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Eu sou luz ou sombra?

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padrefaus.org - publicado em 29/07/17

A luz entra pelos olhos. O que os olhos enxergam em plena claridade fala por si, não precisa de palavras nem, muito menos, de “palavreado” para se explicar. Assim é o bom exemplo.

Vós sois a luz do mundo […]. Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus (Mt 5, 14.16).

A luz entra pelos olhos. O que os olhos enxergam em plena claridade fala por si, não precisa de palavras nem, muito menos, de “palavreado” para se explicar.

Assim é o bom exemplo, e assim o apreciaram sempre os grandes homens, sobretudo os santos. Já Santo Inácio de Antioquia, o bispo mártir do século II, enquanto era conduzido a Roma para sofrer martírio, escrevia aos Efésios: «É melhor calar-se e ser do que falar e não ser. É maravilhoso ensinar, quando se faz o que se diz […]. Aquele que compreende verdadeiramente a palavra de Jesus pode entender o seu silêncio [ou seja, o que “diz”, sem palavras, o seu exemplo];  e então será perfeito, porque atuará de acordo com a sua palavra, e se manifestará também mediante o seu silêncio [ou seja, mediante o que faz sem falar]»[1].

O doce Santo Antônio de Pádua adotava um tom santamente irado quando falava do exemplo: «É viva a palavra quando são as ações que falam. Cessem, peço, os discursos, falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras» [2]. Hoje, a pedagogia insiste cada vez mais no valor insubstituível da chamada educação invisível[3]; da força exemplar das convicções e das atitudes que as encarnam:

A imagem da luz é simples. A boa luz permite enxergar bem, sem confusões; mostra perigos que a sombra ocultaria; ilumina referenciais da paisagem e dos caminhos que a noite encobriria; a luz também aquece, estimula a vitalidade e favorece a alegria. Poderíamos dizer que os que irradiam a claridade do bom exemplo têm todas essas características da luz.

Eu sou luz ou sombra?

Tendo isso em mente, tentemos fazer o nosso exame de consciência, partindo de uma pergunta desafiadora. Eu sou luz ou sombra? Você quer enfrentá-la com coragem? Pois, então, veja, só para exemplificar, alguns flashes esclarecedores, que lhe podem da a resposta.

–  Se eu sou uma pessoa sincera, constante, organizada, leal à palavra dada e fiel aos compromissos, sou luz. Os outros – filhos alunos, etc. – , junto de mim, veem claro o que é certo e sentem-se incentivados a imitá-lo.

–  Mas se sou pessoa mentirosa, inconstante, desordenada e volúvel, sou sombra. Os que dependem de mim ficam confusos, inseguros, não conseguem avaliar o alcance das minhas palavras, das minhas atitudes, das minhas promessas; em suma, não podem contar comigo como um farol orientador nem como um apoio.

–  Se eu sou pessoa com ideais nobres e definidos na vida, pessoa que tem valores positivos – ânsias de bondade e de bem – , que vibra com eles, que procura praticá-los; se sou pessoa cheia de fé e de esperança e posso dizer, como Jesus, eu sei de onde venho e para onde vou, então eu sou luz, mais ainda, sou reflexo da Luz com maiúscula, sou sinalização divina, foco cristão que orientará outras vidas.

–  Mas se sou pessoa cética, agnóstica, cheia de incertezas e de pessimismo, convencida de que neste mundo nada há de bom, tudo é interesseiro, os valores são imaginários e os ideais tolices; se me julgo realista porque capitulo perante os interesses egoístas da terra e sou incapaz de ver, além deles, outra finalidade para a vida, então sou uma sombra mais daninha que uma cascavel oculta no armário, e as primeiras vítimas podem ser os que mais amo.

–  Se eu sou um lutador que detesta o conformismo e a acomodação, se tenho um coração que sempre quer puxar a vida para patamares mais elevados e perfeitos – para aspirações nobres, para virtudes, para maiores quilates de amor e amizade –  ; se eu detesto a mediocridade, se vibro com ânsias de justiça, se arquiteto sonhos realistas para tornar o mundo mais fraterno e belo e os demais mais felizes, então, com certeza, sou luz.

–  Se, porém, cochilo na rede da canseira moral e do desencanto; se resmungo mais do que animo, se tenho alma, coração, atitudes, palavras e gestos desbotados pela frustração; se faço troça dos “sonhadores”, se tenho pena dos que “ainda” acreditam no amor, na verdade, na justiça e no bem, então eu sou, com certeza, uma treva miserável.

–  Se eu vejo, antes de mais nada, o lado positivo das coisas; se os meus comentários, em casa e fora de casa, sem serem ingênuos, são sempre estimulantes; se sou conhecido como aquela pessoa que sempre acolhe, que sempre está disposta a ajudar, que sempre anima, que sempre sorri, que alegra qualquer ambiente, então eu sou uma luz que concentra as sete cores da alegria.

–  Mas se pertenço ao rol daqueles que, mal aparecem em casa, ou se sentam à mesa, ou entram na sala de aula, iniciam uma nova era glacial, apagam o sorriso dos outros (“fechou o tempo” – dizem deles); se a minha característica é a irritação, a impaciência e o mau humor; se reclamo de tudo e de todos; se acho tudo ruim; se não agradeço nada; se tenho pena de mim mesmo e ando com complexo de vítima, então, meu amigo, então eu sou uma sombra pior que as que o Dante pinta no Inferno.

Adaptação de um trecho do livro de F. Faus: A força do exemplo


[1] Carta aos Efésios, n. 15

[2] Sermões, I, 226

[3] Víctor García Hoz, obra citada.

(via Pe. Faus)

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