Aleteia logoAleteia logoAleteia
Domingo 28 Abril |
Aleteia logo
Religião
separateurCreated with Sketch.

Carta Pastoral e Campanha da Fraternidade 2018

RIO DE JANEIRO

AFP PHOTO / Mauro PIMENTEL

Employing urban combat tactics, Brazilian army military police personnel patrol along an alley in the Rocinha favela in Rio de Janeiro, Brazil on September 25, 2017.

Vanderlei de Lima - publicado em 19/02/18

O jornal Testemunho de Fé, de 21-27/01/2018, p. 9-16, trouxe, na íntegra, a Carta Pastoral “Bem-aventurados os que constroem a paz (Mt 5,9)”, assinada por Dom Orani João Tempesta, O. Cist., Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro.

O documento segue a linha da Campanha da Fraternidade deste ano (cf. n. 3) cujo tema é “Fraternidade e superação da violência” e o lema “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8) e pode ser lido no site da Arquidiocese do Rio: www.arquirio.org.

O que aqui nos cabe dizer é que a referida Carta parece ter se limitado muito à superação da violência pela conversão do coração de cada ser humano (cf. n. 34), mas não considerou a maldade humana, fruto do pecado, presente no mundo. Tal maldade chama cada um à conversão, mas também à firme defesa do bem frente ao mal.

É certo que Cristo mandou amar os inimigos e deu-nos exemplos fortes, tais como: “se alguém esbofetear a sua face direita, oferece-lhe também a esquerda” (Mt 5,39). Isso, porém, não significa que o cristão será sempre um bobo a não saber reivindicar os seus direitos ou um fantoche nas mãos dos inimigos. O Senhor Jesus usou palavras fortes como: arrancar o próprio olho (5,29), amputar a mão direita (5,30), dizer apenas sim ou não (5,36), entregar o manto a quem desejar a túnica (5,40) etc. para conseguir fazer sua mensagem calar fundo nos ouvintes, mas nunca elas foram interpretadas ao pé da letra.

Dom Estevão Bettencourt, OSB, alerta: “O entendimento literal destas expressões teria feito dos discípulos de Jesus, no início do cristianismo, um rebanho simplório, posto à mercê de todo aventureiro ou explorador; uma tal ‘prática do Evangelho’ só faria promover o mal no mundo, dando ocasião a que ímpios e criminosos acabassem por sufocar a causa do direito, do amor e da verdade. As gerações cristãs, desde o início da nossa era, bem entenderam o sentido metafórico e hiperbólico das citadas frases de Mateus 5-7” (Parábolas e páginas difíceis do Evangelho. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, s/d, p. 187).

O próprio Cristo deu exemplo de que é lícito ao cristão reagir ao ser injustamente atacado. Quando foi agredido pelo guarda da corte do Sumo Sacerdote, Ele lhe inquiriu, chamando-o a ver sua injustiça ao perguntar: “Se falei mal, dá testemunho disto; mas se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23).

Por conseguinte, permanece inabalável o direito à legítima defesa (Catecismo da Igreja Católica, n. 2263-2264) ou o dever das autoridades e das forças de segurança de defenderem a população refém da criminalidade (idem, n. 2265-2267). A não contemplação de quem trabalha nas áreas da Justiça e da Segurança Pública, muitas vezes primeiras vítimas da violência que, infelizmente, grassa o País, na Carta, talvez se deva a razões de delimitação do tema. Isso, contudo, jamais quer dizer que a Mãe Igreja exclui esses importantes pontos ou os responsáveis pela segurança. O cidadão comum tem direito à legítima defesa e as autoridades públicas possuem o dever de defender o povo. Para aprofundamento: Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 379-383; 402-405 e 500-507, em especial. Site: www.vatican.va.

Note-se que o Papa Francisco, assim como seus antecessores, dentre os quais vários santos canonizados, entende ser fundamental a conversão do coração, mas, neste mundo marcado pelo pecado, não abre mão de ter à sua volta seguranças armados.

Portanto, as Polícias Militar e Civil, os Guardas Civis Municipais, os Agentes Penitenciários, bem como o Ministério Público e o Judiciário estão na linha de frente no combate à violência. Podem não ser, devidamente, valorizados, mas merecem nossa louvável atenção.

Quando você, amigo(a) leitor(a), encontrar-se com um deles não deixe de cumprimentar e parabenizar esse “anjo da guarda”. Afinal, ele se dispõem a dar a vida pelo próximo; ou seja, por mim, por você e pelos seus (cf. Jo 15,13). Pense nisso!

Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo.

Tags:
ConversãoMalViolência
Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia