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O inexplicável: após 15 (longuíssimos) anos em coma… ele despertou!

Miguel Parrondo

Miguel Parrondo

Aleteia Brasil - publicado em 14/07/17

"Só Deus pode tirar a vida": foi com esta convicção que o pai de Miguel impediu os médicos de desligarem os aparelhos

Em tempos de cultura do descarte explícita e descarada, vendida como “direito” e com risco até de ser imposta judicialmente, como no espantoso caso do bebê Charlie Gard, há relatos que reforçam com toda a força dos fatos a defesa da vida.

É o caso do relato a seguir, baseado no depoimento concedido pelo espanhol Miguel Parrondo ao site ForumLibertas.com em 2014. Na época, Miguel tinha 47 anos de idade – ou 12, já que, após nada menos que 15 anos em coma, ele mesmo afirma que tinha nascido de novo em 2002.

Um caso que invade os domínios do inexplicável

Só Deus pode tirar a vida”. Foi com esta convicção que o pai do jovem Miguelimpediu os médicos de desligarem os aparelhos que mantinham vivo o seu filho em coma. E foi assim, que, durante 15 longuíssimos anos, ele cuidou do filho junto com a esposa e a neta. Até que Miguel, repentinamente, despertou.

Este é o mais óbvio dos riscos de se legalizar a assim chamada “morte digna”, a eutanásia: não são poucos os casos de pessoas que, mesmo tendo ficado longos períodos em coma, podem ser desconectadas dos aparelhos quando ainda poderiam voltar à consciência e a uma nova vida – em muitos casos, por decisão dos familiares influenciados pelos médicos.

Um caso que correu mundo foi o do britânico Matthew Taylor, que, depois de um ano em coma, despertou após ouvir a voz da namorada.

O caso de Miguel Parrondo é ainda mais espetacular. Ele entrou em coma após um acidente de carro em 1987 e despertou em 2002, graças à constância, ao amor e à fé dos seus familiares – em particular do pai, um médico dermatologista do mesmo hospital, que se negou completamente a “desligar” seu filho.

De fato, quando Miguel chegou ao Hospital Juan Canalejo de A Coruña, nenhum médico tinha esperanças de que ele pudesse sair adiante. Nem sequer seu próprio pai, que, quando viu o estado em que seu filho chegou, pediu ao sacerdote do hospital que lhe desse a unção dos enfermos.

Estes fatos ocorreram em 1987, quando Miguel, aos 32 anos, voltava de uma noite de festa em companhia de duas amigas. Ele perdeu o controle da direção em uma curva e acabou colidindo com um muro, em seu Renault 5 GT Turbo. De repente, sua vida se tornou escuridão durante os 15 anos em que passou na UTI.

“Só Deus pode tirar a vida”

Durante esses 15 anos na UTI, sua mãe, seu pai e sua filha Almudena, com dedicação exclusiva, não saíram do seu lado. O principal motor dessa verdadeira maratona foi sua fé. Eles passaram mais de uma década da sua vida vendo Miguel através de um vidro.

Foram meses e anos de lágrimas, de esgotamento e de momentos muito duros, como quando os médicos lhes sugeriram que avaliassem a possibilidade de “desligar” Miguel.

“Queriam me desconectar, então meu pai reuniu seus colegas do hospital e lhes disse: ‘Só Deus pode tirar a vida’. Se não fosse por isso, eu não estaria aqui, porque não davam nada por mim. Meu pai teve fé”, contou Miguel.

Ele despertou em uma manhã de 2002. Sem saber como, abriu os olhos e a primeira coisa que viu, atrás da janela de vidro da UTI, foi sua mãe e sua filha.

“Eu não sabia nada. Abri os olhos e vi minha mãe junto a uma menina. Olhei para a minha filha e perguntei: ‘Almudena?’ Porque eu me lembrava de que tinha uma filha com esse nome. E ela me respondeu: ‘Sim!’. Então eu disse: ‘Eu sou seu pai!’. Minha mãe chorava como uma criança e meu pai não conseguia acreditar.”

De fato, não há explicação médica alguma para o seu caso. Miguel havia acordado de um sonho de 15 anos e começava uma vida nova. Entrou em coma aos 32 anos e saiu aos 47.

“Foi como se eu tivesse dormido e acordado no dia seguinte. Quando vi minha filha, me assustei. Ela já estava formada e eu já era avô. Hoje ela tem 38 anos.”

A volta à vida

Após despertar, sua própria família lhe contou os detalhes de como foram todos aqueles anos.

“Imagine como eu cheguei ao hospital para que o meu pai, que era médico, pedisse a um padre para me dar a extrema unção! Depois, quando despertei, ele não acreditava. Ele me levou à Universidade de Santiago para que me vissem. Disseram que o meu caso era único. Eu sou um bicho estranho. E a minha mãe (que já faleceu) passava todos os dias na UTI para me ver através do vidro; ela comia lá, dormia lá, não se separava de mim”.

Retornar à vida não foi fácil, foi um choque para Miguel. Ele teve sequelas físicas, dezenas de cirurgias e um mundo totalmente novo, que havia mudado a uma velocidade difícil de assimilar.

“Eu pareço um mapa rodoviário. Tiraram meu baço, uso uma prótese no ombro, lesões cranioencefálicas severas que provocaram uma hemiparesia (doença que diminui a força motora e paralisa parcialmente uma parte do corpo), devido às cicatrizes do cérebro. Estive mais morto que vivo”.

A memória de Miguel chega até a trágica noite de 1987. Do acidente, “lembro-me onde foi, em uma curva, e foi por excesso de velocidade. Disso eu me lembro”. Ele viajava com duas amigas; uma delas faleceu.

“Infelizmente, uma das meninas que ia comigo morreu. Há alguns dias, eu estava na rua, e uma senhora ficou me olhando fixamente. Aí eu pensei: sou bonito, mas nem tanto! Então, ela me perguntou: ‘Você é o Miguel?’. ‘Sim, sou eu’, respondi. Ela me abraçou e começou a chorar. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas logo depois fiquei sabendo que ela era a outra moça que estava no carro. Eu não tinha mais tido notícias delas. Eram duas moças que eu tinha conhecido em uma noche loca”, confessou.

Na primeira vez que saiu na rua ao deixar o hospital, ele parecia estar sonhando. Queria voltar a dormir. “A primeira coisa que eu perguntei foi: o que é isso de ‘euro’? Eu não sabia nada do euro, era da época das pesetas”.

“O mundo mudou muito. Quando comecei a sair na rua, eu pensava: as pessoas estão loucas, falam sozinhas! Mas elas estavam falando ao celular. Ou via um carro da polícia com uma mulher dirigindo e ficava desconcertado”. “Quando saí na rua, me assustei mesmo. Antes eu ouvia fita cassette e agora o carro tem CD player e pendrive. Na rua dos meus pais eram 16 vizinhos e só restavam dois. Todos morreram. Não conheço a metade de A Coruña, onde agora está o bairro de Los Rosales. Antes, tudo isso era terra”.

Nunca podemos perder a fé

Antes do acidente, Miguel trabalhava como programador no banco. Naquela época, ele tinha um bom cargo e um ótimo salário. Eram os primeiros computadores e os pioneiros na informática. Ele ganhava 300.000 pesetas por mês.

Graças ao seu pai, suas finanças se mantiveram e seu dinheiro rendeu. “Ele guardava meu salário todos os meses e, quando despertei, tinha uma boa quantidade. Comprei um apartamento e tudo”.

Miguel não perdeu a paixão pelos motores. O caso de Schumacher o impactou, mas ele está convencido de que “ele vai se recuperar bem, com fisioterapia e tudo mais. Eu me recuperei bem”.

Hoje, ele dirige um carro normal, sem adaptações, e exibe todos os troféus que ganhou quando praticava motocross.

Miguel comentou que há diversos casos como o dele, com famílias desesperadas que duvidam, que perderam a esperança. Por isso, sua experiência o faz ser totalmente contra a eutanásia.

“Nunca podemos perder a fé. Estive com uma senhora há pouco tempo; ela tem um filho em coma há quatro anos e está destruída. Contei-lhe minha história e ela recuperou a esperança”.

Miguel hoje vive tranquilo, apesar das sequelas, aproveitando a oportunidade que a vida lhe deu – mas “um pouco desesperado por estar aqui o dia inteiro sem fazer nada. Sou hiperativo e os dias parecem semanas”. Mas ele não se queixa. Não tem nenhum motivo sério para se queixar depois desse renascimento:

“Agora tenho 12 aninhos, porque nasci duas vezes”.
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EsperançaEutanásiaFamíliaVida
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