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Religião
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A “lógica” progressista e seu rótulo de “obscurantismo” para tudo que é cristão

feminista intolerante

Creative Commons

Rômulo Cyríaco - publicado em 25/09/17

Fazer escárnio do cristianismo e expor erotismo a crianças é iluminação e virtude revolucionária. Já os cristãos e conservadores defenderem a si mesmos e aos seus valores é obscurantismo.

Hoje, li que o obscurantismo está “ganhando terreno nesse Brasil”, em postagem que compartilhava um texto publicado no Estadão online, intitulado: “Museus já adotam autocensura para evitar repetição do caso Santander“, ainda sobre o cancelamento da exposição Queermuseu. Li a matéria, e muitas coisas se tornam visíveis, a partir da mesma, e do comentário sobre “obscurantismo”, palavra que os progressistas estão usando com frequência para se referir ao caso.

No tal texto, o autor diz, sugerindo que uma onda inaceitável de censura da arte e da liberdade de expressão pode se iniciar a partir do cancelamento de Queermuseu:

Deve o mesmo Masp fechar as portas da retrospectiva de Toulouse-Lautrec por exibir obras de sexo explícito entre mulheres? O Masp encontrou uma forma de manter esse tipo de conteúdo acessível apenas a maiores de idade, adotando o procedimento de avisar que a mostra não é apropriada para todas as idades. Contudo, uma cortina preta não deixa de ser equivalente a uma tarja, a uma censura de conteúdo.

Este trecho me chamou a atenção, em especial. Afinal, não seria uma coisa boa, muito boa, que o Masp se preocupe com a classificação indicativa de uma exposição cujas obras podem, talvez, não ser apropriadas para menores de idade? Ou seria mais progressivo e “igualitário” com os menores não se prender a essa repressão moralista e puritana que julga – e impõe – que só os adultos têm maturidade suficiente para ver obras como aquelas expostas no Santander Cultural?

Queermuseu Santander
Exposição Queermuseu - Reprodução

Impressiona também o fato de que nem o referido texto, nem grandíssima parte das manifestações de progressistas a favor da manutenção da exposição referia-se, proporcionalmente, ao fato de que crianças efetivamente frequentaram a mostra, e que o item “Objetivos” do projeto de Queermuseu falava explicitamente do “público escolar” como público alvo, como citei no artigo anterior sobre o assunto. Havia um programa educativo (sic) no projeto da mostra, o que revela a clara intenção consciente de expor um amplo público de menores de idade ao conteúdo da mostra.

O texto faz referências à obra de Katsushika Hokusai, pintor e gravurista japonês do Século XIX, de quem algumas gravuras tem conteúdo erótico explícito, e a quem a obra de Adriana Varejão exibida em Queermuseu, Cena de Interior 2 – que contém as cenas de sexo com animais etc. – parodia. “Nenhum museu civilizado proibiu até hoje a exibição do clássico Hokusai (1760-1849), endeusado pelos pintores impressionistas. Nem censurou sua zoófila imaginação”.

Como fazê-los entender? Progressistas, prestem atenção:

Seja Adriana Varejão, Hokusai ou Toulouse-Lautrec, a classificação indicativa deve continuar sendo primordial, na exibição de qualquer entretenimento ou conteúdo artístico. A exposição cancelada não apenas não teve essa preocupação, mas estimulou a presença do público escolar, frente a um conteúdo muito mais perturbador e ideologicamente orientado do que qualquer Hokusai ou Toulouse-Lautrec. Além de ser de baixa qualidade estética, as obras eram em sua maioria grosseiras, e uniam à pornografia a ofensa criminosa à religião, estando em total coerência com a sistemática doutrinação LGBTT em que hoje se investe dinheiro pesado no mundo todo. Por quê os progressistas não estão discutindo isso, e desviando o assunto para comparações que não têm nada a ver com a história?

O status quo da esquerda política é curioso, e repleto de contradições, que são verdadeiros pontos cego que muitos nem sequer podem mais perceber em seus discursos, e na própria realidade. Enquanto, por um lado, a educação religiosa – ou a mera referência ao cristianismo, em certos âmbitos – é vista hoje como “imposição” ou “opressão”, por outro, o ataque sistemático, baixo e grosseiro à fé cristã é visto como virtude revolucionária. Expor as crianças à catequese é um crime, mas expor as crianças ao escárnio dos símbolos cristãos e ao erotismo, é elevação do espírito.

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Por que não estão discutindo, também, o fato de que, nesse aspecto, a exposição Queermuseu cometeu um crime?

Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Quanto à questão da censura x liberdade de expressão, há uma enorme diferença entre, por exemplo, um acadêmico analisar criticamente o discurso e as motivações do feminismo contemporâneo diante de uma plateia adulta, e ser censurado por um grupo que tenta impedi-lo de falar, porque se sentem “ofendidos” com suas ideias, contrárias às suas, ou qualquer situação análoga que se possa imaginar ou concretamente pesquisar, e 1) fazer algo que é contra a lei, ou seja cometer um crime, que é “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”, e 2) mostrar conteúdo pornográfico para crianças. Pensar a liberdade de expressão como ausência de critérios (éticos, morais) para as expressões, resulta numa expressão sem responsabilidade. Resulta também numa confusão entre interesse privado (“posso falar o que eu quiser”), e interesse público (“inclusive obscenidades para crianças”, “e vilipendiar objeto de culto religioso, não importa se é contra a lei”). É de interesse público, por exemplo, que as investigações acadêmicas, filosóficas, científicas, sejam livres, e que as ideias possam ser livremente pensadas, investigadas e compartilhadas, ainda que sejam “ofensivas” à sensibilidade de um grupo social ou ideológico qualquer, em especial aqueles que hoje são super-sensíveis a discordâncias e questionamentos, e que têm o apoio majoritário do sistema, tanto na comunicação quanto no financiamento. Mas não é de interesse público ambas as coisas, acima citadas, feitas pela exposição em questão, pois, além de serem contra a lei, ferem a formação de crianças – independente de quem sejam essas crianças, e a que tipo de família pertençam – que não têm a maturidade necessária para filtrar e corretamente assimilar as informações e imagens que vêem sem prejuízo.

Qualquer um que saiba meia-coisa sobre o cristianismo e a Igreja Católica, sabe que a hóstia, quando consagrada pelo sacerdote, transubstancia-se em Corpo e Sangue de Cristo, do qual, assim, comungamos, no sacramento da Eucaristia, instituído pelo próprio Cristo na Última Ceia. Isto é para que tenham uma ideia do nível de ofensa que é representar hóstias com as inscrições – muito “edificantes” para as crianças – “cu”, “vagina”, “pênis”, “língua”. Esse pessoal colocou na cabeça que o cristianismo é contra o sexo – o que só é verdadeiro no mundo da sua imaginação, no qual, aliás, não existe verdade nenhuma, e tudo é relativo – e respondem com essas grosserias como se, eles sim, estivessem captando a verdade essencial do corpo e da sexualidade humana. Já que a Igreja (e isso é mesmo verdade) considera o corpo como um “templo” do Espírito Santo de Deus (1 Cor,6), que assim sendo, deve ser santificado – o que não significa repressão da sexualidade, mas, pelo contrário, devolução do seu verdadeiro valor, propiciação da sua realização máxima como expressão de amor – os progressistas e ateístas respondem tratando o corpo e a sexualidade, em suas obras de anti-arte e em seu comportamento, como realidades que devem ser violadas e profanadas da maneira mais provocadora e ultrajante possível, para provarem como são “iluminados” e livres dos “preconceitos” da Igreja Católica.

Femen
© Benoit DOPPAGNE / BELGA / AFP

Hoje, o movimento LGBTT faz pressão e protesto para que, por exemplo, uma palestra sobre a perspectiva de gênero ministrada por um bispo católico numa universidade católica ( ! ) como a PUC-Rio seja interrompida, alegando que “a Arquidiocese do Rio de Janeiro é reconhecida por seus posicionamentos conservadores que vão contra todo o tipo de promoção de equidades” – mas, por outro lado, trata como “obscurantismo” a manifestação dos cristãos em defesa de si mesmos e de sua religião, sob um ataque tão frontal, grotesco e absurdo. As ações e reações deles são muito desproporcionais: uma palestra, que é resultado e proposta da livre investigação intelectual sobre uma questão que compõem a paisagem política e cultural atual, deve ser proibida porque é intolerante com os LGBTT. Mas os LGBTT podem expor obras que violentamente agridem a fé cristã sem propor nenhuma reflexão, nem qualquer experiência estética válida – a que oferecem é uma que meramente repudia o sublime, e vê como valor o embrutecimento do espírito – e não vêem nenhuma intolerância nisso. Pelo contrário, a mostra é “socialmente consciente”, e os intolerantes são ainda os conservadores e católicos que fizeram pressão para “censurar” a liberdade de expressão deles.

Leo Moura lamenta desrespeito gay contra Cristo
Leo Moura - Facebook

A disparidade no padrão de avaliação das ações e motivações da esquerda e dos conservadores é impressionante. Quando a esquerda se organiza, como recentemente nos EUA, por exemplo, para remover e arrebentar estátuas de personagens históricos que lhes são “ofensivos”, e proibir a exibição de filmes dos anos 30 – como “E o Vento Levou…” porque eles têm estereótipos raciais, não sabendo mais colocar as coisas em contexto histórico e querendo controlar o passado, isso é visto como iluminação e libertação. O mesmo quando se organizam para impedir à força – às vezes agredindo pessoas fisicamente – eventos e palestras de autores conservadores, em universidades e outros locais, o que vem acontecendo numa dimensão assustadora nos EUA, no Canadá e em outros países, incluindo o Brasil. Isso é virtude – certo? Mas, por outro lado, quando os conservadores se organizam contra um desrespeito público grosseiro contra valores que lhes são caros, bancado com dinheiro público, e com ampla frequência de um público “escolar”, é obscurantismo e Hitler está prestes a voltar. Certo?

Basicamente, é isso: eles querem uma sociedade em que seus adversários não possam nada, e eles possam absolutamente tudo. Não apenas isso! Devem poder também tudo com nossas crianças, e utilizando para isso o dinheiro público! (Coisa que o tal do texto do Estadão, acima, também sequer cita!). Devem poder impor sua ideologia a todas as escolas do país, através de todas as produções culturais do mainstream, e se resistirmos, somos intolerantes fascistas. Não são eles os fascistas, impondo à força a sua ideologia em escala massiva, com estratégias sofisticadas de controle da consciência e do comportamento. Quanto à mostra, aparentemente, é “progressivo” e “iluminado” – além de expor pornografia sem classificação indicativa – ofender o cristianismo daquela forma. Defendê-lo, no entanto, é obscurantismo medieval. Algo assim ocorre, na era da “inclusão” que defende qualquer religião contra ataques e preconceitos, e tem o combate à “islamofobia” como pauta prioritária, mas a inclusão e a tolerância não deve incluir o cristianismo, não é mesmo?

Com Lautrec, Hokusai, seja lá qual for o exemplo do passado que queiram dar – de artistas considerados grandes, e que pintaram e exibiram obras com erotismo – a diferença “sutil”, é que o que ocorre hoje em dia é um movimento organizado, nas mídias, no entretenimento, nas artes, nos programas educacionais, dessa ideologia política (refletida na mostra) para crianças e adolescentes, e a reação que se tem contra essa mostra não é contra essa mostra somente, mas contra uma realidade política gigantesca, que configura uma verdadeira guerra cultural.

Além disso, o discurso de que o MBL (Movimento Brasil Livre) é que precipitou o encerramento do evento, sozinho, é simplesmente ridículo. Qualquer um que tenha acompanhado a mobilização espontânea que ocorreu contra a exposição, sabe que o MBL é uma coisinha pequena no meio de uma mobilização muito maior de cidadãos e muitos outros grupos, que não são da “extrema direita” como quer a mídia progressista. Muitos destes cidadãos e grupos, inclusive, não estão de acordo com o MBL em muitas coisas, senão frontalmente em desacordo. Mas tal redução é instrumental para as mídias, e o obscurantismo ao qual atualmente servem.

As mídias, e os blogueiros defensores da “justiça social”, por exemplo, nunca abordam o problema da cristofobia, que é grave hoje em dia e faz com que os cristãos sejam, hoje, o grupo religioso mais perseguido no mundo, com cerca de 90.000 mortes anuais especificamente causadas por causa da profissão de fé. Nunca vi, por exemplo, comentarem sobre o caso de Asia Bibi, a mulher paquistanesa que está presa desde 2009 e já esteve algumas vezes prestes a ser executada, apenas porque defendeu a sua fé diante de muçulmanos, após estes tentarem convertê-la à força, e recusarem água coletada por ela de um poço, que, por ter sido tocada por uma cristã, teria se tornado “impura” para eles. Asia ainda se encontra presa, quase 10 anos depois, e existem muitos casos como o dela no mundo. A decapitação de 21 cristãos numa praia do Egito, filmada e exibida pelo Estado Islâmico, assim como o Padre francês que foi degolado por dois jihadistas ao celebrar uma Missa, são coisas que não geram escândalo nem entram na pauta dos jornais e dos defensores da “justiça social”. Além do concreto genocídio no Oriente Médio e na África, a cristofobia se manifesta claramente na cultura ocidental, em suas produções discursivas, em sua mentalidade comum, em suas instituições, e em uma pressão crescente para que as manifestações cristãs sejam reprimidas da paisagem sociocultural – enquanto, por outro lado, investe-se dinheiro no escárnio e vilipêndio público de seus símbolos. Além de muitos colégios católicos terem fechado recentemente, no Brasil, tenho conhecimento de alguns em que muitos pais de alunos que não são católicos vêm exigindo a descaracterização das manifestações religiosas, como a interrupção da anual Coroação da Virgem Maria, em um colégio a ela dedicado. Recentemente, na Califórnia, uma escola católica removeu de seus ambientes compartilhados muitas das imagens de Jesus, de Maria e de santos, para ser mais “inclusiva”. Enquanto tudo isso ocorre, e trata-se de uma perseguição real, os cristãos não instrumentalizam a “cristofobia” para se vitimizarem estrategicamente, como fazem os grupos minoritários cuja ideologia é hoje a mesma do Poder, que em nome da “homofobia”, da “transfobia”, da “misoginia” e outras “fobias” – sendo “fobia” qualquer discordância frontal com o seu discurso e seus projetos – querem determinar autoritariamente como tudo vai acontecer no mundo daqui pra frente.

Martírio dos 21 cristãos coptas

Nas chantagens discursivas do novo movimento feminista, e LGBTT, gostam de dizer que qualquer um que critique ou meramente analise o discurso e a base filosófica do movimento, gera ou colabora com o homicídio, o suicídio etc., porque estaria indo contra o “oprimido” que apenas tenta se defender, e colaborando com os “opressores” – mesmo quando um discurso claramente estaria apto a defender um indivíduo, uma pessoa (de que raça, classe, sexo ou “gênero” for) que fosse concretamente ferida por qualquer motivo, e preocupa-se muito mais com o debate sobre ideias e sua instrumentalização política na realidade global. Por outro lado, o que teriam eles – e todos os progressistas – a dizer, portanto, da factual perseguição cultural e concretamente genocida a cristãos, apenas por serem cristãos, nos dias de hoje? O que teriam a dizer da deliberada ignorância sobre essa questão nas mídias e na comunicação mainstream em geral, e nas suas pautas justiceiras e revolucionárias, e do fato de que, enquanto isso acontece, a cultura e a espiritualidade cristã continuam sendo agredidas e perseguidas, inclusive por eles mesmos?

A palavra “obscurantismo” assim se define:

Obscurantismo é a prática de deliberadamente impedir que os fatos ou os detalhes de algum assunto se tornem conhecidos. Mais especificamente, há duas denotações históricas e intelectuais comuns de “obscurantismo”: deliberadamente restringir o acesso do povo ao conhecimento; um estilo de ser obscuro (como em literatura e arte) caracterizado pela indefinição deliberada.

É preciso que se comece a falar no verdadeiro obscurantismo atualmente operante – o do Estado Global, das fundações “filantrópicas” que investem na propagação incessante da nova ideologia, para fazê-la onipresente na paisagem sociocultural global, através da ONU, da Unesco, da Organização Mundial de Saúde, de todos os grandes meios de comunicação, das milhares de ONGs ativistas que travestem a propagação da doutrinação ideológica de defesa dos direitos humanos, e, claro, do exército civil auto-organizado, já plenamente doutrinado, que vê nessa ideologia a libertação final, e qualquer resistência a ela como opressão intolerável que suscita, imediatamente, a sua hostilidade justiceira.

muitos detalhes de alguns assuntos deliberadamente sendo escondidos do grande público e da grande população, uma deliberada restrição do acesso do povo ao conhecimento. Sim, o obscurantismo está ganhando terreno nesse Brasil, e, literalmente, em todo o planeta. As fronteiras foram abertas ao obscurantismo e ai daqueles que tentarem ou falarem de protegê-las novamente.

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