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Joaquín Navarro-Valls: o homem que mudou a comunicação na Igreja

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Twitter Greg Burke-@GregBurkeRome

Jesús Colina - publicado em 06/07/17

Os três segredos do homem que foi porta-voz do Vaticano por 22 anos

Ele mudou para sempre a maneira de comunicar da Igreja Católica. Esse foi o primeiro pensamento que me veio à mente na quarta-feira, 5 de julho de 2017, ao receber a notícia do falecimento de Joaquín Navarro-Valls (Cartagena, 1936), que, durante 22 anos, foi porta-voz da Santa Sé no pontificado de João Paulo II e no início do de Bento XVI.

Doutor em psiquiatria, jornalista, correspondente em vários países, membro numerário (consagrado ao celibato) da Prelatura Pessoal do Opus Dei, sua biografia se fundiu com a de Karol Wojtyla quando este o nomeou, em 1984, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.

Mas qual foi o segredo de Navarro-Valls? O que ele fez para transformar a comunicação da Igreja, que até aquele momento adotava uma comunicação bastante amadora e foi convertida em uma voz identificável e com tremenda credibilidade na aldeia global da era da comunicação?

A chave deste trabalho, que os livros da história da Igreja se encarregarão de destacar no futuro, está em três segredos.

Um verdadeiro profissional da comunicação

Quando conheci Navarro-Valls, ao chegar para trabalhar como correspondente no Vaticano em setembro de 1991, eu fiz esta mesma pergunta a ele: “Qual é o seu segredo como porta-voz?”. Não demorou nem meio segundo para responder: ser o autêntico porta-voz do Papa.

Ele me explicou que, quando João Paulo II o chamou para propor o trabalho, ele expôs ao Papa uma necessidade como condição de sucesso: manter uma linha direta com o próprio Papa. “Eu sou porta-voz do Papa, não de um cardeal, que talvez não saiba bem o que o Papa quer dizer”, respondeu-me Navarro-Valls.

João Paulo II compreendeu muito bem essa necessidade. Quando convidou Joaquín, ele era, há um ano, presidente da Associação Internacional de Imprensa de Roma. Ou seja: era um jornalista, correspondente do diário espanhol ABC e eleito pelos jornalistas para representá-los.

Durante todo seu serviço a João Paulo II, Navarro-Valls se agarrou ao profissionalismo como sua melhor garantia de trabalho ao seu amado Papa. E o Papa, até o final de seu pontificado, manteve sempre as portas abertas para ele.

Aqui está o primeiro segredo de Navarro-Valls: ele foi capaz de fazer entender que a comunicação não é algo instrumental, mas parte da essência do ministério petrino. E ele só conseguiu isso porque era um profissional autêntico.

Um verdadeiro humanista

Mas o que mais me impressionava em Navarro-Valls era seu forte humanismo. Ele estudou na escola alemã, fez Medicina e Cirurgia, depois passou à Psiquiatria. Foi bolsista em Harvard. Era apaixonado pela Filosofia e teve de adentrar de cheio nos caminhos teológicos para poder estar à altura dos debates que precisava enfrentar diariamente.

Toda essa bagagem, assim como a herança recebida de sua família e a influência de amigos, proporcionaram-lhe uma profunda humanidade. Lembro-me de uma ocasião em que um dos jornais italianos deu uma notícia negativa sobre a Santa Sé. Navarro-Valls disse-me: “é fácil julgar, mas pense neste jornalista, com três filhos, a quem o diretor disse: ‘ se não publicar, amanhã você ficará sem trabalho’”.

Esse profundo humanismo, que conquistou João Paulo II, foi decisivo quando este último lhe encomendou uma missão totalmente revolucionária: participar da Conferência Mundial da Mulher, convocada pela ONU em Pequim, no ano de 1995. Ao invés de mandar um cardeal ou arcebispo, o pontífice nomeou uma mulher para representá-lo: Mary Ann Glendon. E, para que ela se sentisse respaldada, nomeou, como membro da delegação, seu porta-voz. Assim, eles conseguiram mudar a percepção da mensagem cristã sobre a mulher na cúpula da ONU.

Um leigo de verdade

Mas, acima de tudo, Joaquín Navarro-Valls era um cristão. Talvez esta tenha sido a grande herança que recebeu de São Josemaría Escrivá de Balaguer: sentir-se orgulhoso de sua dignidade de batizado, de leigo.

A grande tentação de muitos leigos que trabalham na Igreja é de se clericalizar-se, fazer-se como padres. Navarro-Valls aplicou magistralmente o carisma do Opus Dei: santificar-se na vida normal, no trabalho, como um autêntico profissional.

Adeus, amigo Joaquín! Até a eternidade!

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