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Barcelona chora, mas vai se recuperar

BARCELONA ATTACK

PAU BARRENA / AFP

Miriam Diez Bosch - publicado em 18/08/17

Como foi o dia depois do atentado que deixou vários mortos e dezenas de feridos

Eu poderia escrever os versos mais tristes nesta madrugada. Mas a tristeza tem que dar espaço para a esperança.

Primeiro dia depois do atentado de Barcelona. Oito da manhã. Não há ninguém na capela do Hospital del Mar: um altar simples, três bancos, flores, pouca luz e frio.

O ar condicionado enche a sala e é só um indício do calafrio que vivem os familiares e amigos dos feridos. Eles estão tentando amenizar o desespero com um café na mão, do lado de fora do hospital localizado na região da praia de Barceloneta. Um hospital cheio de claridade e cristais. Os jornalistas de vários países se preparam para entrar ao vivo daqui.

Há um silêncio curioso, apesar das ambulâncias que o rompem. Os funcionários da Cruz Vermelha e de outros serviços de emergência estão abatidos e cansados. Algumas pessoas se abraçam e choram. Falam ao telefone em francês, alemão espanhol, italiano. Quando cruzo meu olhar com os delas, fico destroçada de dor.

Na recepção do hospital, os funcionários respondem, amáveis e cansados, que “no momento” não precisam de doações de sangue, pois houve excesso de doadores. A população da Catalunha se solidarizou: gente abrindo suas casas, taxistas fazendo trajetos grátis, hotéis oferecendo vagas a pessoas que chegaram à cidade.

Uma loja de lembrancinhas típicas de Barcelona, bem na entrada do hospital, me deixa gelada: chama-se ‘ISIS’. Isis por causa da deusa egípcia, mas esta nomenclatura justamente neste lugar me parece inadequada. Penso nos turistas, felizes, despreocupados, que desciam pela Rambla, talvez em direção a Santa Maria del Mar, a célebre catedral gótica da cidade. Se tiveram sorte, mudaram o trajeto para o Hospital del Mar. Há pelo menos cinco crianças mortas. Atroz.

O dia depois do atentado é difícil. É hora de oração e de ação, de solidariedade e de acompanhamento. Barcelona, 25 anos depois daqueles Jogos Olímpicos que a apresentaram ao mundo, acordou ensolarada, mas desolada.

Um trágico fio do novelo fez com que tantos destinos fossem açoitados pelo absurdo do mal, um mal que não é um capricho da natureza, mas que foi costurado com traição e com o desejo de prejudicar o maior número de pessoas.

Os dados do atentado são assustadores. Até agora, há 14 vítimas fatais e 80 feridos, além dos cinco terroristas que foram mortos em Cambrils. Se a bomba que eles queriam explodir em Barcelona tivesse sido ativada, a dimensão da tragédia poderia ter sido enorme.

Há três suspeitos presos e muita confusão. Alguns podem estar envolvidos com o ataque, mas não são necessariamente os autores materiais. Alguns veículos de comunicação mostraram fotos deles, o que fere a sensibilidade. Por que não respeitam as vítimas e seus familiares?

A Igreja agiu rápido: de paróquias como a de Santa Maria del Pi e a Igreja de Belém (Las Ramblas) abrindo as portas para abrigar os feridos aos os serviços assistenciais, de orações, logísticas e todo tipo de ajuda mobilizados. O cardeal arcebispo de Barcelona, Juan José Omella, esteve, ao meio-dia, no minuto de silêncio, que aconteceu a poucos metros de onde começou o pesadelo.

Sinais de luto são vistos em várias lojas e estabelecimentos. O silêncio que tomou conta da cidade se tinge de palavras de alento. Barcelona chora, mas vai se recuperar, porque o medo só cresce de tiver espaço. E aqui já não há mais.

Miriam Diez Bosch, direto de Barcelona.

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