácil tomar essas decisões. Por isso, é importante estarmos bem assessorados técnica e espiritualmente. Aqui, tentamos esclarecer algumas questões.
- Em se tratando de um familiar, a primeira coisa a fazer é saber se existem vontades antecipadas em que se concretizem suas decisões sobre quais tratamentos a pessoa deseja no fim de sua vida. É preciso deixar claro esses desejos ainda quando estamos conscientes e temos capacidade de tomar decisões para que a família e os médicos atuem quando nosso estado de saúde já não nos permitir mais nenhum tipo de expressão. Mesmo assim, estas decisões precisam levar em conta os aspectos éticos, religiosos e legais e a possibilidade de serem aplicados ou não
- Cuidados paliativos. São aqueles cuidados oferecidos aos pacientes com enfermidade grave, com o objetivo de garantir, na medida do possível, melhor qualidade de vida. Basicamente, levam em conta:
– Problemas físicos: mitigação da dor, ajuda para dormir melhor, ajuda nos problemas de respiração, digestivos, nutricionais etc.
– Problemas psicológicos ou emocionais: geralmente são oferecidos acompanhamentos psicológicos tanto para o paciente quanto para a família, a fim de tratar a depressão ou a ansiedade.
– Problemas práticos: adaptação da casa, ajuda em gestão administrativa, assessoria financeira, ajuda em domicílio etc.
– Assuntos espirituais: ajuda no processo de exploração da fé para atingir a paz espiritual.
Profissionais especializados nestes tipos de cuidados dizem que, quando aplicados, reduzem de forma importante as decisões mais graves sobre a continuidade da vida. Segundo do Catecismo da Igreja Católica, “os cuidados paliativos constituem uma forma privilegiada de caridade desinteressada. Por esta razão, devem ser incentivados.”
- O uso dos tratamentos paliativos quando for suspenso o tratamento de cura da doença em decorrência da certeza de que o paciente não vai sobreviver por mais de 6 meses. O objetivo é aliviar a dor e o mal-estar.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o paciente terminal tem direito a:
- Continuar sendo tratado como pessoa;
- Receber atenção adequada de profissionais competentes;
- Participar das decisões que têm a ver com seu tratamento e não ser discriminado se suas decisões não coincidem com as de seus familiares ou médicos;
- Ser informado e receber respostas honestas às suas perguntas;
- Praticar e expressar suas crenças espirituais;
- Poder compartilhar afeto com sua família e amigos e que eles o acompanhem até o momento de sua morte.
De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, “a interrupção de tratamentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados pode ser legítima. É recusar a obstinação terapêutica… Não se pretende provocar a morte, pois aceita-se o fato de não poder impedi-la. O uso de analgésicos para aliviar os sofrimentos, inclusive com riscos de abreviar os dias do pacientes, pode estar moralmente em conformidade com a dignidade humana, já que não se pretende a morte”.
- Começar a entender mais sobre eutanásia (passiva ou ativa) e suicídio assistido.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a eutanásia é a “ação de um médico que provoca deliberadamente a morte do paciente”. A eutanásia passiva é a morte por omissão, ao retirar um determinado tratamento, a alimentação ou a hidratação, por exemplo, para acelerar a morte. Já a eutanásia ativa é basicamente quando se ministram medicamentos que possam ser letais com o objetivo de encurtar a vida.
O suicídio assistido acontece quando o paciente decide terminar de forma ativa com sua vida e, para isso, são oferecidos a ele, intencionalmente, os meios necessários (tanto os medicamentos como informações sobre as doses letais).
O Catecismo da Igreja Católica diz que “quaisquer que sejam os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em por fim à vida de pessoas enfraquecidas, enfermas ou moribundas. É moralmente inaceitável” e “uma ação ou omissão de algo com a intenção de provocar a morte para suprimir a dor constitui homicídio…”
O Catecismo ainda ensina que não somos proprietários da nossa vida, por isso não podemos por fim a ela. Afirma o Catecismo da Igreja Católica no número 2280: “Cada um é responsável por sua vida diante de Deus, que lhe deu e que dela é sempre o único e soberano Senhor. Devemos receber a vida com reconhecimento e preservá-la para honra dele e salvação de nossas almas. Somos os administradores e não os proprietários da vida que Deus nos confiou. Não podemos dispor dela”.
Para o padre Mário Marcelo, membro da Sociedade Brasileira de Bioética, “o suicídio medicamente assistido contradiz a inclinação natural do ser humano a conservar e perpetuar a própria vida. É gravemente contrário ao projeto de Deus para cada um de nós e ao amor por si mesmo. O suicídio assistido fere também o princípio da justiça que é o direito à própria vida e o direito que os outros têm da minha vida e existência; rompe injustamente a comunhão com as pessoas amadas da família e da sociedade”.
Seja como for, estamos diante de decisões difíceis em que os limites entre uma e outra opção às vezes são muito tênues. Por isso, é necessário buscar assessoria adequada e honesta que nos acompanhe neste processo de ajuda às pessoas que amamos.