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Abuso verbal… o que é e o que fazer em relação a esse grave problema

Verbal Abuse

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Jim Schroeder - publicado em 07/09/17

Este tipo de abuso pode não receber tanta atenção, mas, muitas vezes, é o mais difícil de abordar

Outro dia eu estava lendo um artigo e me lembrei do que ouvi de clientes no meu consultório de terapia ao longo dos anos.

O título do artigo era “I Am Living with a Verbally Abusive Spouse, and It Is Soul Sucking” (sua tradução literal é: Estou vivendo com um esposo verbalmente abusivo, e isso é desagradável à alma). É um artigo forte, cheio de confissões de uma vítima de constantes abusos verbais. O que o torna particularmente doloroso é que não só você tem um senso real da tensão e da incerteza que essa pessoa sente, mas também como os padrões de abuso abrem “velhas cicatrizes” de maus-tratos desde a infância e deixa o cônjuge com a difícil escolha: vou embora, entre várias incertezas e frustrações, para que meu filho e eu não precisemos mais viver assim? Ou fico e tento fazer o melhor em uma situação tão prejudicial?

Milhões de pessoas enfrentam as mesmas circunstâncias. Embora, compreensivelmente, muita atenção seja dada ao abuso físico e sexual, a realidade é que o abuso verbal crônico muitas vezes tem um efeito mais duradouro e também é muito difícil de abordar. 

O que constitui abuso verbal, e o que não constitui?

Em geral, abuso verbal é definido pelo “uso excessivo da linguagem para minar a dignidade e a segurança de alguém através de insultos ou humilhações, de forma súbita ou repetida”. Pode ocorrer de muitas formas, seja por insulto direto, comentários grosseiros, palavrões, insinuações negativas repetidas ou coisa semelhante. É certo que categorizar algo como abuso verbal pode ser mais difícil do que com outros tipos de abuso. Mas a chave para reconhecer o abuso verbal reside nos conceitos de “debilitar a dignidade”. Manifestações não ofensivas de raiva ou frustração, especialmente aquelas que começam com ‘eu’, normalmente não atendem a esse critério. Mas se a minha queixa for como “você é uma idiota!”, então a afirmação é muito mais focada em denegrir o outro sujeito.

Além disso, repetidos comentários como estes levam a circunstâncias que são duras e denegridoras. Como a autora observou no artigo, ela vivia com “medo”, insegura de quando aconteceriam os próximos comentários indignos. Já havia experimentado abuso e degradação em sua infância, este ambiente só reforçou um “senso miserável de si mesma” e a deixou sentir-se distante tanto de seu noivo quanto de quem desejava ser. Em última análise, o abuso verbal vem de um falso senso de privilégio ou autoridade que permite que as pessoas tratem os outros de maneiras que elas próprias não aprovariam.

Então, o que acontece se você se encontra em uma situação verbalmente abusiva, ou se você mesmo é o agressor?

Qualquer situação assim é humilhante e indesejável, mas existe saída. Como observei em um artigo anterior, o primeiro passo é entender que os esforços realizados para melhorar essas circunstâncias são tão importantes, ou mesmo mais importantes, quanto os esforços para ter uma casa agradável ou dar aos nossos filhos todo tipo de experiências. Dito de outra forma, se nós, como povo e sociedade, estamos interessados ​​em melhorar os resultados para nós e nossas comunidades, devemos investir para acabar com a miséria psicológica, assim como investimos em enfrentar a pobreza de outros tipos. Isso é nobre e importante.

Uma vez que reconhecemos o valor dessa luta, tanto os abusados ​​como os abusadores precisam compreender mais como ocorre o abuso verbal. John Gottman oferece uma ótima visão em seu livro Seven Principles for Making Marriage Work. Ele detalha o que chama de “4 Cavaleiros”: crítica, obstrução, defensiva e desprezo. Embora ele considere o desprezo o pior, cada um deles repetidamente carrega consequências ameaçadoras para o relacionamento e para o indivíduo. O exemplo que mencionei anteriormente é uma crítica porque degrada a pessoa, não uma queixa que aborda a situação. No entanto, o que ocorre em cada um dos quatro cavaleiros é que, ao invés de se aproximar de uma situação em discussão, a pessoa denigre a outra, ao invés de focar no possível problema.

Estou convencido de que poucas pessoas gostariam de viver assim. Mas o que parece acontecer é que ele ou ela ou: a) tem habilidades de comunicação precárias; b) luta para gerenciar situações estressantes dentro ou fora da casa; c) falta admitir o erro; d) não abordou adequadamente o trauma ou abuso sofrido anteriormente, e/ou e) geralmente é doente (fisicamente, psicologicamente ou de outra forma). Qualquer tentativa verdadeira de reduzir ou eliminar o abuso verbal do lado do agressor deve considerar e se concentrar em cada uma dessas áreas. Muitas pessoas têm uma boa intenção, mas, a menos que técnicas/conhecimentos específicos sejam combinados com um quadro de estilo de vida sólido, é provável que os ganhos sejam mínimos.

Se você está sendo abusado, qual é a solução?

Não há respostas fáceis. A primeira sugestão é considerar que o maior poder que alguém tem está no início de um relacionamento. Eu enfatizo isso repetidamente para os adolescentes. É preciso identificar o problema no início, antes mesmo de iniciar um possível namoro. Para aqueles que namoram há muito tempo, são casados ​​ou já têm filhos, há algumas etapas.

Primeiro, uma vez que o abuso verbal é, em essência, “fútil, denigre a comunicação”, o contrário deve ocorrer se as etapas forem feitas dentro do relacionamento. Lutar contra a má comunicação com uma comunicação fraca (ou nenhuma) não aliviará uma situação ruim. Em segundo lugar, as pessoas devem procurar ajuda de outras pessoas (por exemplo, médicos, conselheiros, terapeutas, amigos, religiosos) se o cônjuge ignorar repetidamente os limites da dignidade e da decência. Eu sei que isso parece arriscado, e pode ser, mas é muito menos arriscado do que ficar quieto sujeitando-se à violência verbal. Manter-se quieto e preservar uma falsa “imagem feliz” é uma das formas mais seguras de permitir o abuso verbal em longo prazo.

Finalmente, considere o que eu mencionei sobre admitir o problema e sobre a saúde geral em relação ao abusador. O mesmo se aplica aos abusados. O caminho exige resistência, regulação emocional, que devem vir de fontes mais profundas. Essas fontes podem incluir um compromisso renovado com a fé, melhores práticas de saúde ou suporte interpessoal (entre outros), mas, qualquer que seja o mecanismo usado, isso deve ajudar as pessoas a passar pelas tempestades que podem surgir durante o processo de tentar mudar para melhor.

Algum tempo atrás, uma mãe foi ao meu consultório com um de seus filhos, que estava tendo dificuldades de sociabilidade. Descobri que a própria mãe sofrera abuso físico e verbal quando criança. Ela estava tomando medidas proativas com seus filhos para garantir que isso não fosse transmitido para as gerações vindouras. Ela queria criar crianças que entendessem o que significa tratar o outro com dignidade e respeito.

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