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Será que um cientista pode ser católico?

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Aleteia EUA - publicado em 29/08/17

Um físico americano relata como encontrou a fé em harmonia com a ciência

É verdadeiramente formidável cair nas mãos do Deus vivente!” – Hebreus 10,31

Faz algumas semanas, o diácono da nossa paróquia me mostrou um recorte de jornal sobre o evento da Sociedade de Cientistas Católicos realizado recentemente em Chicago. Como membro desta sociedade, eu sabia que o evento ocorreria, mas, infelizmente, não pude participar.

Depois de ler o artigo, no entanto, fiquei surpreso: por que uma reunião de cientistas que também são católicos romanos é tão chamativa para ser coberta pela imprensa? Por acaso existe algum oximoro oculto em “cientista católico”?

A resposta é não, mas, antes de aprofundar, eu gostaria de explicar alguns dados biográficos sobre mim.

Meus bisavós eram rabinos, mas eu cresci como judeu laico. Do meu jeito, acreditava num Criador. A minha paixão na adolescência era a astronomia, e, depois de visitar o planetário da minha cidade e construir um telescópio refletor de 15 centímetros, compreendi instintivamente as palavras do Salmo 19: “O céu proclama a glória de Deus”.

Durante as férias escolares em que trabalhei para o Serviço Florestal dos Estados Unidos no Parque Nacional de Yosemite, eu costumava descansar à sombra das árvores imensas e admirar a obra do Criador.

Não foi o meu passado como judeu o que impediu a busca de uma fé mais pessoal em Deus. O principal obstáculo foi a minha crença no poder da ciência de explicar todo o necessário para se entender o mundo. Eu contemplava o universo com admiração e assombro, como se fosse a criação de uma deidade – mas essa deidade não podia ser um Deus vivente.

Naquela época, não me interessava a filosofia da ciência, o seu funcionamento ou os seus limites. Eu me dedicava ao meu trabalho de uma forma quase egoísta e estava certo de que, se havia elementos que a ciência não conseguia explicar ainda, como o amor e a moralidade, ela não tardaria em conseguir.

Fatos que me marcaram

Já na idade adulta, vive alguns fatos que me impulsionaram a procurar ajuda fora do meu trabalho. Graças à feliz ação do Espírito Santo, algo me levou ao livro “Quem moveu a pedra?”, de Frank Morrison. Ao ler o relato dos dias prévios e posteriores à crucificação de Cristo, tive a impressão de que se os argumentos dele fossem expostos perante um júri imparcial, os jurados determinariam que os relatos bíblicos da ressurreição são verdadeiros sem qualquer dúvida razoável.

Acho ainda mais impressionante que, nas escrituras do Novo Testamento, pessoas consideradas ignorantes e analfabetas, como pescadores, cobradores de impostos e mulheres, foram capazes de debater com filósofos gregos e acadêmicos judeus e conseguiram difundir a fé cristã por todo o Império Romano, encarando apuros e tormentos e até morrendo por isso. Com toda a certeza, eles devem ter-se inspirado nos encontros com um Jesus ressuscitado e ouvido a voz interior do Espírito Santo.

O que meus colegas diriam

Também notei que se o relato evangélico da Ressurreição é digno da nossa fé, o resto também deve ser, particularmente a narração em que Jesus dá a Pedro as chaves do Reino dos céus, fundando assim a Igreja. Por conseguinte, a religião cristã à qual eu tinha de me converter era a católica romana.

É claro que todo o processo de compreensão e conversão foi uma decisão racional, sem visões nem vozes do além; eu apenas apliquei um foco descendente. Decidi me converter ao catolicismo sabendo que a minha esposa, católica da vida toda, ficaria encantada, mas que os meus amigos cientistas se horrorizariam. Eu já imaginava o que diriam de mim: “O que foi que houve com o Bob?”, “Ficou doido com a idade?”, “Se não pesquisa mais, apelou para a religião para manter a mente ocupada”.

Apesar de tudo isso, fui procurar o pároco da minha esposa e disse a ele que queria me converter ao catolicismo.

Existem diversas categorias no meu novo sistema de crenças; por isso, eu gostaria de dividir em duas partes a pergunta “Em que deve crer um cientista católico?”.

Crença em um Deus criador

Como já expliquei, eu pensava, inclusive quando era um adolescente agnóstico, que fosse o que fosse que tivesse originado o mundo, com certeza tinha feito uma obra maravilhosa. Provavelmente, vários cientistas sentiram o mesmo. Nem todos pensam que as quantidades abstratas procedentes de equações, como a gravidade ou as flutuações quânticas, foram as responsáveis pela criação. Acho provável que muitos cientistas, caso pensem em Deus, o imaginem da mesma forma que Einstein (“Der Alte”): um Deus criador, mas impessoal.

Crença em um Deus pessoal

Vários anos antes da minha conversão, fui acreditando, aos poucos, que precisava existir um Deus pessoal, que cuidasse de todos nós. Do contrário, o mundo não faria sentido.

A conversão, para mim, não foi um processo descontínuo e bem definido: antes da conversão, agnóstico, e depois, crente em todos os dogmas e doutrinas da Igreja. Como cresceu e se transformou então a minha fé?

Crença em Jesus Cristo e no dogma católico

Durante o meu processo de iniciação cristã de adultos, quando recebia catequese para ser batizado na Vigília Pascal, manifestei minhas dúvidas sobre alguns dogmas da Igreja, em particular sobre o mais importante de todos, que é a Transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo.

Como físico, foi difícil, para mim, entender que as moléculas da hóstia e do vinho pudessem virar carne e sangue. Eu desconhecia na época o significado dos conceitos aristotélicos de “substância” e “acidente”. O sábio sacerdote que me dava catequese, o padre McA, me perguntou: “Você crê na Ressurreição de Jesus Cristo e no Seu nascimento virginal?”.

“Com certeza! Por isso é que eu estou me tornando católico”, respondi.

“Se você pode crer em dois milagres, por que não poderia crer em mais alguns?”

Adoro Te Devote

É uma resposta perfeitamente lógica, mas a minha fé na Eucaristia não veio através de uma operação intelectual, mas da música. Semanas depois de o sacerdote me falar dos milagres, a paróquia celebrou a devoção das 40 horas e convidou a nós, catecúmenos, para participar da Adoração ao Santíssimo Sacramento.

E aí aconteceu. Enquanto a custódia era levada em procissão, cantava-se o hino Tantum Ergo e eu ia lendo a letra: “Præstet fides supplementum sensuum defectui”. Ainda me lembrava do latim do colégio e entendi: “A fé suprirá a incapacidade dos sentidos”.

Era isso. Os meus olhos se encheram de lágrimas enquanto eu entendia que a hóstia diante de mim era realmente o Corpo de Cristo, um mistério além da ciência e da filosofia. Era a minha fé.

São Tomás de Aquino escreveu grandes obras de teologia e filosofia, mas talvez os seus hinos tenham sido a evangelização mais efetiva, por atingirem e educarem o maior número de pessoas.

Conforme o tempo foi passando, pude comparar a minha fé católica a uma árvore, plantada no mais profundo das bases da fé. O solo é a crença na Trindade, que alimenta a minha fé, e o dogma e as doutrinas dessa fé são as raízes da minha crença religiosa.

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Robert Kurland

Tags:
CiênciaConversão
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