Há muitas coisas mais importantes do que apenas provocar ou ficar reclamandoEm um trecho do filme “A Grande Beleza” (vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013), o personagem principal, o jornalista Jep Gambardella, encontra uma atriz que tem chamado a atenção do meio cultural em Roma.
Após assistir à peça em que a atriz se apresenta, Jep vai entrevistá-la. A mulher lhe pergunta: “então, você gostou da apresentação?”. Ele responde com polidez: “de algumas partes”.
Irritada com a rejeição do jornalista, que nitidamente não tinha gostado da peça, mas procurava ser educado, ela diz: “é que eu gosto de provocar”. Jep responde: “há muitas coisas mais importantes do que provocar”.
Nesse momento, Jep lança sua pergunta essencial: “o que você está lendo?”
A atriz responde que não precisava ler nada, pois vivia de “vibrações extrassensoriais”.
Jep pergunta-lhe então o que seriam as tais “vibrações”.
Ela diz que não daria para explicar em palavras, pois seria algo muito profundo, que apenas se sente.
O jornalista lhe dá mais uma chance, pedindo que ela ao menos tentasse explicar, nem que fosse de forma bem simples.
Ela passa então a xingá-lo.
Essa passagem de “A Grande Beleza” nos oferece um método simples para lidar com os reclamões e provocadores de plantão.
São aqueles que estão sempre a reclamar de tudo: do país, da corrupção, dos políticos de esquerda ou dos políticos de direita, dos vizinhos, do cônjuge, dos filhos, dos parentes…
Basta perguntar, com delicadeza: “o que você está lendo?”
Se a pessoa responder que não está lendo nada, ou que está lendo algo imprestável – o que dá no mesmo –, você poderá refletir consigo: “como alguém que não está lendo nada pode ficar criticando tudo? Será que ele fundamenta suas críticas em novelas da TV ou programas de auditório dominicais?”