Provocadoras. Desafiadoras. Urgentes.O intelectual católico tem que “decifrar o sentido do presente” e “combater o cinismo em todas as suas formas”, entre outras 8 tarefas destacadas pelo filósofo Francesc Torralba, da universidade espanhola Ramon Llull, durante o II Congresso da revista catalã “Qüestions de Vida Cristiana”.
As 10 tarefas, segundo Torralba, são as seguintes:
- Decifrar o significado do presente; articular uma “cartografia do agora”, explorando os vetores que movem a cultura e o que está implícito na época. É uma tarefa que exige certo distanciamento para detectar o que emerge de nobre, belo, veraz e bom e, ao mesmo tempo, entender a obscuridade do presente.
- Recriar linguísticamente a herança recebida; articulá-la mediante uma linguagem que seja significativa, clara e inteligível para o homem e para a mulher de hoje. Evitar cair tanto no tradicionalismo pelo tradicionalismo quanto na “novolatria”: o que deve ser mantido é o conteúdo em toda a sua riqueza, mas a forma de apresentá-lo deve ser compreensível pelo público na sua realidade atual.
- Manter um compromisso ativo com a racionalidade, identificando as suas forças e as suas limitações e evitando, ao mesmo tempo, cair no emotivismo e no racionalismo. Espera-se, de um intelectual católico, uma luta contra a credulidade e o fideísmo – que não são o verdadeiro ato de fé.
- Compreender o fenômeno das tradições espirituais e religiosas da humanidade e das novas formas de espiritualidade laica, que emergem fora das instituições formalmente articuladas. Se a Igreja tem a missão de atrair as pessoas a Cristo, é preciso oferecer pontes.
- Articular um chamado profético em favor dos “menores dentre os nossos irmãos”, os mais vulneráveis e vitimados pela cultura do descarte, e agir em defesa da dignidade inerente a toda pessoa humana.
- Não temer a crítica do conhecimento, dos seus limites e das suas fontes: elaborá-la tanto ad intra (na instituição eclesial) quanto ad extra (no mundo). Viver o senso de pertencimento sem complexos e não fugir das dores de ser membros da Igreja.
- Apostar na visibilidade midiática: existir com audácia na ágora digital e nela propor a nossa visão de mundo. Evitar a hipervisibilidade, mas também a marginalidade e o refúgio confortável no calor do rebanho. Sair à praça pública e, se necessário, expor-se a ser ferido.
- Comprometer-se com as causas nobres da sociedade. Lutar contra o fariseísmo moral, a moral de elite e a tendência a desempenhar um papel de espectador neutro. Não há neutralidade para o intelectual católico. É necessário ser agente e não espectador passivo no mundo. Trabalhar para melhorar o mundo e transformar a sociedade.
- Reconhecer e apreciar as grandes produções artísticas, culturais e filosóficas da cultura laica, tal como a Igreja sempre reconheceu e apreciou os grandes clássicos da arte e da literatura de todos os tempos e povos, vendo neles as “sementes do Verbo” e não se deixando provocar pelo laicismo de voo galináceo.
- Articular um discurso esperançado, capaz de combater racionalmente a tendência ao niilismo histórico e, em especial, não se deixar vencer pelo desânimo das circunstâncias. O intelectual católico deve combater o cinismo em todas as suas formas – inclusive o cinismo que pode nascer no seu próprio interior.