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Ruínas e desolação em Mossul, seis meses após retomada por forças iraquianas

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HO / Joint Operation Command / AFP

(FILES) This aerial view taken on June 21, 2017 and provided by Iraq's Joint Operation Command reportedly shows destruction inside Mosul's Nuri mosque compound. AFP PHOTO / Joint Operation Command / HO

Agências de Notícias - publicado em 10/01/18

"Seguimos sem água nem eletricidade, meus filhos não têm escola e o cheiro dos cadáveres em decomposição continua nos asfixiando"

Em frente à mesquita onde o autoproclamado “califa” do grupo Estado Islâmico (EI) fez sua única aparição pública conhecida, em 2014, alguns cadáveres continuam em decomposição. Seis meses depois de sua retomada pelas forças iraquianas, Mossul ainda apresenta um espetáculo de desolação.

As paredes perfuradas dos hotéis sobre o rio Tigre só oferecem vistas para enormes montanhas de escombros.

Passada a euforia provocada pelo fim de três anos de ocupação jihadista em julho, os poucos habitantes que se aventuram pelas ruas destruídas da Cidade Velha vivem na miséria.

O centro da cidade foi aniquilado por muitos meses de guerrilha urbana, bombardeios aéreos da coalizão internacional que apoiava as forças iraquianas e os obuses dos jihadistas.

O pai e o marido de Asma Mohamed, ambos mortos em um bombardeio aéreo, foram enterrados em um cemitério improvisado. A mulher assegura que o ataque matou apenas civis, sem tocar nos jihadistas das casas vizinhas.

Mas as autoridades “dizem que precisam fazer uma investigação antes de entregar as certidões de óbito”, explica à AFP.

– ‘Sem água nem eletricidade’ –

Segundo fontes locais, cerca de 2.000 civis morreram como consequência desses bombardeios e dos combates em Mossul. A coalizão internacional liderada por Washington só reconhece ter matado “involuntariamente” 817 civis desde 2014 em ataques no Iraque e na Síria.

Asma sobrevive com seus dois filhos graças à ajuda de amigos e vizinhos, e quando pensa no futuro, começa a chorar.

Em seu setor, apenas uma outra família retornou, a de Ansam Anuar, de 30 anos, que voltou há alguns dias com seu marido, desempregado, e seus cinco filhos.

Nos pequenos quartos da sua casa faz muito frio. Os contadores de eletricidade, arrancados, estão pendurados por um fio na parede.

“Seguimos sem água nem eletricidade, meus filhos não têm escola e o cheiro dos cadáveres em decomposição continua nos asfixiando”, lamenta Ansam.

Mais longe, Abu Quteiba al Atar, de 59 anos, percorre as ruas estreitas outrora lotadas do mercado histórico.

A loja de seu pai, onde passou todos os seus dias “desde que tinha seis anos”, foi destruída.

Vestido com uma túnica longa tradicional, explica que está fazendo obras para reconstruí-la porque, depois que os combates atingiram seu bairro há um ano, ele ficou “trancado em casa, com depressão”.

Agora, afirma, “a segurança voltou” e a atividade econômica deve seguir.

– ‘Desemprego, injustiça’ –

“É preciso cooperar com as forças de segurança que nos libertaram e denunciar tudo que nos pareça suspeito em vez de permanecer passivos”, diz outro comerciante.

Após a invasão do Iraque em 2003, os americanos encontraram uma forte resistência nesta região, da qual eram originários muitos altos cargos militares do exército de Sadam Hussein.

Mesmo antes da chegada do EI, em 2014, grupos extremistas impunham sua lei em algumas zonas.

“Por enquanto, os habitantes cooperam totalmente e nos informam quando veem desconhecidos em seu bairro”, explica à AFP um policial que pediu anonimato. “Esperemos que dure, caso contrário (…) surgirá um novo EI”, acrescenta.

Mozhar Abdel Qader, comerciante de 48 anos, assegura que não se deve cantar vitória porque as condições que permitiram ao EI recrutar combatentes persistem.

“Há desemprego, injustiça, e as pessoas não têm o que comer. Assim, quando lhes oferecem 100 dólares para colocar bombas, aceitam”, afirma este pai de família, com cinco filhos, cuja casa está coberta de impactos de balas e obuses.

(AFP)

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