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‘E agora?’, perguntam aqueles que perderam tudo no terremoto do México

MEXICO

/ AFP PHOTO / Victoria RAZO

Agências de Notícias - publicado em 11/09/17

Em Juchitán já não há escolas, hospitais ou igrejas. Além do mercado principal, desabaram muitos hotéis, bancos, comércios

Refugio chora sem parar, enquanto acompanha um cortejo fúnebre em Juchitán, o povoado mais devastado pelo último grande terremoto a sacudir o México. Assim como muitos desabrigados, ela perdeu sua casa e família, mas também a esperança no futuro.

O tremor de 8,2 graus derrubou milhares de casas na noite de quinta-feira passada e tirou a vida de 96 pessoas, ao menos 37 delas em Juchitán, um povoado tropical de cerca de 100.000 habitantes no estado de Oaxaca (sul).

Chorar pelos seus mortos e ficar sem teto, água e eletricidade é só o início do calvário dos sobreviventes, cujo mundo como o conheciam deixou de existir.

“Já não sei se choro de tristeza, pelo choque do terremoto ou de medo do que vai acontecer. Como viveremos agora?”, se pergunta Refugio Portales, rodeada por uma banda que toca música fúnebre enquanto assiste ao sepultamento da sua amiga falecida na tragédia.

No dia anterior, Refugio, de 52 anos, enterrou seu irmão e um sobrinho, que foram esmagados quando sua casa desabou com o sismo, assim como a papelaria onde trabalhava.

Em Juchitán já não há escolas, hospitais ou igrejas. Além do mercado principal, desabaram muitos hotéis, bancos, comércios, escritórios e restaurantes – e, com eles, muitos empregos.

Também não há onde se queixar, porque o palácio municipal foi reduzido a escombros.

“O que aconteceu é muito grande, ultrapassa a simples vontade do governo”, disse sob anonimato um dos centenas de militares que chegaram a Juchitán junto com tropas de policiais e bombeiros.

O socorrista Miguel Ángel Nava concorda que a tarefa é “titânica”. Com seu traje laranja brilhante tenta recuperar os poucos objetos de valor de uma família entre os escombros.

– “Ultrapassando o desespero” –

O sismo também causou danos e mortes nos estados de Chiapas e Tabasco. Mas só em Oaxaca há 76 mortos, 80.000 desabrigados e 41 municípios onde uma em cada três casas foi afetada, segundo estimativas oficiais.

“Quero pedir a vocês paciência. Não é algo que se possa fazer da noite para o dia”, disse a ministra de Desenvolvimento, Rosario Robles.

Mas ter paciência é difícil em Juchitán. Em um dos bairros humildes deste povoado, um grupo de crianças comemora freneticamente quando vê chegar um caminhão do Exército com mantimentos, enquanto seus pais correm atrás deles.

“Há muita gente que precisa e não está recebendo ajuda. Que nos deem igualdade!”, grita furiosa Adolfina Maciel, uma dona de casa de 40 anos que saiu correndo em direção aos soldados mas não alcançou as bolsas de água que distribuíram.

Yazmín Gutiérrez, que vive em um abrigo onde foram distribuídas as bolsas de água, compreende que os gritos de Maciel são “de tristeza, porque ela não tem água para dar à sua família”.

Há mais de 30 famílias com dezenas de crianças em abrigos. Alguns apresentam febre, vômitos e dor de cabeça, mas não têm remédios.

“Acho que aqui estamos ultrapassando o desespero”, comenta Tania López, que vive no acampamento desde a noite do terremoto.

“A ajuda que trazem não é suficiente, mas mesmo que fosse, é passageira. E depois? Vamos ficar sozinhos”, afirma.

– “Sem um centavo” –

Rosa Pérez, padeira de 71 anos, não sabe para quem venderá seus biscoitos e panquecas. O preço dos ingredientes subiu exponencialmente devido à escassez provocada pelo sismo, e a ideia de entrar em sua casa destruída para ligar o forno a apavora.

“Em qualquer momento tudo pode desabar. E mesmo que eu vencesse meu medo e entrasse, ninguém compraria meu pão porque não há fonte de renda para ninguém”, explica Pérez, que perdeu sua última irmã viva, que não conseguiu abandonar sua casa durante o terremoto.

A inquietação está em cada esquina. Iván Rodríguez, artesão e pai de família de 40 anos, é consumido pela angústia desde que soube que o mercado onde guardava toda a sua mercadoria desabou.

“O abastecimento do exército dura um dia ou dois. Hoje já não temos nada. Agora estou sem um centavo e não tenho como alimentar meus filhos”, diz, sem conseguir disfarçar as lágrimas.

Quando acaba a distribuição de mantimentos, as crianças se despedem dos soldados como se fossem super-heróis.

“Sua inocência não permite que assimilem o que está acontecendo, felizmente”, diz López, enquanto um grupo de meninos sorridentes brinca de carrinho com as caixas de remédio vazias.

(AFP)

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