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Uso de armas químicas na Síria, um retorno à ‘linha vermelha’

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Agências de Notícias - publicado em 28/06/17

A “linha vermelha”, um conceito conhecido na história do conflito sírio, retornou com os presidentes americano e francês, Donald Trump e Emmanuel Macron, que se dizem prontos para “uma resposta comum” em caso de ataque químico, suscitando questionamentos entre os especialistas.

No dia seguinte ao primeiro ataque químico de amplitude, em agosto de 2013, os Estados Unidos e a França prometeram castigar juntos o governo sírio, acusado de ter matado mais de 1.400 pessoas com gás sarin perto de Damasco, e, assim, ter ultrapassado “a linha vermelha” idealizada pelo então presidente americano Barack Obama.

No entanto, Obama no fim das contas não agiu, levando o assunto ao Congresso e depois fechando um acordo com Moscou sobre o desmantelamento do arsenal químico sírio.

Abandonada na articulação, a França, para quem atacar sozinha era inconcebível, experimentou um amargor em relação ao seu aliado americano. O episódio da “linha vermelha” não respeitada se tornou um importante marco no conflito sírio, no qual alguns viram o início da derrota da oposição e uma volta da situação a favor do governo de Damasco e de seus aliados russo e iraniano.

Entretanto, quatro anos depois, a “linha vermelha” volta a ganhar protagonismo.

No começo de abril, após um suposto novo ataque químico, que provocou pelo menos 88 mortes em Khan Sheikhun, no norte da Síria, Trump declarava que “inúmeras linhas foram ultrapassadas”, e então lançou ataques em represália contra a base aérea de Al-Shayrat, de onde teria decolado o avião sírio responsável pelo ataque.

No fim de maio, ao receber Vladimir Putin em Versalhes, Macron evocou novamente a “linha vermelha”, assegurando que Paris atacaria, até mesmo sozinha, em caso de utilização de armas químicas.

Na terça-feira, Washington e Paris anunciaram estar dispostos a responder a qualquer novo ataque químico do governo sírio, depois que a Casa Branca anunciou ter detectado possíveis preparativos neste sentido, e constatado uma atividade suspeita na base Al-Shayrat.

– “Fanfarrões” –

“Declarações de fanfarrões”, diz uma fonte próxima ao “dossiê”: “inclusive se os ataques se concretizarem, e mesmo que a França possa realizá-los sozinha, estamos novamente na ordem do simbólico, da postura, mais do que adotando medidas que realmente possam conduzir o governo a mudar de política”.

Da mesma maneira, os 60 mísseis Tomahawk lançados na madrugada de 7 de abril pelas forças americanas sobre a base área de Al-Shayrat não foram seguidos de uma mudança radical na posição de Washington sobre o conflito sírio.

“Não serão os ataques punitivos limitados ou as declarações fortes o suficiente para dissuadir um governo que matou centenas de milhares de pessoas”, escreveu o especialista em Síria Charles Lister ao site do Middle East Institute.

Os ataques e ameaças de ataques franco-americanos não devem modificar a relação de forças na Síria, segundo os especialistas.

“Não são ameaças profundas, mas aparentemente muito mais uma mensagem enviada à Rússia e ao Irã”, os dois aliados incondicionais do governo de Damasco, considera Christopher Phillips, pesquisador em Chatham House.

Emmanuel Macron afirmou recentemente que a saída do presidente sírio, Bashar al-Assad, não é mais uma prioridade para a França.

A colaboração franco-americana ainda será testada. Segundo uma fonte diplomática, Paris foi advertida no último momento dos ataques americanos em abril, tarde demais, caso quisesse aderir à operação.

A “linha vermelha” apresenta também um problema moral, assinalam outros pesquisadores, lembrando que pode ser interpretada como “um cheque em branco” para realizar outras ações.

“E sobre as torturas nas masmorras do governo, os barris-bomba, os povos sitiados?”, questionou o pesquisador libanês Ziad Majed no dia seguinte do discurso de Macron em Versalhes.

Para Bruno Tertrais, da Fundação para a Pesquisa Estratégica, a “linha vermelha” tem, no entanto, o mérito de recordar o tabu histórico que constitui o uso de armas químicas. Um tabu violado em várias ocasiões desde o início do conflito sírio, em 2011, segundo estimativas da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OIAC).

(AFP)

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