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O imperador da China que escrevia poemas católicos!

EMPEROR KANGXI

Public Domain

Jean Elizabeth Seah - publicado em 17/08/17

Kangxi foi o monarca de mais longo reinado da China e um erudito que permitiu a expansão do cristianismo

Poema da Cruz / A morte de Cristo

功成十架血成溪,百丈恩流分自西。 身列四衙半夜路,徒方三背两番鸣。 五千鞭挞寸肤裂,六尺悬垂二盗齐。 惨动八垓惊九品,七言一毕万灵啼。 Uma vez se completou o trabalho na Cruz,o sangue formou um riacho de sanguee, do oeste, circulou mil metros.Pisou o caminho da meia-noite para submeter-se a quatro juízos.Antes que o galo cantasse duas vezes, três vezes foi traído.Quinhentos açoites rasgaram-lhe cada centímetro da pele.Dois ladrões o acompanharam na cruz de seis pés de altura.A tristeza era de magnitude nunca antes conhecida.Sete palavras, uma tarefa cumprida, dez mil almas que choram.

Este poema católico, no original em chinês, contém todos os números de 1 a 10, bem como o 100, o 500, o 1.000 e o 10.000 (na tradução, alguns números não aparecem, pois as expressões originais não teriam sentido se fossem vertidas literalmente). A propósito: é interessante observar que o ideograma chinês que representa o 10 tem a forma de uma cruz: 十.

Seu autor é o erudito imperador Kangxi (康熙帝), que viveu de 1654 a 1722. Ele, que ascendeu ao trono aos 7 anos de idade, esteve à frente do reinado mais longo da China e um dos mais longos do mundo: 61 anos.

Os primeiros imperadores da dinastia Qing eram receptivos ao cristianismo. O pai de Kangxi, o imperador Shunzhi, visitava com alguma frequência a igreja católica mais antiga da China, a Catedral da Imaculada Conceição, ou a Igreja do Sul, para receber conselho do missionário jesuíta Johann Adam Schall von Bel.

Essa catedral recebeu por cortesia de Shunzhi uma lápide com a inscrição “Construída pela Ordem Imperial”. Durante o reinado de Kangxi, o templo foi ampliado. Os jesuítas, além da pastoral, também exerceram funções como astrônomos e meteorologistas imperiais nas cortes das dinastias Ming e Qing, o que favoreceu a introdução da ciência e da matemática ocidental no Império do Meio. Nesse período foram erguidos hospitais, museus, universidades e laboratórios públicos em cidades-chave como Xangai.

Kangxi ofereceu aos jesuítas uma casa dentro da Cidade Proibida, complexo destinado exclusivamente à família imperial e ao seu séquito, assim como um terreno para levantar uma igreja. Uma vez finalizadas as obras da igreja, o imperador redigiu em seu ingresso uma inscrição de próprio punho:

Ao verdadeiro Líder de todas as coisas. Ele é infinitamente bom e justo. Ele ilumina, apoia e rege todas as coisas com autoridade suprema e justiça soberana. Não tem princípio nem fim. É Ele quem governa e é Ele o verdadeiro mestre.

No final do reinado de Kangxi, havia aproximadamente 300.000 católicos e 300 igrejas na China, inclusive após a querela dos ritos que obrigou o imperador a restringir o catolicismo por sentir a sua autoridade ameaçada. Essa proibição não foi absoluta: missionários com visto puderam permanecer.

Eis outro poema de Kangxi:

Sobre a Verdade

Tudo o que a vista alcança é criação d’Ele.Ele, que no tem princípio nem fim, é três pessoas em uma.As portas do céu se fecharam pelo pecado do primeiro homem e voltam a se abrir por meio do Filho.Uma vez libertos de todas as falsas religiões, devemos converter-nos em discípulos por todos admirados.
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