sentir menos de muitas outras características humanas: empatia, irritação, tristeza, sonhos eróticos, criatividade, raiva, expressão de sentimentos e preocupação.
Obviamente, há situações em que medicamentos psiquiátricos são necessários. O problema é que muitas pessoas realmente doentes permanecem sem tratamento, principalmente por causa de fatores socioeconômicos. Enquanto que pessoas que não precisam desses medicamentos tentam medicar uma reação normal a um conjunto de fatores de estresse não-natural: vivem com quantidades insuficientes de sono, luz do sol, nutrientes, movimento e contato social; fatores cruciais para nós, primatas sociais.
Se os níveis de serotonina das mulheres são constantemente e artificialmente elevados, elas correm o risco de perderem a sensibilidade emocional, com suas flutuações naturais, e modelam um equilíbrio hormonal mais masculino, estático. Esse embotamento emocional incentiva as mulheres a adotarem comportamentos que são normalmente aprovados por homens: parecer ser invulnerável, por exemplo, é uma postura que pode ajudar uma mulher a crescer em negócios dominados por homens. Estudos com primatas mostraram que uma dose de S.S.R.I. pode aumentar comportamentos de dominância social, elevando o status de um animal na hierarquia.
Mas a que custo? Eu tive uma paciente que chegou no meu consultório em lágrimas, dizendo que precisava aumentar sua dose de antidepressivo, porque ela não podia ser vista chorando no trabalho. Depois de dissecar o motivo dela estar chateada – seu chefe a traiu e humilhou na frente da sua equipe – decidimos que era necessário uma calma confrontação com o chefe, e cortamos a medicação.
Revisões de prontuários mostram consistentemente que os médicos são mais propensos a receitar medicações psiquiátricas às mulheres do que aos homens, especialmente para as mulheres entre 35 e 64 anos de idade. Para algumas mulheres nessa faixa etária os sintomas da perimenopausa podem parecer com os de uma depressão, inclusive as lágrimas são comuns.
Chorar não é apenas um sintoma de tristeza. Quando estamos com medo, ou frustrados, quando vemos uma injustiça, quando somos profundamente tocados pela pungência da humanidade, nós choramos. E algumas mulheres choram mais facilmente do que outras. Isso não significa que sejam fracas ou fora de controle. Em doses mais elevadas, SSRIs dificultam o choro. Eles também podem promover a apatia e a indiferença.
A mudança surge do desconforto e da consciência de que algo está errado; nós reconhecemos o que é certo apenas quando sentimos isso. Se estar medicado significa ser complacente, então isso não ajuda ninguém.
Precisamos parar de rotular a nossa tristeza e ansiedade como sintomas desconfortáveis e passar a apreciá-los como uma parte saudável, adaptativa, da nossa biologia.