Fátima é toda ela uma benção
Tive a alegria de estar por duas vezes em Fátima e delas carrego um mesmo sentimento: uma grande paz. Quando entramos na esplanada do santuário, e avistamos lá no meio, a pequena capela das aparições, e inúmeros fiéis caminhando em silêncio, rezando, naquela imensa praça, só conseguimos mesmo pensar em coisas boas. A simplicidade daquele lugar nos reporta imediatamente ao campo da Iria, onde naquele 13 de maio os três pastorzinhos – Lúcia, Jacinta e Francisco – experimentaram a graça da presença de Nossa Senhora.

São 100 anos de devoção, de uma força espiritual que se espalhou pelo mundo, e move o coração dos católicos que reconhecem, na serena presença de Nossa Senhora de Fátima, a acolhida necessária para os momentos de angústia e solidão. Qual católico desconhece a história comovente dos três pobres pastorzinhos? Ali, na capelinha de Fátima, cada fiel pode reviver essa história e sentir-se também envolvido pelo abraço amoroso de Maria Santíssima.

Fátima é lugar de silêncio. Para nós, latino-americanos, que aprendemos a rezar com alguma algazarra, chega a incomodar o clima silente da esplanada do santuário português. Algumas placas, espalhadas aqui e ali, avisam ao devoto desatento que conversas, cochichos e músicas em volume alto não são bem-vindas no espaço sagrado. Vez ou outra, algum devoto mais exaltado chega mesmo a nos abordar pedindo que se faça silêncio. Esse espaço de oração, marcado somente pelo sopro do vento, pode ser sentido inclusive nas grandes celebrações: mesmo com a esplanada lotada, num dia 13 de maio – estive lá em 2016 – o silêncio dos milhares de fiéis era algo impressionante.
Para o peregrino que chega em Fátima, e olha a esplanada, além da capela das aparições, é possível ver a Basílica de Nossa Senhora do Rosário, hoje totalmente restaurada, ao fundo, rodeada por uma belíssima colunata que abraça, simbolicamente, todo o espaço sagrado. Ali, nessa basílica, repousam os corpos dos pastorzinhos, e seus túmulos podem ser visitados pelos devotos. Aliás, neste ano do centenário de Fátima, o Papa Francisco canonizou Francisco e Jacinta, presenteando o povo de Deus e a Igreja com mais dois pequenos intercessores.

Defronte a Basílica, do outro lado da praça, temos a moderna Basílica da Santíssima Trindade, construção subterrânea finalizada em 2007. A necessidade desse lugar mais amplo fez necessário com o aumento dos peregrinos. Uma imensa porta de bronze, artisticamente ornamentada, celebra a paz e a união dos povos. E no presbitério, um belíssimo mosaico de terracota dourada, feito pelas mãos de oito artistas de nacionalidades diferentes e assinado pelo artista esloveno Marco Ivan Rupnik, deixa a atmosfera local ainda mais propícia a oração e ao recolhimento.
A memória do Papa São João Paulo II é celebrada na esplanada com um monumento belíssimo. Sem dúvidas nenhuma o papa da paz colaborou e muito para que a devoção a Nossa Senhora de Fátima espalhasse pelo mundo afora, já que ele reconheceu nela a intercessora que o salvou da morte no atentado que sofreu no dia 13 de maio de 1981. Um detalhe dessa história é a presença do projétil na coroa da Virgem do Rosário de Fátima, incrustado ali a pedido do papa como agradecimento filial.

Fátima é toda ela uma benção. Por mais que tentemos definir o que ali sentimos, faltam-nos as palavras e sobram, muitas vezes, as lágrimas de emoção. Pode viver o centenário desse momento único da fé de nossa Igreja, e espalhar esse amor recebido é uma honra imerecida. Mas com Maria, mãe do Rosário de Fátima, chegamos mais perto de Jesus Cristo. Só por isso já sou feliz!
Por Pe. Evaldo César de Souza, via A12.com