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Cinema e espiritualidade: um festival de Cannes diferente

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AFP

Lucandrea Massaro - publicado em 23/05/17

Monsenhor Dario Viganò e o diretor Wim Wenders no Festival Sacré de la Beauté

Uma dupla que não esperávamos, formada pelo Monsenhor Dario Edoardo Viganò (prefeito da Secretaria de Comunicação da Santa Sé) e o diretor Wim Wenders. Em Roma eles falaram de cinema e espiritualidade, antes de irem ao Festival de Cannes, e de um evento paralelo organizado, entre outros, por nós da Aleteia: o Festival Sacré de la Beauté. A conversa, anterior à entrevista ao SIR (Servizio Informazione Religiosa), ocorreu naturalmente, como acontece entre duas pessoas que se conhecem, como explicado pelo próprio Wenders, quando conta sua experiência no CTV durante a cerimônia de abertura da Porta Santa:

O Centro Televisivo Vaticano é, sem dúvida, uma realidade extraordinária. Confesso que ver Stefano D’Agostini digerir a grande máquina da direção com 20 câmeras na abertura da Porta Santa foi uma bela experiência para mim. Eu tive um papel simples dentro de uma cerimônia de televisão ao vivo, onde participei e assisti graças ao convite de dom Dario.

Wenders explica como sente um senso de responsabilidade quando deve representar a espiritualidade e o conteúdo da fé em seus filmes. Não é o mesmo contar de Deus sabendo que ele te ama, do que fazê-lo como pura narrativa artificial.

Não era tão consciente dessa “responsabilidade”, na ausência de um termo melhor, ou do fato que a fé poderia te influenciar como artista até que, em 1987, não aderi ao projeto de um filme poético, completamente improvisado, como “Asas do Anjo”. É a história de dois anjos da guarda que cuidam de seus “protegidos” na cidade de Berlim. Quando percebi que a tarefa mais importante do filme era trazer – “the Angel’s gaze at people” – o olhar do anjo para as pessoas, e também mostrar como os anjos nos veem, isso me fez perceber que este trabalho teve outro efeito em mim, algo que nunca tinha vivido. 

Mas o cinema, como arte, é capaz de falar sobre Deus? A 70ª edição do Festival de Cannes, talvez a mais importante do mundo para o cinema comprometido, é uma oportunidade para fazer uma espécie de equilíbrio.

Monsenhor Viganò é positivo sobre este ponto:

Em 70 anos temos visto triunfar autores importantes, capazes de jogar com ideias ousadas e, até mesmo, incômodas. Eu acho que o último vencedor, “Eu, Daniel Blake”, do diretor britânico Loach, cantor dos últimos da sociedade, como os irmãos Dardenne que aqui em Cannes ganharam com “A Criança” (2005) e “Rosetta” (1999). E mais, “A Missão” de Joffé em 1986 ou “A Árvore dos Tamancos” de Olmi em 1978, até “Milagre em Milão” de De Sica em 1951. O Festival, portanto, se configura como um espaço de inclusão cultural, onde é introduzida a iniciativa da “diaconia da beleza”. Em alguns dos meus estudos, muitas vezes tenho enfatizado como o cinema tem procurado Deus, confrontando sua presença ou sua ausência ensurdecedora.

E, no fundo, continua o prelado, é bom lembrar que o cinema é substancialmente feito, em sua essência, perto do olhar divino:

Os anjos, os de Wenders, nos lembram que são luz e movimento, bem como o próprio cinema, feito de combinação de luz e movimento. Provavelmente é um dom da providência, na história das descobertas científicas, que o nome dos inventores do cinema é apenas Lumière, “luz”. “Nomen omen”, o destino escrito no próprio nome.

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