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O bacon nosso de cada dia: católicos e veganismo

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Por Michael Pettigrew

O Catequista - publicado em 17/08/17

Confira uma explicação muito bem humorada sobre o que a Igreja e a Bíblia dizem sobre ser vegano

“Não é justo comer a carne dos pobres animais, quando podemos nos alimentar muito bem só de vegetais!”, dizia-me o taxista. Apesar de discordar, resolvi não contrariar o homem. Afinal, não há mal nenhum – moralmente falando – em ser vegetariano. Entrei no modo “é, tens razão” e suportei pacientemente o sermão até o fim da corrida.

Porém, quando esse discurso começa a reverberar entre os membros da Igreja travestido de virtude cristã, não é mais possível que fiquemos calados. Vejamos, portanto, o que a Igreja afirma sobre isso.

O QUE DIZEM O MAGISTÉRIO E A BÍBLIA?

O Catecismo da Igreja Católica (2415 a 2418) nos ensina que os animais são dons de Deus. São criaturas benditas, mas que não possuem alma imortal – somente uma alma sensitiva Assim, podemos nos servir deles para diversos fins, inclusive para a nossa alimentação.

Temos a obrigação de tratá-los com respeito, dentro do possível, já que eles têm sentimentos e sentem dor. É pecado “fazer os animais sofrerem inutilmente e desperdiçar suas vidas”.

No Antigo Testamento (Lev 11), estão descritos quais são os alimentos permitidos ao povo hebreu: era lícito comer diversos tipos de carne de animais, exceto daqueles consideradas “impuros”, como porco, morcego, camarão, aves de rapina e répteis, entre outros (para não perdermos o foco, não vamos nos alongar discutindo aqui a razão destas restrições).

Segundo as Leis da Torá que os israelitas seguem até os dias de hoje, Moisés determinou que o abate dos animais deve ser feito de maneira especial, de modo que o animal morra instantaneamente, sem sofrimento. Atualmente, o processo é realizado por uma pessoa treinada, o shochet, sob a rígida supervisão de um rabino. Somente os animais corretamente abatidos – considerados kosher– são aprovados para o consumo dos judeus.

Os primeiros cristãos, especialmente aqueles de origem judaica, seguiam rigorosamente esses preceitos alimentares. Tudo mudou no dia em que São Pedro teve uma visão sobrenatural: Deus lhe mostrou que os fiéis podiam agora comer qualquer bicho que lhes desse na telha:

“…Viu o céu aberto e descer uma coisa parecida com uma grande toalha que baixava do céu à terra (…). Nela havia de todos os quadrúpedes, dos répteis da terra e das aves do céu. Uma voz lhe falou: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Disse Pedro: De modo algum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma profana e impura. Esta voz lhe falou pela segunda vez: O que Deus purificou não chames tu de impuro.” (Atos 11,11-15)

Agora, irmãos, afiem seus caninos… Aí vai uma dos versículos mais carnívoros da Bíblia. Fala, São Paulo!

“Comei de tudo o que se vende no açougue, sem indagar de coisa alguma por motivo de consciência.” (I Cor 10,25)

MOTIVOS JUSTOS PARA SER VEGETARIANO

Não vamos discutir aqui se ser vegetariano é saudável ou não; abordamos a questão dos pontos de vista moral e religioso, e deixamos o resto para os médicos e nutricionistas.

Então, atenção: nem a Bíblia, nem a Tradição da Igreja e nem a vida dos santos oferecem qualquer base para que católicos creiam que matar animais para comer é maldade. Quem pensa assim, geralmente, se deixou influenciar pelo hinduísmo, pelo espiritismo ou por filosofias toscas da Nova Era.

Por outro lado, é perfeitamente legítimo que um católico se abstenha definitivamente da ingestão de carne porque:

  • não gosta do sabor;
  • acha que isso é melhor para a sua saúde;
  • deseja praticar o ascetismo, ou seja, desenvolver suas virtudes cristãs por meio do sacrifício (como é o caso de São João Crisóstomo).

CARNÍVOROS SÃO ASSASSINOS?

A argumentação mais comum que os vegetarianos ativistas usam é a de que, do ponto de vista dos animais, as pessoas carnívoras são assassinas.

O mais bizarro é que boa parte desses ativistas animólatras não considera o aborto de bebê humanos como assassinato. Dá vontade de perguntar: “Abriu mão da picanha pra comer cocô, meu filho?”.

Mais radicais do que os vegetarianos são os vegans. Eles condenam a “exploração dos animais” não só como alimento, mas também como matéria-prima para diversos produtos, como couro, lã, seda e cosméticos. Santa, ingenuidade, Batman!

Amigo vegan, como membro de uma sociedade industrializada, saiba que praticamente tudo o que você usa foi produzido por meio da morte de animais, ainda que de forma indireta. Nem mesmo o estofado daquele seu sofá xexelento de “couro ecológico” escapa dessa realidade.

A não ser que você seja o Tarzan ou a Jane, quase tudo à sua volta contém metal ou foi produzido por máquinas de metal. E esse metal provém das mineradoras, que precisam desmatar e revirar grandes extensões de solo com escavadeiras para extrair o minério. Nesse processo, por mais cuidado que se tome, é impossível que muitos animais não morram.

Então, caros vegans, as suas roupas, a sua casa, a sua bicicleta, o seu chiclete, a embalagem do seu leitinho de soja, o papel higiênico que limpa as suas bundas… Tudo isso está manchado com sangue animal.

JESUS E SÃO FRANCISCO ERAM VEGETARIANOS?

Você já deve ter ouvido alguém falar que Jesus era vegetariano. Quem crê nesta teoria delirante se esquece de um simples fato: este tipo de frescura era INADMISSÍVEL para um judeu naquela época.

A ingestão de carne era parte integrante e indispensável de alguns ritos centrais para o povo de Israel, como a Páscoa. E, pra ficar bem claro: quem estabeleceu esses rituais foi o próprio Deus, por meio de Moisés.

Tem que ser muito iludido para crer que Jesus e seus Apóstolos não consumiam carne de animais. Afinal, o Evangelho está repleto de passagens que tornam esta hipótese indefensável:

  • O Senhor enche as redes dos pescadores de peixes (Lc 5,4-7);
  • Cristo multiplica milagrosamente pães e peixes para que sejam distribuídos à multidão (Mt 15,36);
  • Já ressuscitado, Ele assa e serve peixe aos Apóstolos na praia: “Vinde, comei” (João 21,12);
  • Jesus come um peixe assado pelos Apóstolos (Lc 24,41-43).

Aos “católicos hinduístas”, não resta nem ao menos o consolo de afirmar que Jesus aprovava somente o consumo de carne de peixe. Ele era a favor de comermos carne vermelha também! É o que fica claro na parábola do filho pródigo: quando o caçula volta para casa, seu pai manda botar um bezerrão no espeto (Lc 15,22-23). Esse devia ser gaúcho dos bão, tchê!

Se Jesus fosse mesmo vegetariano, a parábola seria um tanto diferente…

São Francisco de Assis, que tanto amou os animais, comia carne. Comia pouco, é bem verdade, pois era um homem de vida austera, e não porque acreditasse que se alimentar da carne dessas criaturas era errado.

Até mesmo o líder budista Dalai Lama, que um dia havia afirmado – por pura fanfarronice – que não via motivo para matar e comer animais porque “o homem pode viver sem carne”, agora diz que come carne de vez em quando, por motivos de saúde e de conveniência.

Então, se você é vegetariano, beleza. E se for uma opção motivada pelo desejo de praticar o ascetismo, melhor ainda. O que não tem nada a ver éusar o nome de Jesus ou dos santos em vão para criticar e importunar os comedores de carne. E, por fim, o mais importante: quando alguém rejeitar um naco do seu delicioso hambúrguer de tofu, por favor, não insista!

(via O Catequista)

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