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A verdade sobre como os padres perdem tempo

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Sergio Argüello Vences - publicado em 19/06/17
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Confessar por mais de oito horas sem comer é perder tempo? Sempre penso que a vida de padre é curta, não porque Deus vai nos chamar logo, mas porque estamos sempre tão ocupados que um dia acaba num suspiro.

Ontem, fiquei desde as sete horas da manhã confessando. Creio que passei mais de oito horas nesta tarefa.

Quando sai da sacristia e vi todas aquelas pessoas me esperando, a primeira coisa que pensei foi: “Hoje não vou nem tomar café da manhã – e, creio, nem comer”. Parecia Missa de domingo, mas, na realidade, todos estavam esperando para se reconciliar com Deus.

Sentei-me para confessar e, enquanto passavam as horas, eu me sentia pressionado por todas as que pessoas que estavam esperando. Sentia pena delas e, além disso, sabia que alguém viria me buscar para visitar dois enfermos, depois teria de ir para uma direção espiritual. Achava que logo eles iriam chegar e eu não conseguiria confessar as pessoas da fila

Mas consegui. Justamente quando a última pessoa ficou de pé para ir embora, chegaram os familiares do enfermo. Creio que meu Deus acomodou tudo para o bem destas pessoas que precisavam de seu amor, já que eu não creio em coincidências, mas em “deuscidências”.

Quando terminei tudo, telefonei para um amigo que tinha me ligado várias vezes e deixado mensagens. Ele me perguntou o que eu estava fazendo. Eu fui bem sincero: “tive um dia muito cansativo, quase oito horas confessando, secando lágrimas e tirando sorrisos”. E ele, muito espontâneo, respondeu: “pois a única coisa produtiva foi que você inventou um verso”.

Mas isso não é tudo. Depois, encontrei-me com uma pessoa que também me perguntou como tinha sido meu dia. Eu disse que tinha sido simplesmente genial. Depois, ela me perguntou o que eu tinha feito. Claro, eu falei que fiquei confessando todo o dia, visitei dois enfermos e dei uma direção espiritual. Expliquei-lhe que estava muito contente, porque todos chegaram buscando a Deus e eu consegui ajudar.

Porém, igualmente espontânea como meu amigo, esta pessoa me disse: “então você perdeu todo o dia, que pena…” Mas eu lhe respondi: “que maneira bonita de perder meu tempo… Muitas pessoas dividiram sua vida comigo, choraram comigo e, juntos, pedimos a ajuda de Deus. Sinto-me com a alma preenchida.”

As reações das pessoas me surpreenderam não porque minimizaram o que eu faço, mas porque duas pessoas tão próximas a mim, que sou padre, em menos de uma hora me disseram que consideravam uma perda de tempo eu passar meu dia ouvindo, levando a graça de Deus e dando esperança aos que precisam.

Felizmente, para mim, foi um dos melhores dias da minha vida, daqueles que quero levar no coração quando Deus me chamar. Lembrar-me-ei dele como o dia em que “quase desmaiei ao ver tantas pessoas me esperando, e eu sem comer, mas que, depois de quase oito horas confessando, sequei lágrimas, ganhei sorrisos e me senti feliz”.

Ao terminar o dia, enquanto rezava o Santo Rosário, eu dizia à Virgem: “Gosto muito de perder tempo desta forma”. Também lhe dei graças por todos os padres que são criticados pelas pessoas que consideram que isso é perda de tempo, e que não entendem o bem que eles fazem.

Por certo, consegui comer. Uma paroquiana me levou um prato e eu também comi com o enfermo e sua família. Não há dúvida de que Deus cuida muito de mim e até providencia minhas comidas.

 

http://www.padresergio.org

 

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