Por acaso seus filhos lhe deram autorização para você sair publicando fotos e vídeos deles na internet? Lembra que você permitiu que o Facebook tivesse acesso aos seus dados?
E seus filhos? Eles deram permissão para que você postasse fotos e vídeos deles nas redes sociais?
Quando você criou o seu perfil no Facebook, no Instagram e em outras redes sociais, você colocou sua data de nascimento para que os administradores dessas redes soubessem que você tinha mais de 14 anos (a idade permitida para que as pessoas utilizem a maioria das redes). Além disso, também pediram seu nome completo (nada de perfis fictícios ou fake, ok?).
No entanto, nós, em nossos perfis, postamos fotos de outras pessoas (“pessoinhas”, neste caso), que não deram autorização, nem sequer podem decidir sobre isso, pois são pequenos, muito pequenos. Enquanto elas descobrem o mundo ao seu ritmo, os pais já as mostraram para todo o planeta, através de fotos e mais fotos.
Você tem que pensar nisso: um material, uma vez publicado na web, pode ir para muito longe sem o seu controle e o de seus filhos, para quem você está criando uma identidade digital quando começa a postar as fotos e os vídeos deles.
Vários estudos nos Estados Unidos comprovam que os adolescentes se sentem muito incomodados com os álbuns que os pais colocaram na rede.
Os britânicos até deram um nome para isso: “sharenting”, que é a união das palavras share (do verbo “compartilhar”, em inglês) e parenting (termo ligado à função de ser pai e mãe). Os pais não hesitam em publicar as divertidas façanhas dos primeiros passos, o primeiro banho, o castelo de areia. Tudo é fotografado e postado… E quando o filho cresce, vira um adolescente tímido, menos seguidor das redes, pois esses “documentos” estão lá.
Você pode estar pensando: “se meu filho não gostar das fotos quando ele crescer, a gente deleta”. Porém, segue um aviso aos navegantes: você pode apagar todos os dados, informações, fotos e vídeos que você publicou. Mas as informações que outras pessoas compartilharam da sua conta serão eliminadas, já que não pertencem ao seu perfil.
“Não pertencem ao seu perfil”. Lembre-se dessa frase – somente dessa frase – todas as vezes que você for publicar aquela preciosa foto de seu filho. Sim, eu sei, você faz isso com a melhor das intenções e com muito orgulho.
Mas lembre-se disso por vários motivos. Eu explico:
– por segurança
Este tema é muito debatido hoje em dia e os pais estão bem conscientes sobre os perigos. Mas nós não respeitamos as regras e postamos detalhes de nossa casa, nosso bairro, o carro, o jardim…
Isso acompanha nossoa nome e sobrenome. São dados pessoais! Não se esqueça de que muitas escolas exigem até uma identificação para as pessoas que retiram as crianças. Questão de segurança… E a gente expondo facilmente tudo isso na internet?
Por isso, pense na quantidade de informações que você está passando em uma simpática foto. Grande parte das imagens que vão parar nos sites de pedofilia é retirada das redes sociais.
Os especialistas recomendam não publicar fotos com localização, horários e outros dados pessoais da criança. Nem, claro, imagens das crianças nuas. É bom também revisar periodicamente as configurações de privacidade de sua conta para evitar o acesso total a elas.
– a identidade digital
Há informações que, uma vez na web, fogem ao nosso controle. Imagine, então, se nossos filhos conseguirão controlar tudo isso. Eles ainda nem sequer são capazes de tomar decisões, muito menos de controlar alguma coisa. Eles não assinaram um documento que diz “autorizo papai e mamãe a publicar as fotos que desejarem do meu primeiro verão na praia, da primeira vez que usei o mictório ou do bolo do meu segundo aniversário”.
Somos pais! Portanto, devemos velar pela proteção dos dados dos nossos filhos. As redes sociais não farão isso por nós. Na Espanha, em março de 2018, a Agência de Proteção de Dados multou o WhatsApp e o Facebook em 300 mil euros cada por usarem dados dos usuários sem o consentimento deles.
– é a intimidade de seus filhos e de sua família
Você gostaria que postassem uma foto sua do dia que em que você perdeu a chave do carro no supermercado. Ou aquela imagem em que você não saiu bem, pois tinha passado um dia terrível? Talvez você não se importe. Mas pense: o recrutador de seu próximo emprego pode ver essas imagens… O mesmo acontece com seus filhos.
Além de todos os problemas de segurança, quando completar 18 anos, seu filho não vai querer que os companheiros da universidade o vejam fazendo bagunça com o purê de batata. Como dizem os adolescentes: “é muito mico!”