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Refugiados e migrantes, responsabilidade também das universidades católicas

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Ary Waldir Ramos Díaz - publicado em 14/11/17

Entrevista com o Pe. Michael Czerny, S.J., do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (SDHI) da Santa Sé

Para entender mais sobre as reflexões do Papa Francisco e o desafio das universidades em relação aos migrantes e refugiados, conversamos com Michael Czerny, S.J., Subsecretário da Secção Migrantes e Refugiados (M e R) do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (SDHI) da Santa Sé. Por enquanto, o Papa está guiando pessoalmente a Seção.

“Desde o início de seu pontificado, usando tanto palavras como fatos persuasivos, o Papa Francisco encorajou a Igreja a acompanhar todas as categorias de pessoas que são forçadas a fugir. Em 2017, ele estabeleceu a Seção M e R para ajudá-lo a implementar este grande objetivo pastoral”, disse o Pe. Michael  Czerny, S.J., 71 anos, de origem tcheca e que se estabeleceu com sua família no Canadá quando tinha dois anos e meio. “Você tem que se colocar no lugar dos migrantes e refugiados, ouvir suas histórias”, disse ele.

Você acha que a globalização da indiferença mostra sua pior face no caso dos refugiados e migrantes, especialmente na falta de oportunidades educacionais? 

“Não. A indiferença, pode-se dizer, tem muitas variáveis, muitos rostos. Mas é verdade que o problema do deslocamento forçado de pessoas nos dá uma amostra importante, mesmo cruel, dessa indiferença. O problema é que nossas sociedades são organizadas de maneiras que mantêm vários aspectos da indiferença. Para citar um exemplo, muitos dos desabrigados são vítimas de doenças mentais. E não sabemos como ajudá-los, não sabemos como dar uma resposta institucional ou pessoal. Portanto, não se pode dizer que a situação de um desabrigado é menos grave do que a de um migrante forçado ou um requerente de asilo. A indiferença é globalizada e generalizada. Portanto, os recém-chegados ao país também sofrem com a indiferença”.

Qual pode ser a contribuição de seu departamento na Santa Sé em relação ao ensino superior, para ajudar os migrantes e refugiados a melhorar sua educação e aliviar a marginalização?  

“O ponto de partida é a vocação das universidades. Não se trata de dizer que elas precisam se converter em outra coisa. As universidades devem cumprir sua vocação em profundidade. Isso se traduz em pesquisa, ensino, mas também em projeção social. Nossa contribuição será lembrar as universidades das várias dimensões de sua vocação em relação às muitas pessoas que estão fugindo da perseguição, da violência, da pobreza e de mudanças climáticas graves. A universidade deve ajudar a sair da marginalização, mas se ela se acomodar em seus privilégios e sua tranquilidade, não poderá responder ou irá fazê-lo superficialmente”.

Do que estamos falando especificamente; bolsas de estudo, programas que incidam na cultura e na sociedade?

“Vamos propor uma carta de elementos que possam ser seguidos pelas universidades católicas. Mas, para nós, o mais importante não é mencionar este ou aquele programa, ou bolsas de estudo, mas cumprir a vocação universitária em relação à sociedade de hoje. Por exemplo, uma universidade que não é autocrítica na sua maneira de confrontar ideologias, racismo, xenofobia, não está contribuindo ‘universitariamente’ com a sociedade em que vive. Ter muitos títulos, bolsas de estudo e dinheiro é secundário à vocação, à missão que a universidade deve cumprir com a sociedade”.

Por que é tão difícil entender a concepção que o Papa Francisco nos convida a considerar de que os migrantes são nossos irmãos e irmãs em busca de uma vida melhor?

“Para começar, trata-se do fruto do pecado. O sinal mais difuso do pecado é desconhecimento de meu irmão e de minha irmã como tal. Pelo contrário, estou sempre tentado tratá-los como obstáculos, ou, pior ainda, como inimigos dos meus interesses. Este pecado é fundamental. Talvez precisemos de um exame de consciência: quais são os interesses da nossa universidade católica que esconde os rostos fraternos que procuram a aceitação entre nós? Como é que, desse nosso lugar privilegiado, acadêmico, católico, não os vemos?”.

Qual é o aspecto mais difícil de cumprir a partir da missão das universidades no chamado de Francisco em ‘acolher, proteger, promover e integrar’ os migrantes e refugiados?

“O obstáculo mais frequente é o estar ‘muito ocupado’ e com pressa; não temos tempo para respirar, menos ainda para ouvir. A Universidade produz para si mesma uma série de deveres, de tarefas. E como disse Jesus a Marta: ‘estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária’ (Lucas 10,41)”.

Quais são esses aspectos que esquecemos a partir de uma perspectiva mais pessoal?

“Neste momento, não temos a capacidade, a facilidade e o hábito de nos colocar no lugar do outro. Estou convencido de que tudo seria diferente se ouvíssemos a história de um refugiado que procurava asilo ou um migrante que procura um novo futuro. Se ouvíssemos algo de sua história, diremos instintivamente: “Em seu lugar, eu teria feito exatamente o mesmo, mas não teria reagido com tanta paciência”. Eles enfrentam coisas terríveis com paciência e esperança. Após um pouco de interação, não podemos deixar de reagir com simpatia e compreensão. Infelizmente, a mídia está nos inundando com uma seleção perversa de imagens e notícias, sem nos dar muito acesso à amplitude e profundidade do fenômeno”.

Haverá um pacto global sobre os refugiados e um pacto global para uma migração segura, ordenada, regular e responsável. Ambos devem ser acordados no final de 2018 na ONU. Qual será a contribuição da Santa Sé?

“Para contribuir com esses processos, nosso departamento, guiado pelo Papa, preparou dois documentos. Os 20 Pontos de Ação Pastoral são para o uso das dioceses, paróquias, congregações religiosas e movimentos da Igreja, e das escolas, grupos e outras organizações da sociedade civil, que lidam com os “forçados a fugir”. Os pontos são prioridades pastorais para programas locais e um tema-chave para homilias, educação e mídia. Convidamos todos a participar da reflexão, oração, comunicação e ação. Os 20 Pontos de Ação para os Pactos Globais são expressos em linguagem legal e fornecem mais detalhes. Eles são para o diálogo com governos e organizações internacionais, com a esperança de ver essas preocupações incluídas nos dois Pactos Globais”.

Seção Migrantes e Refugiados (M e R) da Santa Sé

A Seção Migrantes e Refugiados (M & R) é um departamento da Cúria do Vaticano orientado para a ação pastoral e dirigido pessoalmente pelo Papa Francisco, como resultado de sua convicção de que são necessários esforços e atenção especial para garantir que aqueles que são forçados a migrar não sejam excluídos ou esquecidos.

A Seção M e R encoraja a Igreja a ajudar de forma integral todos os deslocados por causa de conflitos, desastres naturais, perseguições e extrema pobreza, aqueles que fogem em busca de segurança, aqueles que estão presos em suas jornadas e as vítimas do tráfico.

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