Há duas versões para a origem desta prece, que é uma das mais belas do tesouro da IgrejaSalve, Rainha, Mãe de misericórdia! Vida, doçura, esperança nossa, salve!
A Salve-Rainha é uma das mais belas orações cristãs. Mas qual é a sua origem?
Não há certeza completa, pois dois autores costumam ser apontados: o monge beneditino Hermano Contracto, segundo alguns historiadores, e, segundo outros, o bispo de Le Puy, dom Ademar de Monteuil.
Versão 1: o monge Hermano Contracto
O religioso beneditino a teria escrito por volta de 1050, no mosteiro de Reichenau, no Sacro Império Romano-Germânico. Na época, os povos da Europa central enfrentavam calamidades naturais, epidemias, miséria, fome e a contínua ameaça dos nômades do Leste, que invadiam os povoados, saqueavam e matavam.
Hermano Contracto sofria de deformações físicas que o levavam a caminhar e a escrever com grande dificuldade. Acredita-se que essas características fossem de nascença. Segundo a tradição, ao constatar seu raquitismo, a mãe, Miltreed, o consagrou a Maria e o educou na devoção a ela. Apesar da deficiência física, chegou a ser mestre dos noviços na ordem beneditina.
Foi entre sofrimentos e esperanças que o monge teria composto a Salve Rainha – exceto a tríplice invocação final (“Ó clemente! Ó piedosa! Ó doce Virgem Maria!”), que foi acrescentada mais de um século depois, por São Bernardo de Claraval.
Versão 2: dom Ademar de Monteuil
O bispo de Le Puy era membro do Concílio de Clermont, o sínodo que determinou a realização da primeira cruzada a fim de defender os peregrinos que iam à Terra Santa e cujas viagens vinham se tornando cada vez mais perigosas. Dom Ademar participou da primeira cruzada como legado apostólico e teria composto a Salve Rainha como hino dos cruzados.
Tal como na versão que atribui a composição ao monge Hermano Contracto, a Salve Rainha terminava nas palavras “…e, depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre“.
O acréscimo de São Bernardo
A Salve-Rainha já tinha se popularizado fazia décadas entre os cristãos.
Na véspera do Natal de 1146, São Bernardo de Claraval, enviado à Alemanha como legado papal, entrava solenemente na cidade de Spira depois de uma viagem memorável, da qual foram relatados numerosos milagres. O bispo, o clero e o povo foram ao encontro do santo e o conduziram, ao toque dos sinos e com sagrados cânticos, até o imperador e os príncipes germânicos, que o receberam com todas as honras devidas ao enviado pontifício.
Enquanto o coro entoava a Salve-Rainha, o abade São Bernardo ficou profundamente comovido e, acabado o canto, prostrando-se três vezes, acrescentou a cada vez uma das aclamações, enquanto caminhava até o altar sobre o qual brilhava a imagem de Maria.
A tríplice invocação passou a partir de então a fazer parte da oração.
A Salve-Rainha em latim
Salve, Regina, mater misericordiae!
Vita, dulcedo et spes nostra, salve!
Ad te clamamus, exsules filii Evae.
Ad te suspiramus, gementes et flentes
in hac lacrimarum valle.Eia, ergo, advocata nostra,
illos tuos misericordes oculos
ad nos converte.
Et Iesum, benedictum fructum ventris tui,
nobis post hoc exsilium ostende.
O clemens! O pia! O dulcis Virgo Maria.Ora pro nobis, Sancta Dei Genetrix,
ut digni efficiamur promissionibus Christi.Amen.
A Salve-Rainha em português
Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia!
Vida, doçura e esperança nossa, salve!
A vós bradamos, os degredados filhos de Eva;
a vós suspiramos, gemendo e chorando
neste vale de lágrimas.Eia, pois, advogada nossa,
Esses vossos olhos misericordiosos
a nós volvei
e, depois desse desterro,
mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre.
Ó clemente! Ó piedosa! Ó doce Virgem Maria!Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,
para que sejamos dignos das promessas de Cristo.Amém.
O hino gregoriano da Salve-Rainha
Ouça a versão do Liber Usualis (1961) cantada pelos monges beneditinos do mosteiro espanhol de Silos: