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O cardeal Baldisseri revive com Aleteia a inesperada eleição do Papa Francisco

CARDINAL LORENZO BALDISSERI

AFP PHOTO - ANDREAS SOLARO

Silvia Costantini - publicado em 07/12/17

Uma história emocionante com detalhes incomuns e pouco conhecidos

Encontrar o cardeal Lorenzo Baldisseri significa falar sobre aqueles dias que marcaram a história do mundo dos últimos 4 anos, mas também em particular a sua vida pessoal. Falamos sobre a eleição do Papa Francisco, que aconteceu no Conclave daqueles inesquecíveis 12 e 13 de março de 2013.

Naqueles dias consta a história oficial que todos conhecemos: o protocolo, as votações dos cardeais eleitores trancados no conclave, as fumaças pretas, a espera… e a explosão de alegria das pessoas na praça com a famosa “fumaça branca”. Mas quando você é uma testemunha ocular da história, a história tem diferentes nuances.

Nos dias do conclave, o cardeal Baldisseri, ainda bispo, morava na Domus Sanctae Marthae (Casa de Santa Marta), onde mora atualmente o próprio Francisco, e atuava como Secretário do Colégio dos Cardeais e Secretário da Congregação para os Bispos.

Baldisseri já conhecia o cardeal Jorge Bergoglio naquela época, porque o acolheu quando era núncio apostólico no Brasil, durante a conferência geral do episcopado latino-americano em Aparecida, onde o atual Papa desempenhou um papel de liderança.

Segundo os estatutos, no momento do conclave, o secretário do Colégio dos Cardeais também se torna secretário do conclave e, portanto, conta Baldisseri: “Participei desde os trabalhos do pré-conclave, antes de uma reunião de 115 cardeais, entre os quais estava também Bergoglio. Após esta fase, iniciou a fase do conclave a portas fechadas”.

“Como eu dizia”, continua Baldisseri – “eu estava em Santa Marta, o palácio dos eleitores. Os quartos foram distribuídos aos cardeais através de sorteio, mas eu já tinha o meu! Tudo durou duas noites. Na segunda noite, o anúncio foi feito”.

Deixemos o cardeal Baldisseri nos dizer diretamente o que aconteceu.

* * *

Eu, sendo secretário do conclave, entrava e saia para dar as cédulas, juntamente com o Monsenhor Guido Marini. Os cardeais votavam e me entregavam as cédulas, que depois eu tinha que queimar.

A fumaça branca: o que aconteceu dentro da Capela Sistina?

Quando aconteceu a fumaça branca, fiquei dentro da Capela Sistina, embaixo da imagem do Juízo Final. Minha função era semelhante à de um notário, que registrava tudo o que acontecia. Eu estava ali, vestido como um prelado, arcebispo, estava ali quando o decano no cargo, o cardeal Giovanni Battista Re, chamou oficialmente o escolhido para interrogá-lo.

O interrogatório do escolhido

Foi perguntado ao escolhido se ele “aceitava o cargo. ‘Sim, aceito e escolho o nome de Francisco’”, respondeu o novo Papa. Depois o escolhido foi à chamada “sala das lágrimas” para se vestir de branco.

A história na história

Nesse lapso de tempo, houve outra cerimônia. Chegaram dois servos, colocaram uma mesa e uma cadeira no meio da sala (a Capela Sistina), sob o altar, logo abaixo do Juízo Final, e eles me chamaram para preencher o documento oficial. E eu tive que colocar o nome do escolhido em latim, o nome que ele adotou, a data e assinar. E depois o Monsenhor Marini assinou.

Os primeiros passos como Papa

Pouco depois que o Papa voltou, vestido de branco, enquanto a cerimonialista trouxe uma bandeja de plantas em que havia um capelo vermelho. O Papa avançou e chegou ao centro da Capela Sistina, sob o Juízo Final. Enquanto isso, a pequena mesa com a cadeira, onde eu me apoiei para registrar documentalmente as eleições, tinha sido removida.

O primeiro ato do “Papa Francisco”

Segundo a tradição, o novo Papa deveria ter sentado no topo do altar, onde havia uma grande poltrona. Mas ele não quis subir, mas ficou embaixo, como todos, para receber os cardeais. Os cardeais foram chamados a mostrar-lhe um gesto de obediência, e isso levou uma hora, porque todos os 115 prelados tinham que desfilar diante do Papa e prometer obediência.

Meu ato de reverência e um gesto inesperado do Papa

Quando estavam terminando, e faltava cerca de quinze cardeais, a porta da Capela Sistina se abriu e os cardeais idosos entraram para cumprimentá-lo. E naquele momento eu disse a mim mesmo: já que eu estou aqui, e como já terminou a fila dos cardeais eleitores, eu também vou me colocar na fila para fazer-lhe minha reverência. Quando chegou a minha vez, ajoelhei-me diante do Papa. Então ele pegou o capelo vermelho e colocou-o na minha cabeça. E os cardeais que estavam lá me aplaudiram e me senti envergonhado. Mas esse gesto já anunciou minha promoção a cardeal. Minha posse ocorreu um ano depois, e quando fui nomeado cardeal, o Papa me disse: “Eu o fiz esperar muito!”.

Bem, o resto da história vocês conhecem!

E para dizer a verdade, quando eu vou ver o Papa eu o encontro em Santa Marta, e me sinto em casa.

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