País submetido durante anos a sanções internacionais por suas atividades nucleares, o Irã é palco, desde quinta-feira (28), de manifestações contra a situação econômica e contra o poder, as mais importantes nos últimos anos.
Embora o número de manifestantes tenha se limitado a algumas centenas de pessoas nos primeiros dias, esta foi a primeira vez – desde 2009 – que tantas cidades foram palco de protestos de cunho social.
Já chega a treze o número de mortos nos protestos. Mais de 400 pessoas foram detidas até agora, na capital e em outras cidades.
– Mashhad –
Em 28 de dezembro, centenas de pessoas se manifestaram na segunda maior cidade do país, Mashhad (nordeste), contra a alta dos preços, contra o desemprego e contra o governo de presidente Hassan Rouhani.
Segundo imagens de vídeo difundidas pela mídia reformista Nazar, os manifestantes gritavam “Morte a Rohani!” e criticaram os compromissos do governo no âmbito regional antes mesmo que no âmbito doméstico.
– Condenação de Washington –
Em 29 de dezembro, centenas de pessoas se manifestaram em Qom (norte), gritando “Morte ao ditador” e “Libertem os presos políticos”, segundo vídeos divulgados nas redes sociais. Outros manifestantes pediam ao regime que abandone seu apoio militar e financeiro aos movimentos regionais aliados para se ocupar de seu próprio povo.
O primeiro-vice-presidente iraniano, Eshaq Jahanguiri, acusou a oposição de estar por trás dos movimentos de protesto.
Os Estados Unidos condenaram as detenções.
“Os dirigentes iranianos transformaram um país próspero, dotado de uma história e de uma cultura ricas, em um Estado relegado à deriva, que exporta principalmente violência, banho de sangue e caos”, disse em um comunicado o Departamento de Estado.
– ‘Manifestações ilegais’ –
Em 30 de dezembro, o regime também lançou milhares de pessoas às ruas para celebrar o aniversário da grande mobilização pró-governo que marcou o fim da contestação contra a reeleição na Presidência de Mahmud Ahmadinejad em 2009.
O ministro iraniano do Interior pediu à população que não participe de “manifestações ilegais”.
À tarde, centenas de pessoas protestaram no bairro da universidade, expressando sua rejeição ao governo, antes de serem dispersados pela polícia.
O presidente americano, Donald Trump, reiterou suas advertências em relação ao poder iraniano, afirmando que “os regimes opressivos não podem durar para sempre”.
– Manifestantes mortos –
Dois manifestantes morreram na madrugada de 31 de dezembro durante confrontos na cidade de Dorud (oeste), indicou o vice-governador da província de Lorestan, Habibollah Khojastehpur, assegurando que as forças de segurança não atiraram contra os manifestantes.
O governo advertiu os manifestantes, dizendo: “Aqueles que destroem os bens públicos, criam desordem e atuam na ilegalidade devem responder por seus atos e pagar o preço”.
O acesso às redes sociais Telegram e Instagram de dispositivos móveis voltou a ser suspenso.
As autoridades acusam grupos “contra-revolucionários” com sede no exterior de utilizar estas redes para convocar manifestações e utilizar coquetéis Molotov e armas de fogo.
O presidente Rouani reconheceu neste domingo que o governo deve “permitir um espaço” para que a população possa expressar suas “inquietudes diárias”, mas condenou “a violência e a destruição de bens públicos”.
Na noite deste domingo, violentos protestos aconteceram em uma dezena de cidades. Um policial iraniano morreu e outros três ficaram feridos por disparos de fuzil em Nayafabad, no centro do Irã.
Segundo a emissora pública iraniana, seis pessoas foram mortas por “tiros suspeitos” em Toyserkan (oeste). Mais cedo, outras quatro já haviam morrido em Izeh (sudoeste) e Doroud (oeste).
– ‘Agitadores’ –
Em 1 de janeiro de 2018, Rohani declarou que o povo iraniano responderá os “agitadores e descumpridores da lei”. O presidente iraniano qualificou os contestadores de “pequena minoria que (…) insulta os valores sagrados e revolucionários”.
O presidente americano Donald Trump afirmou que “chegou o momento da mudança” no Irã.
O ministério das Relações Exteriores russo, estimou “que se trata de um assunto interno iraniano”. “Qualquer intromissão estrangeira que desestabilize a situação é inadmissível”, acrescentou.
(AFP)