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Por que queremos ter razão em tudo?

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Carlos Padilla Esteban - publicado em 08/05/18

Como se a ignorância em relação a certos assuntos fosse pecado...

Frequentemente, tenho que enfrentar situações tensas. Momentos em que corro o perigo de perder a cabeça e não dizer o correto, o que edifica, o que constrói.

Conheço muitas pessoas que se transformam nesses momentos de alta tensão. Eu mesmo me vejo levado a julgar sem saber. A dizer minha opinião sem ter estudado o tema. Fazem-me perguntas sobre tudo e eu lanço respostas audaciosas. Julgo, condeno, fico com raiva.

Não sou capaz de ficar em silêncio. Pega mal não saber sobre certos assuntos. E não dominar todos os assuntos que estão no dia a dia. Como se a ignorância fosse pecado…

Quero ter razão. Ficar por cima. Entro na luta para sempre ter razão.

Outro dia, li um artigo de Juan Millás sobre como é infértil querer sempre ter razão: “Se você tem razão, não precisa ser sutil, inteligente ou educado. O fato de você ter razão o coloca por cima do bem e do mal. Conheço pessoas que amo e admiro, cujo único objetivo na vida é ter razão. Sinto uma terrível ternura por elas, pois elas me lembram épocas de minha vida em que eu mesmo precisava ter razão a todo custo. Desde então, sempre que vejo alguém levando a razão, me dá vontade de abraçar e fazer carícias nesta pessoa, dizendo-lhe que não acontece nada quando ela tem razão”.

Eu mesmo me pego tantas vezes querendo levar a razão… Tenho meus juízos bem gravados. E, se discuto sobre qualquer tema, mesmo que eu não o domine, nunca quero perder a razão. Não quero perder nenhuma batalha dialética.  Não quero me passar por ridículo.

Mas por que tenho tanto medo de ser ridículo? As humilhações me ferem, assim como o desprezo e o abandono. Sinto raiva por não saber o que todos sabem. É difícil para mim não estar à altura dos outros em relação aos temas que eu deveria dominar.

Quero que me admirem e se inclinem diante de mim em relação ao que eu domino. É tudo vaidade. Creio que, muitas vezes, entro nesta luta por causa do meu orgulho. Quero ter razão. Quero que quem me ama me dê razão.

Uma vez ou outra eu caio. Não quero perder uma discussão. Quero sempre estar por cima. Como se, por ter razão, eu fosse mais valioso. Ou mais feliz.

Ter sempre razão não me traz a felicidade. Quantas discussões inférteis que não levam a lugar algum! O amor verdadeiro não é construído sobre a razão.

Quem tem razão não ama mais. Talvez ame até menos. E procura no que lhe dá razão a tampa de suas feridas. Ou a cura. É uma demonstração de poder, inteligência, amor próprio. Não sei…

Quantas brigas posso evitar, dando a razão a quem quer tê-la? Não como os tontos. Mas com a consciência de estar construindo a paz.

Jesus nunca quis impor sua razão. Em quantas discussões ele se manteve em silêncio quando viu que não chegaria a lugar algum defendendo a verdade?

E é difícil para mim me calar quando creio que estou de posse da razão. Lanço-a como uma pedra ao coração de quem está ao meu lado. O silêncio vale mais que mil palavras.

Não sei por que tenho o coração tão desarmado, tão instável, tão desafiador. Talvez por isso eu precise que não me contrariem, que me aprovem sempre, que me enalteçam, que me elogiem.

É a ferida profunda do desamor. A ferida causada por algum desprezo guardado. Preciso que me aprovem.

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