Duas igrejas católicas foram queimadas e um templo evangélico foi vandalizado em ataques simultâneos ocorridos na madrugada desta quarta-feira na região de Araucanía, no sul do Chile, onde vive grande parte das comunidades mapuches.
Autoridades informaram que nos locais atacados foram encontrados panfletos protestando contra os julgamento de indígenas mapuches acusados por um ataque incendiário anterior contra outro templo religioso e o assassinato de um casal de idosos ao queimar a casa em que moravam.
Os quatro indígenas acusados e presos preventivamente completam nesta quarta-feira (20/9) 103 dias de greve de fome, e médicos pediram às autoridades chilenas que tomem medidas para evitar a morte dos réus.
Nos últimos quatro anos, o sul do Chile vive um conflito com os indígenas mapuche, que se sentem como filhos “bastardos” em um país que não reconhece seus direitos.
Ataques a igrejas e equipamentos florestais são geralmente reivindicados pelo “Weichan Auka Mapu”, ou “Luta do território rebelde”, um novo grupo mapuche radical.
Enquanto os grupos empresariais falam de “terrorismo” – 209 caminhões foram queimados na zona desde 2013 -, os mapuches reivindicam a restituição de terras que consideram suas por direitos ancestrais, e que hoje estão nas mãos de empresas florestais.
Os empresários, por sua vez, pedem a intervenção do governo para mediar este conflito centenário sob pena de convocar uma greve nacional.
Os mapuches, “gente da terra” em sua língua nativa, foram os primeiros habitantes do Chile e de parte da Argentina. Lutaram contra os conquistadores espanhóis até que, no final do século XIX, foram submetidos pelo Exército chileno à chamada “pacificação de Araucanía”.
Reduzidos a 700.000 pessoas, dos 17 milhões de habitantes do Chile, em sua maioria moram em pequenas comunidades nas regiões da Araucanía e Los Ríos, a 600 quilômetros ao sul de Santiago.
Há dois meses, ao apresentar um plano integral para a região da Araucanía, a presidente Michelle Bachelet reconheceu que o país “falhou” com povo mapuche e pediu perdão “pelos erros e horrores” cometidos, em uma tentativa de começar a saldar uma velha dívida com a maior etnia chilena.
O plano inclui a criação de um Ministério de Povos Indígenas e de um Conselho de Povos Indígenas, além de oficializar o uso do mapudungún, a língua mapuche, na região da Araucanía, assim como estabelecer o 24 de junho o Dia Nacional dos Povos Originários.
Em relação à restituição de terras, um comitê interministerial atualizará o cadastro e águas indígenas. Nos últimos 25 anos foram comprados, subsidiados ou regularizados quase 230.000 hectares de terras ao povo mapuche.
(AFP)