Uma psicóloga dá valiosos conselhos Claudine Badey-Rodríguez é psicóloga especializada em gerontologia e autora, juntamente com Rietje Vonck, de Cuando el carácter se vuelve difícil con la edad (“Quando a pessoa se torna difícil com a idade”). Ela também escreveu La vie en maison de retraite (A vida em um asilo). Confira, nesta entrevista, um pouco de seus pensamentos sobre como cuidar de nossos pais quando eles vão ficando idosos.
É nosso dever cuidarmos de nossos pais?
Claudine Badey-Rodriguez: embora possa impactar, a resposta é: não necessariamente. Tudo depende de nossa história. O simples fato de nos tornarmos protetores deles pode causar confusões na ordem geracional e reativar sentimentos vividos na infância, como sofrimento, raiva e frustrações. Se recebemos muito amor, podemos, por exemplo, desencadear o pensamento de que não estamos fazendo muito por nossos pais. A situação também pode despertar rivalidades entre os irmãos, talvez até com a cumplicidade dos pais. Depende de cada um avaliar o que é menos nocivo, equilibrando os riscos e benefícios. Devemos escolher entre termos a culpa por não vermos nunca os nossos pais ou o esforço de nos encarregarmos deles algumas vezes por ano. Por outro lado, sim é nossa responsabilidade garantir que alguém – profissional ou não – cuide deles.
Como não levar a mal as atitudes negativas dos pais?
Claudine Badey-Rodriguez: Entendendo bem os problemas recorrentes entre nós e nossos pais. Esses problemas, geralmente, surgem de forma inconsciente. Também devemos saber que as críticas que eles fazem e a agressividade comum a quem já atingiu certa idade podem ser indícios de sofrimentos causados pela perda da função social ou da autoestima. O melhor, então, é ouvi-los, ajudá-los a expressar o que eles sentem, consolá-los, valorizá-los, tentar mudar de assunto quando eles começarem a se lamentar. Também é preciso incentivá-los a ir ao médico, pois sintomas desse tipo podem ser sinais de alguma patologia.
Como estabelecer limites?
Claudine Badey-Rodriguez: Não devemos aceitar tudo o que nossos pais fazem por causa do pretexto de que eles estão envelhecendo. É preciso detectar suas peculiaridades – assim é mais fácil estabelecer limites e estarmos atentos às nossas emoções, ao que estamos dispostos a suportar (ou não) – e a dizer tudo isso aos nossos pais. Falar sobre o que te incomoda em seus pais implica tratá-los como seres humanos responsáveis por seus atos. Além disso, é preciso considerar que somos cuidadores, não os pais de nossos pais.
Como não ficar sobrecarregado?
Claudine Badey-Rodriguez: É necessário antecipar o que pode acontecer, organizar reuniões familiares para dividir as tarefas, encontrar ajuda externa para si mesmo e para os pais. Os pais também deve participar de tudo o que planejamos fazer com eles.
Como impedir que alguém se sinta culpado?
Claudine Badey-Rodriguez: Quando um pai ou uma mãe se torna dependente, é difícil evitar o sentimento de culpa. Isso é o que nos impulsiona a fazer mais por eles, às custas,inclusive, de nossa própria saúde. É importante saber reconhecer isso, identificar nossas motivações e conversar com uma terceira pessoa. Pode ser com um familiar, um médico ou um grupo de apoio psicológico. Por que não procurar um psicólogo? Ajudar o que ajuda é algo fundamental para seguir adiante.