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Como curar um coração partido

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Natasha Grigel / Shutterstock

Talita Rodrigues - publicado em 05/04/18

Nosso coração às vezes pode ser partido, mas não precisamos nos partir com ele

Em algum momento de nossa vida, quase cada um de nós terá o coração partido.

M. planejou a vida desde muito cedo. Ela conheceria o seu futuro marido com 22 anos, ficaria noiva um ano depois e se casaria aos 24. Porém, quando ela completou 23 anos não encontrou um marido, encontrou a primeira de suas decepções amorosas mais dolorosas.

M. era muito religiosa e frequentava a igreja todos os domingos. Em um destes domingos, aos 22 anos, conheceu um rapaz, rapaz esse que de certa forma a fez a crescer muito internamente. O rapaz a procurou no decorrer do domingo pelas redes sociais e a achou, logo, os dois começaram a manter uma conversa constante e marcaram o primeiro encontro. Sonhadora como era, ela havia acreditado que encontrou definitivamente aquele por quem esperou a vida inteira.

Após um mês, começaram a namorar. Durante o namoro, ele começou a frequentar com ela grupos de jovens e a participar da Santa Missa todos os domingos; com isso, o rapaz foi criando um vínculo grande dentro de uma comunidade que M. frequentava desde criança.

Passados alguns meses, o rapaz proporcionou a ela um dos momentos mais felizes de sua vida, o pedido de casamento. Foi um momento lindo e único, do qual M. jamais se esqueceu. Porém, após três meses, o rapaz terminou o noivado. Ele gostava dela, porém, não estava mais apaixonado.

M. ficou arrasada, o coração dela ficou partido e agora ela teria de lidar com a dor do coração partido. Mas cinco meses após a separação, M. ainda não conseguia parar de pensar em seu ex-noivo. O coração dela ainda estava muito partido.

A questão é: por quê? Por que essa mulher que sempre foi tão forte e determinada, inclusive pelas circunstâncias da vida, era incapaz de reunir os mesmos recursos emocionais que a fizeram superar tantas outras coisas?

Por que tantos de nós tropeçam ao tentar se recuperar de uma desilusão amorosa? Por que os mesmos mecanismos de enfrentamento que nos fazem superar qualquer tipo de desafio na vida falham de maneira absurda quando nosso coração é partido?

Quando seu coração está partido, os mesmos instintos nos quais você confia normalmente insistirão em te conduzir pelo caminho errado. Você simplesmente não pode confiar naquilo que sua mente está dizendo.

Ter uma compreensão de por que o relacionamento acabou é realmente importante para a nossa capacidade de seguir adiante. No entanto, muitas vezes, quando nos é oferecida uma explicação simples e honesta, nós a rejeitamos.

Uma desilusão amorosa cria uma dor emocional tão dramática que nossa mente nos diz que a causa deve ser igualmente dramática. Permite com que criemos mistérios e teorias de conspiração quando eles simplesmente não existem. M. estava convencida de que algo havia acontecido e ela estava obcecada em descobrir o que havia dado errado. M. passou inúmeras horas repassando e repensando em cada fase do relacionamento, buscando em sua memória pistas que não estavam lá, porque não existiam.

A mente de M. fez com que ela iniciasse essa perseguição. Mas de fato, o que a obrigou a se dedicar a isso tantos meses?

A desilusão amorosa é muito mais insidiosa do que percebemos. Há uma razão pela qual continuamos nos metendo em confusão, uma após a outra, mesmo sabendo que isso fará com que nos sintamos pior.

Alguns estudos mostram que a abstinência do amor romântico ativa os mesmos mecanismos no nosso cérebro que são ativados quando viciados se abstêm de substâncias como cocaína, por exemplo. M. estava passando por uma abstinência. E como ela não podia ter a heroína de estar de fato, com seu ex-noivo, sua própria mente escolheu uma série de lembranças com ele para se satisfazer. O instinto de M. dizia que estava tentando resolver um mistério, mas ela estava, na verdade, obtendo sua dose diária.

Por isso é tão difícil curar uma desilusão amorosa. Viciados sabem que são viciados, sabem quando estão se drogando. Mas pessoas desiludidas amorosamente, não.

Se o seu coração está partido, você não pode ignorar isso. Superar uma desilusão amorosa não é uma jornada. É uma luta, e a razão é sua arma mais potente.

Nenhuma explicação para a separação parecerá satisfatória. Nenhuma razão pode aliviar a dor que você sente. Aceite isso, e não pense nisso por um tempo, pois você precisa dessa conclusão para resistir ao “vício” daquele amor romântico, além de estar disposto a se desapegar e aceitar que acabou. Não crie esperanças sem que, de fato, elas existam. A esperança pode ser muito destrutiva quando o coração está partido.

A desilusão amorosa é uma lesão psicológica complexa, nos afeta de muitas maneiras. M. era muito sociável e muito ativa; ela não perdeu só o noivo, ela perdeu sua vida social dentro de uma comunidade na qual ela havia crescido e constituído sua própria fé, fé essa que a mantinha de pé.

M. reconheceu que a separação deixou um vazio imenso em sua vida, mas não pôde reconhecer que ela deixou muito mais do que apenas um vazio. E isso é essencial, porque é através disso que aprendemos como curá-la.

Para curar um coração partido, precisamos identificar os vazios em nossa vida e preenchê-los. Os vazios em nossa identidade, restabelecendo quem somos e dando significado à nossa própria vida. Os vazios em nossa vida social, as atividades que faltam, e até mesmo os porta-retratos vazios em cima da mesa ou da estante da sala onde as fotos permaneciam.

É preciso (re)significar todo o sofrimento, evitando buscas desnecessárias por explicações, idealizando a pessoa amada, ao invés de assumir que ela não era a pessoa certa.

Superar uma desilusão amorosa é difícil, mas se nos recusarmos a sermos enganados pelo sofrimento de nossa própria mente e dermos passos para nos curar, seremos curados.

Se você conhece alguém com o coração partido, tenha compaixão, pois o suporte social é importante para a recuperação. E tenha paciência, pois provavelmente levará mais tempo para que essa pessoa siga adiante do que você acha que seria preciso.

E se você está sofrendo, saiba que é difícil, é uma luta dentro de sua mente e você precisa ser diligente para vencer. Você tem as armas, você vai vencer. Você será curado!

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