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Carência afetiva feminina: como lidar com isso?

KOBIETA W ZIMOWEJ CZAPCE

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Modéstia e Pudor - publicado em 19/12/17

Um texto que toda mulher católica deveria ler
[Nota: Há uma versão não confessional deste texto aqui]

Vivemos hoje num mundo de muitos extremos e pouco equilíbrio. Na seara da sexualidade, ou somos levadas a pensar em promiscuidade e sexo livre, ou somos levadas, como muitas senhorinhas de antigamente, a vê-la como algo mau e sujo. A sexualidade engloba mais que o ato sexual. É uma dimensão da nossa condição humana manifestada em nosso sexo (feminino) e na nossa afetividade. O ato sexual é a união da sexualidade feminina e masculina, e culmina na geração de uma nova vida. Olha que coisa bonita! É através da relação sexual que nos tornamos co-criadores! Somos como Deus!
Espera… Isso parece chocante… Ser como Deus? Mas não foi por isso que Lúcifer pecou? Lúcifer quis ser Deus sem Deus. Deus quer nos endeusar com Ele, por Ele e nEle! A sexualidade ordenada faz com que toda a nossa vida se volte para o Criador. É aí que entra o primeiro ponto que gostaria de comentar…

1. Mundo é um meio de chegarmos ao Céu

Qualquer coisa que você fizer neste mundo – qualquer – é um meio de você ir ao céu. Casar? Celibato? Vida consagrada? Em qualquer das situações, os anos que vivemos aqui na Terra, as relações sociais que cultivamos, nossos estudos, trabalho, vocação, tudo é um caminho dentre vários que temos para cumprir a Vontade de Deus e chegarmos até Ele.
O problema é quando fazemos dos meios um fim. Se fizermos da nossa vocação ao matrimônio um fim, todas as dimensões da nossa vida terão como finalidade o matrimônio, e aí a vida fica desordenada. Se seu futuro marido não é como você imaginava, ou se você não consegue encontrar um cara decente para namorar, ou se você, já casada, não está contente com os afazeres e a rotina, tudo isso torna-se um fardo e leva as pessoas ao estado de tristeza e depressão quando se toma o casamento como um fim em si mesmo.
Eu me tornei uma pessoa muito mais feliz e leve quando comecei a ver minha vocação como um meio de santificação. As escolhas ficaram menos pesadas e eu finalmente consegui me entregar mais aos planos de Deus, porque via que tudo o que acontecia era o caminho que Ele achava melhor para eu chegar até Ele.
Eu sei que parece meio abstrato falar isso, mas Jesus deve ser nosso primeiro esposo. Ele é o primeiro Homem que devemos entregar nossa vontade e nosso coração.
Como fazer isso? Reze, comungue, confesse-se com regularidade e diga sempre, em suas orações, para você aceitar a vontade do Senhor e o que Ele prepara para você. Se abra com Jesus. Fale dos seus medos, anseios, dificuldades. Tome-o como melhor amigo. Mesmo que muitas situações te levarem ao sofrimento, ofereça tudo a Deus. É a entrega e confiança de que tudo o que você passa é da Vontade Dele que nos faz crescer em virtudes e vivermos em paz.
Ainda neste assunto, é importante mencionar sobre nosso apego às coisas deste mundo. Deus não vai dar-se inteiro a nós se houver ainda um fiozinho de linha que nos prende à esta Terra. Muitas vezes passamos por sofrimentos e dores porque isso é uma maneira de desapego. Se você perdesse tudo, se as pessoas que você mais ama morressem, você ficaria em paz com Deus? Este é um caminho para pensarmos o quanto ainda somos apegados a bens e pessoas!

2. Visão errada sobre o ato sexual

Já vi muitos exemplos de pessoas, bons católicos, enxergando o sexo como algo sujo. Em outro lado, vejo a todo momento notícias, propagandas e comentários banalizando a relação sexual e reduzindo-a à troca de prazer. Em qualquer das situações a visão sobre o sexo está equivocada. O ato sexual une o casal e se abre para gerar uma nova vida.
Santo Tomás de Aquino afirmou que o prazer sexual antes do pecado original era muito maior e incomparável com o prazer que temos hoje. O Prof. Sidney Silveira, grande tomista brasileiro, disse certa vez que é lícito e até um ato de caridade homem e mulher usarem de carícias para se satisfazerem antes, durante ou após a relação sexual. Tudo isto nos mostra que o sexo é lindo e bom, desde que esteja dentro do matrimônio e seja um ato natural, isto é, aberto à vida. Penso eu, com base no que diz Santo Tomás, que quanto mais em estado de graça está um casal, mais prazer ele sente na relação sexual, porque mais próximos estão da situação que estavam Adão e Eva antes do pecado original.
Algo complicado que já vi acontecer é o fato de muitos casais católicos terem dificuldade de se relacionar sexualmente após o matrimônio, seja por pudor excessivo, seja por medo de sentir prazer lícito. Nesse sentido, li um texto do Prof Felipe Aquino que traz bons conselhos. Isso acontece porque há uma visão deturpado sobre o sexo e a sexualidade, e essa visão veio desde o namoro.
O desejo e atração não são maus em si.  É muito bom que um casal se deseje, afinal, é isso que diferencia, em muito, você namorar um cara e não apenas ser amiga dele. O desejo transparece em muitos atos: beijos, abraços, toques, demonstrações de afeto. Muitas vezes nós, mulheres, só de recebermos uma mensagem afetuosa pelo celular já nos sentimos atraídas pelo homem que amamos. Tudo isso não é ruim. O problema reside quando este desejo está fora das rédeas e nos leva ao pecado contra a castidade.
O afeto entre um casal é muito importante. Nós não somos repolhos. Deus nos deu sentimentos. O que é preciso é, sem neurose, nos afastarmos de ocasiões de pecado. Quais são essas situações? Cada casal identificará junto isso, de acordo com as fraquezas de ambos.
O que deixo é a mensagem de que sexo é bom, é bom que se sinta prazer, e o desejo sexual também é bom, mas isso tudo deve estar ordenado.

3. A alma e a sexualidade feminina

Finalmente o tópico mais focado na sugestão de nossa leitora! rs
Que somos diferentes dos homens em questões anatômicas, fisiológicas e psicológicas, creio que todos concordam (se algum leitor for adepto da ideologia de gênero, depois me mande email rsrs).
Assim, como o órgão sexual do homem é mais exterior, sua sexualidade também é mais exterior. O homem gosta de olhar, de ver a beleza feminina. A mulher, bem como seu órgão sexual, é mais interiorizada. Ela gosta de ser olhada, de ser cortejada, de se sentir amada. 
É, portanto, normal para nós (para algumas mais, para outras menos, de acordo com personalidade e temperamento) esta necessidade de afeto e de que nos olhem.
Inclusive é normal que em nosso período fértil estejamos mais desejosas de carinho – faz parte da nossa natureza!
O problema está, mais uma vez, no desordenamento disso tudo.
Quando não compreendemos as duas questões anteriores – o que é o sexo e que tudo nesta vida é um meio – tendemos, como mulheres, a dar vozes às nossas carências. Podemos cair na luxúria, em um extremo, ou na completa negação de nossa sexualidade, em outro.

A luxúria, neste caso, não é apenas fornicação, mas também a busca por um objeto afetivo. Se o homem tem tendência a transformar a mulher em objeto sexual, a mulher tem tendência a transformar o homem em objeto de seu afeto. Isso significa depositar em alguém todas as suas carências, querer atenção a todo momento, brigar com o homem quando ele não age como o esperado, cultivar ciúmes sem fundamento e tirar a paz do casal. Vale lembrar que essa situação acontece mesmo em namoros castos.

Por outro lado, temos algumas mulheres que negam sua sexualidade. Negam os desejos que sentem porque acham que as sensações são sempre impuras. Negam manifestações de afeto do homem, porque acham que isso as levará ao pecado. Negam a vontade de se vestirem bem, bonitas, asseadas, porque pensam que isso levará os homens a pecar. E, finalmente, acabam, no matrimônio, negando relação sexual ou até tendo dificuldade de sentirem prazer devido aos escrúpulos.
Os dois lados são perigosos. No caso de transformar o homem em objeto afetivo, o que falta à mulher é confiança em Deus, porque entra no que foi exposto no primeiro tópico: transformar o namoro/casamento em um fim em si, e não em um meio. É normal querermos atenção, afeto e ficarmos com ciúmes. Mas a nossa vida não pode depender do nosso namorado/marido!
Os homens gostam de espaço, e um relacionamento saudável requer que ambos tenham tempo para si mesmos. Os homens são diferentes da gente. Enquanto estamos colocando mil minhocas na cabeça que eles podem não estar mais interessados em nós porque ficaram algumas horas sem nos dirigir a palavra, eles estão tranquilos, na boa, preocupados com outras coisas (o time de futebol ou um problema no trabalho, por exemplo).
Aproveite seu tempo livre para sair com as amigas, ir a Igreja, ficar com seus pais ou avós, fazer alguma obra de caridade ou até praticar algum esporte. Nestas situações é que exercitamos o desapego! Também faça o que foi sugerido no primeiro tópico: tente confiar mais em Deus e deixar que Ele conduza sua vida.
No caso das mulheres que negam sua sexualidade, isso deve ser trabalhado com um bom diretor espiritual e, se possível, também, com um psicólogo católico (em casos mais extremos). O que ocorre, nesta situação, é uma dificuldade de compreender a sexualidade. Muitas moças se negam a abraços, beijos e toques por acharem que estão pecando contra a castidade, ou porque o abraço do namorado desperta nelas pensamentos inapropriados para a fase do namoro.
Sobre questões mais práticas do namoro já escrevi um texto sobreO que quero chamar a atenção é que às vezes confundimos manifestações sadias de nossa sexualidade com ocasiões de pecado. Se no período fértil você está mais sensível aos toques masculinos, louve a Deus pela sua fertilidade! Dependendo o passo de sua caminhada na fé, talvez seja melhor nesse período não se encontrar com seu namorado, mas isso quem vai decidir é somente você. Se você está com seu namorado e juntos sentem muito desejo um pelo outro, talvez seja melhor dar uma volta ou sair um pouco de perto.
Não se culpem, entretanto, pelo desejo que sentem, e não pensem que isso é pecado. Não recebemos um manual pronto de como agir em cada situação de nossas vidas. As diretrizes básicas nós temos pela Igreja, mas como agir em cada situação depende de nós. Tenha paciência consigo mesma e vá pedindo o auxílio de Jesus e da Virgem Maria para, aos poucos, modelar seu relacionamento e modelar você, como mulher.
Por fim, a carência desordenada faz uma mulher querer se vestir imodestamente. É por isso que a gente parou de falar especificamente de modéstia aqui no blog. Não adianta bater na tecla da modéstia, dar mil exemplos, quando o cerne da questão está mais aprofundado. Muuuuitas mulheres não entendem a questão da modéstia por serem extremamente carentes. A mulher não vê sentido em se vestir de maneira mais recatada quando chama a atenção com decote e salto. É preciso ordenar a alma, compreender os tópicos que mencionamos aqui e enxergar a própria dignidade. Ser modesta, elegante, gentil e feminina se tornam consequências disso.
Não há nada de errado em se vestir bem, usar roupas da moda, maquiagem e um perfume suave. Isso é louvável perante a doutrina católica. Ser modesta não significa ser brega. Há mulheres escrupulosas que acham que ficar bonita é algo pecaminoso, pois chama a atenção dos homens.De maneira alguma! Que bom que homens se atraem por mulheres! Esta é a ordem divina! O problema reside em mostrar determinadas partes do corpo de maneira inapropriada. Os leitores bem sabem do que estamos nos referindo.
Santa Edith Stein, ao estudar a mulher, constatou que a alma ordenada é feminina, discreta e modesta. Se buscarmos a ordenação de nossa alma, as virtudes crescerão juntas, e saberemos, aos poucos, discernir muitas outras questões, entrando as vestimentas neste quesito.

4. Buscando a ordem

Eu percebo que hoje os homens estão tão acostumados com mulheres fáceis que quando encontram uma moça modesta em seus modos, esta passa a imagem de que é fria ou de que não está interessada no relacionamento. Acontece de determinados temperamentos serem mais frios (eu, por exemplo, sou uma pessoa que não sabe demonstrar afeto), mas acontece de outros serem quentes demais.
É por isso que devemos buscar o equilíbrio. Nesse sentido, mortificações são válidas para contrariarmos nossa vontade e aprendermos a fazer sacrifícios – por nós e pelos outros.
Sobre a carência afetiva, em suma, é normal que nós, mulheres, sintamos necessidade de sermos olhadas, de nos vestirmos bem, de recebermos afeto. O problema está quando isto se torna uma obsessão. Nesse caso é preciso investigar as raízes (aqui no texto apontei algumas). Pode ser que sua carência seja algo mais profundo, talvez tenha a ver com algum sofrimento de sua infância ou adolescência. Assim, é preciso, além de uma boa direção espiritual, um bom psicólogo que possa te ajudar a resolver estas questões de sua vida.
A ordem só podemos conseguir por graça de Deus. O que temos de bom em nós é graça de Deus. Parece repetitivo eu falar isso em vários textos, mas a receita é testada e aprovada pelos santos (rs): comunhão diária, confissão regular, obras de caridade e leituras espirituais.
Não se desespere diante das tentações e não se desespere se você cair. Deus permite isso para que não nos enchamos de soberba. Também não caia no pecado da pusilanimidade, de achar que a santidade não é para você… Pare com isso! Todos nós somos pecadoras, todos nós temos pecados, todos nós temos tentações relacionadas à castidade. Peça a graça de Deus… Somente com a graça é que podemos vencer e um dia nos encontrarmos no céu!
Indicações
– Curso “Terapia das Doenças Espirituais” – Pe Paulo Ricardo
– Curso de “Teologia do Corpo” – Pe Paulo Ricardo
– Vida sexual do casado – Prof Felipe Aquino
– A alma feminina segundo a filosofia perene – Prof. Sidney Silveira (hangout pelo Terça Livre)
– É ruim ter pensamentos sexuais? O que devo fazer? – Chastity Project (traduzido por nós)
– Diferenças entre homem e mulher – Marcela Kamiroski
– Namoro santo… Existe receita? – Modéstia e Pudor
– Para entender porque Deus quer nos fazer deuses – Modéstia e Pudor
Livros: Caminho de Perfeição (Santa Teresa DÁvila); A prática de amor a Jesus Cristo (Santo Afonso de Ligório), Teologia Moral (Santo Afonso de Ligório), Summa Teologica (Santo Tomas de Aquino), Amor e Responsabilidade (Karol Wojtyła), O amor que dá a vida (Kimberly Hahn), Três para casar (Fulton Sheen)
Nota
– Agradeça sempre a Deus pela sua fertilidade, por sua sexualidade, e ordene a energia dos seus desejos para Ele. Mesmo quando estiver sendo tentada, louve a Deus por Ele ter te criado mulher, por você ser bela e por sua vocação. Colocamos um interessante trecho do livro “Como encontrar sua alma gêmea sem perder sua alma”:
“Reconhecidamente, você pode integrar seus desejos com sua fé, sem ter que aniquilar um ou outro. Nossos desejos sexuais não existem para serem eliminados. Todavia, eles precisam ser dispostos de acordo com o amor autêntico. Se a pureza exige que a pessoa elimine seus impulsos sexuais, deveríamos admitir que os casados fossem incapazes de uma ou outra atitude: ou guardar a pureza, ou alimentar a paixão. O desígnio de Deus é para que tenhamos ambas – paixão e pureza unidas.
Como fazer isso? Para começar, aprenda a distinguir entre um pensamento libidinoso e uma tentação para praticar a luxúria. Uma tentação é o pensamento repentino de um ato proibido. Na medida em que este pensamento está fora de seu controle, você não é moralmente responsável pela chegada dele à sua mente. Não obstante, o que você faz com este pensamento determina se você irá receber mérito ou culpa como resultado.
Se seus pensamentos começarem a tender para coisas luxuriosas, tente atraí-los de volta, tão logo reconhecer o que está fazendo. Se for tentado enquanto estiver sozinho, trace o sinal da cruz em sua fronte. Diga o nome de Jesus. Anuncie ao Céu e ao Inferno, com suas palavras e seu corpo, que você pertence a Deus. Mas não reze exatamente contra a tentação. Se você for tentado em algo que diz respeito a uma pessoa em particular, reze para ela. Transforme sua tentação em um ato de intercessão.
Em que ponto você deve recuar no que diz respeito a seus pensamentos? Uma regra prática é lembrar-se de que, se a ação específica não é digna, então você não deve permitir que sua mente se demore nela. Por exemplo, se você não for casado, não divague sobre intimidades conjugais. Não é errado desejar tal intimidade, mas seria melhor, para você, esperar em Deus, permitindo-lhe, no momento apropriado de sua vida, suspender o véu deste mistério” (p. 206)

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