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Os católicos podem “celebrar” a Reforma de Lutero?

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Jaime Septién - publicado em 16/03/17

Ao invés de chamar de “celebração” ou “jubileu”, os 500 anos das Teses de Lutero tem sido chamado de “comemoração”

Um recente artigo na versão digital do mês de fevereiro da revista U.S. Catholic, escrito por Jacob Kohlhaas, professor assistente de Teologia Moral do Loras College, em Dubuque (Iowa), questiona se os católicos podem celebrar os 500 anos de Reforma de Martinho Lutero.

Em 31 de outubro de 2016, o mesmo dia que em 1517 Martinho Lutero pregou suas 95 teses na porta da Igreja do Palácio de Wittenberg, a Federação Luterana Mundial começou a comemoração que durará um ano do 500º aniversário da Reforma Protestante.

Em reconhecimento da Igreja Luterana e para afirmar a determinação contínua da Igreja Católica de buscar a plena unidade dos cristãos, o Papa Francisco participou de uma liturgia Luterana-Católica na cidade de Lund, na Suécia.

No entanto, sua presença e sua participação, disse Kohlhaas “não foi isenta de polêmica”. Setores, tanto na parte luterana como na parte católica, “expressaram sua preocupação de que a participação do Papa poderia convidar a confusão, o pluralismo, o relativismo, ou diluir a doutrina”.

Noções de autocrítica

Para os católicos, Lutero tem uma reputação “negativa” por ser a causa da divisão da unidade da Igreja Ocidental, enquanto os protestantes da linha principal desta Igreja, pensa Kohlhaas, tendem a considerar a Reforma como historicamente “positiva”.

“Hoje, no entanto, muitas denominações protestantes reconhecem, também, as dimensões trágicas da Reforma”, admite o professor de Teologia Moral e mais do que chamar de “celebração” ou “jubileu”, os 500 anos das Teses de Lutero tem sido chamado de “comemoração”.

E a pergunta feita por Kohlhaas é que, se os protestantes aceitaram a autocrítica como parte do acontecimento, os católicos podem fazer isso?

Apesar de sua reputação, diz que o escritor no U.S. Catholic, “a Reforma não dividiu a unidade da Igreja Católica”: já estava dividida desde a Alta Idade Média. O Concílio de Trento, várias décadas depois da Reforma, “iniciou a Contrarreforma Católica mediante a unificação do catolicismo e a prática católica”.

“Católicos modernos frequentemente projetam, retroativamente, essa unidade católica pós-tridentina como contexto da Reforma. Mas, na realidade, a Reforma precipitou o fim da cristandade medieval e provocou reformas que são fundamentais para o catolicismo moderno”, aponta Kohlhaas.

Muito a discutir

O escritor lembra que a Reforma é também a fonte da identidade religiosa para muitas comunhões protestantes. “No século XX, a visão ecumênica da Igreja Católica mudou: os protestantes já não são considerados como separatistas, mas como irmãos cristãos que são sinais da graça ativa de Deus”.

Os atuais esforços ecumênicos do catolicismo “procuram descobrir a graça de Deus entre tradições cristãs”, enquanto a Igreja Católica “se move em direção à unidade através da compreensão mútua”.

O texto, que, sem dúvida, levantará polêmica entre católicos e protestantes, conclui dizendo que o diálogo católico-luterano produziu recentemente documentos notáveis, enquanto as questões muito importantes da comunhão compartilhada e a unidade estrutural ainda esperam “uma discussão séria”.

O que agora “se celebra”, conclui Jacob Kohlhaas, é a fé na encarnação e que “as divisões dentro do cristianismo não são incompatíveis, mas bem (…) são produtos de buscar a unidade e compreensão dentro de uma cristandade dividida”.

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EcumenismoIgrejaReligião
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